UOL

São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

Texto Anterior | Índice

REGIME MILITAR

Ele é acusado de tortura

Alckmin erra ao manter delegado, diz Genoino

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente nacional do PT, José Genoino, disse ontem que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), erra ao manter em um cargo de confiança da Polícia Civil o delegado Aparecido Laertes Calandra ou capitão Ubirajara -codinome usado por ele durante o período em que comandou interrogatórios no DOI-Codi nos anos 70.
Ex-preso político e ex-guerrilheiro, Genoino evocou a imagem do governador morto Mário Covas para pedir "sensibilidade" ao governador paulista.
"Não pregamos o revanchismo. O que é errado é o delegado, que chefiou uma das equipes mais temidas e violentas na prisão, ocupar um cargo tão delicado. Alckmin poderia fazer, no mínimo, o que Covas fez."
No governo Covas, Calandra ficou restrito a funções meramente administrativas no extinto DSC (Departamento de Comunicação Social). Em 1995, quando foi convidado a chefiar uma divisão do Detran, teve sua promoção vetada pelo então governador. Continuou no DSC, onde se dedicava a apurar informações sobre os novos integrantes da Polícia Civil.
Com a extinção do DSC, em 2000, foi transferido para o Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos), também para funções burocráticas.
Em outubro do ano passado, com a criação do Dipol (Departamento de Inteligência da Polícia Civil), Calandra assumiu um posto de confiança: principal assessor do delegado diretor do órgão, Massilon José Bernardes Filho. No cargo, concentra todas as informações sigilosas que passam pela Polícia Civil paulista, inclusive as escutas telefônicas.
No organograma da segurança pública de São Paulo, o departamento de Calandra está subordinado ao gabinete do delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, subordinado, por sua vez, ao secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, ambos indicados por Alckmin.
"Como funcionário público, o delegado não pode ser demitido. Mas o que as pessoas querem é que ele não seja premiado, que não ocupe uma função tão delicada", disse Genoino.

Confissão
Para o presidente do PT e para a ex-presa política e ex-militante do MR-8 Nádia Lúcia Nascimento, que acusa o capitão Ubirajara de tortura, Calandra "incorporou" o espírito militar do passado ao chamar Maria Amélia de Almeida Teles de "terrorista".
Em entrevista à Folha, anteontem, Calandra elevou o tom da conversa para afirmar que Teles, também ex-presa política -que o reconheceu em uma foto datada de 2001 como um dos torturadores-, é uma "terrorista".


Texto Anterior: Forças armadas: Aeronáutica cobra mais recursos de Lula
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.