São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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Esquerda do PT endossa comissão

Sérgio Lima/Folha Imagem
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para quem a abertura de CPI é desnecessária


LEILA SUWWAN
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputados do PT desobedeceram a orientação do partido e engrossaram a lista de assinaturas pela abertura da CPI dos Correios. Os 13 deputados, que integram a ala esquerda da legenda, se reuniram pela manhã e decidiram assinar o requerimento da oposição. "Para nós, não há transigência na questão ética. Queremos investigar", disse Chico Alencar (PT-RJ).
Pela manhã, o líder do partido foi enfático: "A bancada não tomou posição, então esses deputados não estão autorizados a assinar CPI", disse Paulo Rocha (PA).
Apesar disso, pelo menos 5 dos 13 deputados do grupo já haviam assinado o requerimento no fim do dia. O PT tem 91 deputados. "A Polícia Federal e o Ministério Público vão apurar? Legal, mas o Legislativo também tem de apurar", disse Walter Pinheiro (PT-BA).
O presidente nacional da legenda, José Genoino, esteve na reunião e se declarou contra a CPI agora, sob o argumento de que o governo já determinou investigação, mas não quis polemizar. No Senado também pode ter havido dissidências entre petistas, mas nomes não foram divulgados.
O recolhimento de assinaturas no Congresso havia começado na segunda, mas o maior número delas foi obtido ontem. Os líderes da oposição prometem divulgar os números finais hoje. Tucanos e pefelistas querem manter em sigilo o nome de governistas que assinaram o documento, já que o Palácio do Planalto pressiona para evitar a CPI.

Discurso
Governo e oposição viram de forma distinta os efeitos do discurso de Roberto Jefferson (PTB-RJ) feito ontem na tribuna da Câmara, no qual ele se defendeu das acusações de envolvimento em um esquema de cobrança de propina nos Correios.
"Jefferson se saiu bem. Nem os opositores mais duros do governo questionam a ética do deputado", disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
"O discurso do deputado reforça de vez a necessidade de CPI. O próprio Jefferson pede e assina o pedido", rebateu o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da oposição.
O PTB contribuiu com várias assinaturas pela CPI, inclusive a do próprio Roberto Jefferson. O PPS também decidiu apoiar a investigação.
A Câmara vai agora checar as assinaturas para determinar se o número mínimo (um terço em cada Casa) foi mesmo atingido. Em caso positivo, bastará que os partidos indiquem os integrantes da comissão. Vale lembrar que assinaturas podem ser retiradas por seus autores.
No ano passado, apesar de o número necessário de assinaturas ter sido atingido, a CPI dos bingos não foi aberta. Isso porque nem os partidos governistas nem o então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), indicaram os integrantes. A oposição recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal), que ainda analisa o caso.
Apesar do aparente sucesso, a oposição na Câmara recuou na intenção de pedir que a investigação abrangesse outras estatais, além dos Correios. "O fato concreto é tentar pegar os Correios. Se, no decorrer das investigações, aparecerem outros fatos, outras quadrilhas, faz-se um aditamento", afirmou Alberto Goldman (SP), líder do PSDB.

Iceberg
Na tribuna do Senado, em acalorado debate entre governo e oposição, o caso do Correios foi classificado como "repugnante", "podridão", "mar de lama", "promiscuidade entre aliados e estatais" e "ponta do iceberg".
Governistas tentaram minimizar a gravidade do caso. "Quero uma apuração rigorosa. O que eu não aceito é apressadamente transformar uma corrupção de R$ 3.000 de terceiro escalão em investigação sobre todas as estatais", disse o líder do governo, Aloizio Mercadante (SP).


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