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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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FIM DO SILÊNCIO

Ciro pede mudanças na política econômica

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) saiu ontem mais uma vez do recente "silêncio" a que tem se imposto nos últimos meses e cobrou a adoção de uma nova política econômica para o país, além de avaliar que as reformas constitucionais, embora sejam coerentes e caminhem no rumo certo, não chegam a 50% do que seria o ideal.
"O que eu quero dizer é que o acerto tático destes passos [austeridade econômica], que é flagrante, não nos deve tirar a percepção clara de que isso não significa um acerto estratégico", afirmou Ciro durante discurso no encontro nacional do seu partido, o PPS, iniciado ontem em Brasília.
Segundo o ministro, o governo não tinha outra opção econômica devido a um grande risco de quebra do país durante os primeiros passos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
"O manejo macroeconômico tático era, digamos assim, o necessário, o possível, o indispensável, dado a situação de caos, de descalabro e de anarquia em que se encontrava as finanças brasileiras quando tomou posse o companheiro Lula", afirmou.
Ao fazer a análise, porém, Ciro emendou declarações que caracterizam um dos pontos de sua personalidade, a de não deixar de tocar em pontos polêmicos. "O que haveria de pior para acontecer no Brasil era, ao vermos os acertos táticos inequívocos do governo, da gestão do ministro [Antonio] Palocci [Fazenda], que tem sido de uma grande felicidade na administração desta bomba que estava próxima a explodir, é a sensação de que estamos acertamos e que, portanto, o caminho é este. Não é."
Desde que assumiu o ministério, Ciro -candidato derrotado à Presidência- evita dar declarações sobre outras áreas do governo, mas é um dos principais interlocutores do presidente nos assuntos econômicos e de planejamento.
Ele afirmou também que "o que fizemos foi desarmar a bomba, ganhar um tempo, salvar o país do caos que se sequenciaria à ruptura do crédito, isto é muita coisa, mas não nos deve tirar em nenhum minuto a disciplina de refletirmos sobre um outro modelo econômico".
O ministro disse que um cenário ideal desse novo modelo econômico deve levar em conta um crescimento anual do PIB (Produto Interno Bruto) em torno de 5%. Na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), o governo prevê um máximo de 4,5% para os próximos anos.

Reformas
Em relação às reformas, Ciro afirmou que elas estão no caminho certo, mas que não puderam ser completas devido a uma série de fatores, incluindo a necessidade de composição política com uma ampla gama de interesses e à dificuldade econômica encontrada por Lula em janeiro.
De uma escala até cinco em profundidade, Ciro disse que a reforma da Previdência chega a dois e a tributária, a um. "Não sendo aquilo que deveria ser uma reforma definitiva da Previdência, ela não é contraditória. Em direção a uma escala de cinco em profundidade, essa reforma vai a dois, mas o importante é que esses dois não são incoerentes com o caminho correto", afirmou.
Já em relação à reforma tributária, o ministro disse que a distância do ideal é mais "dramática", já que pontos como um sistema tributário mais progressivo, eliminação da informalidade, criação de base de contribuintes e eliminação da carga tributária sobre a produção teriam ficado de fora da proposta.
Segundo Ciro Gomes, "uma reforma tributária verdadeira e profunda teria que consertar a anarquia e o caos no ICMS [o que aconteceu, na visão do ministro]. Naquela figura de uma reforma de profundidade cinco, essa, coerentemente com o rumo, é de profundidade um."


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