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Dilma questiona autenticidade de ficha
Ministra diz que uma das reproduções de papéis publicadas pela Folha sobre sua prisão na ditadura é "montagem recente"
Na sua reportagem, a Folha informava, na legenda sob a reprodução da ficha, que Dilma não havia cometido os crimes a ela imputados
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM BELO HORIZONTE
A ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) questionou a autenticidade de um dos documentos referentes à sua prisão
pelo regime militar publicado,
com outros quatro, em reportagem da Folha no último dia 5.
Segundo a ministra, a ficha
em que ela aparece qualificada
como "terrorista/assaltante de
bancos" e da qual consta o carimbo "capturado" sobre a sua
foto é uma "manipulação recente". Dilma disse que o documento não consta dos arquivos
em que ela mandou pesquisar.
"A ficha é falsa, é uma montagem. (...) Estou, atualmente,
numa discussão, tentando ver
com a Folha de S.Paulo de onde eles tiraram aquela ficha,
porque até agora ela não está
em nenhum dos arquivos que
pelo menos nós olhamos. Então, ela não é produto nem daquela época, ela é produto recente, manipulado, de órgãos
ou de interesses escusos daqueles que praticaram esses
atos no passado", disse a ministra em entrevista à radio Itatiaia, de Belo Horizonte.
Ex-integrante do movimento VAR-Palmares, adepto da
luta armada contra a ditadura,
Dilma negou participação em
ações criminosas realizadas em
São Paulo e atribuídas a ela na
ficha. "Eu nunca militei em São
Paulo nesse período que eles
relatam na ficha. Eu morava
em Minas. Tem datas aí [na ficha], de 1968, que eu não só
morava aí [em BH] como estudava na Faculdade de Ciências
Econômicas da UFMG. Tinha
endereço certo e sabido."
Na sua reportagem, a Folha
informava, na legenda sob a reprodução do documento, que a
ministra não havia cometido
crimes a ela imputados.
Dilma disse ainda que, embora tenha ficado presa por
seis anos, "infelizmente ou felizmente", nunca foi julgada
por participação em ações armadas. "Nunca fui julgada por
nenhuma ação armada ou por
um assalto a banco, porque as
minhas circunstâncias foram
essas, não os cometi."
A ministra disse que a ficha
"cumpre uma função similar
àquela da pergunta que me foi
feita no Senado", referindo-se
ao questionamento que lhe fizera o senador Agripino Maia
(DEM-RN), em maio de 2008,
sobre ela ter mentido em seus
depoimentos durante os interrogatórios no regime militar.
Na ocasião, Dilma respondeu: "Não é possível supor que
se dialogue no choque elétrico,
no pau-de-arara. Qualquer
comparação entre a ditadura
militar e a democracia brasileira só pode partir de quem não
dá valor à democracia".
Senado
Ontem, após recordar o episódio do Senado, ela disse: "A
minha situação fica bastante
desagradável para aqueles que
defendem ou que houve ditadura branda no Brasil ou que
no Brasil havia uma regularidade, naquele período, democrática. Nem uma coisa nem outra.
Naquela época se torturava, se
matou, se prendeu".
Ao falar em "ditadura branda", Dilma fazia alusão também
ao termo "ditabranda", empregado recentemente em editorial da Folha, que o jornal reconheceu ter sido inapropriado,
reafirmando seu repúdio a
qualquer ditadura, de direita
ou de esquerda.
Dilma completou: "Muitas
vezes as pessoas eram perseguidas e mortas... E presas por
crime de opinião e de organização, não necessariamente por
ações armadas. O meu caso não
é de ação armada. O meu caso
foi de crime de organização e
de opinião, que é, vamos dizer
assim, a excrescência das excrescências da ditadura".
Nota da Redação - Tão logo
a ministra colocou em dúvida a autenticidade de uma
das reproduções publicadas, a Folha escalou repórteres para esclarecer o caso
e publicará o resultado dessa apuração numa próxima
edição.
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