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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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VELHO PADRÃO

Extração é clandestina

Ouro é moeda de troca em novo garimpo no PA

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Usando máscara de mergulho e chupeta ligada ao compressor de ar, garimpeiro opera bomba usada para sugar fundo do rio Xingu


MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALTAMIRA (PA)

Nem real nem dólar. Em um garimpo clandestino recém-surgido no meio do rio Xingu (PA), tudo é comercializado em ouro.
Cerca de 500 pessoas, entre elas uns 360 garimpeiros, organizaram uma vila à beira do garimpo -batizado como Jurucuá, por causa de uma cachoeira com o mesmo nome nas proximidades.
Pelo menos 60 balsas sugam o fundo do rio dia e noite. Os garimpeiros afirmam que o ouro encontrado no fundo do rio atinge grau de pureza de até 96, considerado bom para a venda. O minério ainda não foi encontrado em forma de pepitas, mas misturado entre a areia, a terra e o cascalho dragados.
A comida, a diversão e o salário são pagos em ouro, como testemunhou a reportagem da Agência Folha, que esteve no garimpo.
Uma refeição, por exemplo, vale um décimo de grama, o equivalente a R$ 3,40. Pela cotação do mercado, o grama do ouro fechou anteontem em R$ 34,20.
Para facilitar o pagamento, os garimpeiros abrem contas nas oito mercearias da vila, que vendem também bebidas alcoólicas e mantimentos trazidos de barco de Altamira, em uma viagem que leva três horas e meia. Sete cervejas valem um grama de ouro.
O programa com uma das cerca de 20 prostitutas do local, por exemplo, sai por meio grama ou até um grama de ouro.
O tráfico de drogas já chegou ao garimpo. A droga mais consumida por parte dos garimpeiro é a pasta de cocaína. Um papelote é vendido por meio grama de ouro.
Até hoje nenhuma autoridade ambiental esteve no garimpo, e os garimpeiros não têm registro ou autorização para trabalhar na área. O garimpo já existe há quatro meses.
"Tirei o motor do meu caminhão para instalar na balsa e vir para este garimpo em busca do ouro. Já havia oito anos que estava afastado da garimpo e trabalhando na roça. Mas é como um vício. Basta o garimpeiro ouvir falar que apareceu ouro em algum lugar para vir correndo", disse Luiz Martins, 60.
Para montar uma balsa, o garimpeiro-empresário gasta entre R$ 23 mil e R$ 30 mil, incluindo uma voadeira (barco pequeno com motor), equipamento de mergulho e um motor acoplado a um tubo de ar de 200 milímetros, que puxa o cascalho e a areia do fundo do rio. Cada balsa tem seis garimpeiros mergulhadores, que se revezam em dois grupos de três homens e em turnos de 18 horas ou 24 horas no meio do rio Xingu.
Cada balsa -com estrutura de madeira e coberta com lona- tira entre 20 e 60 gramas de ouro por dia do rio, mas algumas balsas já chegaram a tirar até 100 gramas no mesmo período.
Os seis garimpeiros que trabalham na balsa dividem 40% do total retirado no dia. Os outros 60% ficam com o proprietário da balsa. O grama do ouro é vendido em Altamira entre R$ 28 e R$ 29.


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