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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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Comportamento esquivo é opção do presidente

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda uma forma para iniciar contatos regulares com a imprensa, aos quais ele ainda resiste. O Planalto não sabe como esse contato seria feito, se em entrevistas coletivas, exclusivas ou em conversas reservadas. O comportamento refratário a entrevistas, que ele não concede desde a posse, é decisão pessoal de Lula.
Segundo a Folha apurou junto a interlocutores do presidente, a distância que o petista adotou em relação à imprensa tem basicamente três motivos:
1) Lula acha que não está precisando da intermediação de jornalistas para transmitir suas mensagens. Crê que está muito forte politicamente, com a popularidade em alta, e que bastam seus discursos em solenidades e declarações rápidas em viagens para ter espaço nas TVs, rádios e jornais.
2) Há uma dose de contrariedade com a imprensa, especialmente a escrita. Lula, segundo seus interlocutores, crê que tem sido cobrado prematuramente. Uma crítica que o contraria é a de que repete pura e simplesmente o governo Fernando Henrique Cardoso na economia, priorizando as políticas monetária e fiscal em detrimento do crescimento. Ele também julga que seus ministros frequentemente são pautados pela imprensa e antecipam medidas ainda não maduras.
3) O presidente também avalia que ainda não tem muito o que mostrar em termos de "agenda positiva". Quer tirar do papel medidas como o programa Fome Zero e aprovar as reformas tributária e previdenciária para ter o que argumentar nas conversas com jornalistas mais críticos.
A união desses três motivos tem criado uma verdadeira barreira para que seus homens de comunicação, o ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica) e Ricardo Kotscho (Secretaria de Imprensa e Divulgação), abram espaço na agenda presidencial para os jornalistas.
Até as recentes reportagens ressaltando a distância das entrevistas, como a publicada na última sexta-feira pelo jornal "Valor Econômico", Lula tinha uma resposta pronta para o tema, segundo pessoas próximas: "Ainda não está na hora".
Desde que foi eleito, Lula só falou com veículos de comunicação do Brasil para o pagamento de faturas políticas e afetivas, de acordo com auxiliares. Logo após a vitória, antes da posse, concedeu duas entrevistas exclusivas à Rede Globo, nos programas "Fantástico" e "Jornal Nacional". Foi um reconhecimento ao que a cúpula do governo chamou de "comportamento isento" da Globo nas eleições. Oficialmente, a rede afirmou que a entrevista estava combinada com a assessoria de todos os candidatos, ganhasse quem ganhasse.
Nas três derrotas que sofreu, Lula sempre considerou que a Globo teve um comportamento parcial. O caso mais emblemático foi a edição do último debate entre ele e Fernando Collor, na eleição de 1989.
(KENNEDY ALENCAR)


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