São Paulo, Domingo, 18 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Documentos apreendidos pelo Ministério Público no apartamento de Francisco Lopes sugerem esquema
Papéis são "graves", dizem procuradores

gem MÔNICA CIARELLI
da Sucursal do Rio


Dois procuradores da República disseram ontem à Folha que foram encontrados na casa do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes documentos ""tão graves" -na expressão usada por eles- quanto a cópia de um suposto bilhete do dono do Banco Marka, Salvatore Alberto Cacciola, para Lopes.
O bilhete, cuja existência foi revelada ontem pela Folha, foi encontrado durante operação de busca e apreensão feita quinta-feira pela Polícia Federal e o Ministério Público na casa de Cacciola.
Os procuradores, com a condição de não terem os nomes identificados, disseram que o teor dos documentos obtidos no apartamento de Lopes aumenta os indícios de que existiria um esquema de compra de informação privilegiada no Banco Central.
Os papéis foram recolhidos anteontem pelo Ministério Público Federal, numa operação que também teve a participação da PF.
Os dois procuradores disseram que anteontem um funcionário do Senado foi à Procuradoria da República no Rio pedindo para ver os documentos apreendidos.
Ao saber que não poderia analisar os papéis antes de estes serem periciados pelo Ministério Público Federal, o funcionário teria protestado contra os procuradores.
No bilhete encontrado na casa de Cacciola, que a revista "IstoÉ" publica nesta semana, o banqueiro reclamava de que o então diretor de Fiscalização do BC, Cláudio Mauch, estaria dificultando a liberação de dinheiro para socorrer o Marka após a desvalorização cambial (leia íntegra nesta página).
No final, o texto diz que, se tudo fosse resolvido, o banqueiro deixaria o mercado financeiro. "Para recomeçar minha vida e esquecer tudo", escreveu. As últimas duas palavras estão sublinhadas.
O BC vendeu dólares ao Marka no dia 14 de janeiro a R$ 1,275 -o bilhete sugere que Cacciola queria R$ 1,25-, quando o teto da banda cambial estava em R$ 1,32. No dia seguinte, Mauch pediu demissão, mas depois voltou atrás. A Folha não localizou Mauch ontem.
A existência do bilhete foi confirmada pelo procurador da República Maurício Manso, um dos que participaram da operação de busca na casa de Cacciola.
Após tomar conhecimento do teor do bilhete, os procuradores do Rio pediram à 6ª Vara Federal para expedir um mandado de busca na casa do ex-presidente do BC e na consultoria Macrométrica.
Lopes foi sócio da empresa e se afastou para assumir a Diretoria de Política Monetária do BC. Manso afirmou que Lopes ainda mantinha contato com a consultoria.


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