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CRISE DOS CORREIOS
Ex-chefe dos Correios suspeito de receber propina afirma em gravação que Novadata fez "acertos" para tentar vencer uma licitação
Empresa de amigo de Lula é citada em vídeo
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-chefe do Departamento de
Compras e Administração de Materiais dos Correios em Brasília,
Maurício Marinho, afirma, no vídeo em que foi flagrado recebendo propina de dois supostos empresários, que a empresa de informática Novadata, pertencente a
Mauro Dutra, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez
"acertos" com servidores de pelo
menos duas áreas dos Correios
para obter reajuste de R$ 5,5 milhões no valor de um contrato e
tentar vencer uma licitação.
No vídeo de uma hora e 54 minutos, Marinho afirma ainda que
vinha sendo procurado por Antônio Pedreira, candidato a presidente da República em 1989 pelo
nanico Partido do Povo Brasileiro. Na fita, que teve trechos revelados pela revista "Veja", Marinho identifica Pedreira como
"consultor" de um grupo de empresas interessadas em contratos
nos Correios e "amigo" do ministro das Comunicações, Eunício
Oliveira (PMDB-CE), e que teria
um "bom relacionamento" com o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas não o
associa ao pagamento de propina.
Marinho afirma que a diretoria
de Administração dos Correios,
da qual fazia parte, foi mobilizada
para garantir à Novadata um aditivo contratual, permitindo um
adicional de R$ 5,5 milhões no
fornecimento de computadores
aos Correios. O contrato, de junho de 2002, tinha valor original
era de R$ 98 milhões.
A Novadata confirmou ontem,
por meio de sua assessoria de imprensa, que participou de uma
negociação com os Correios para
reajustar o preço do contrato (leia
texto nesta página).
Mauro Dutra é um dos principais fornecedores de informática
de órgãos diversos do governo federal e amigo de Luiz Inácio Lula
da Silva. O presidente passou o
Réveillon de 2001 na mansão de
Dutra, na praia de Búzios (RJ).
De acordo com o relato de Marinho, a Novadata enfrentava dificuldades para obter uma correção
no pagamento dos dois últimos
lotes de computadores. Reclamava reajuste por causa da disparada
do dólar -no ato da assinatura
do contrato, o dólar valia R$ 3,28
e, na entrega, estava em R$ 3,62,
sempre segundo Marinho. A negociação consumiu dois anos. Segundo a Novadata, o dólar valia
R$ 2,65 na assinatura do contrato.
Para obter o aditivo, a empresa
teria procurado Antônio Osório
Menezes Batista, diretor de administração, que teria determinado
um estudo a respeito. O problema
teria sido então resolvido após essa "blindagem" da Novadata. No
vídeo, os dois supostos empresários e Marinho travam o seguinte
diálogo:
"Empresário" - E a Novadata
acertou daí direto com a diretoria...
Marinho - Foi direto com a diretoria.
"Empresário" - ...Ou foi com você?
Marinho - Não, foi eu, o diretor
[de Administração, Antônio Osório] e o Godoy [Fernando Godoy,
assessor-executivo de Osório].
Em outro trecho do vídeo, Marinho conta como a Novadata
tentou vencer uma licitação avaliada entre R$ 50 milhões e R$ 60
milhões após fazer "acertos" com
outra área dos Correios, "a Tecnologia".
"Na última licitação que eles
pensavam que iam ganhar, aí que
veio um problema. Não tinha nada acertado aqui. Eles acertaram
com a Tecnologia", conta Marinho, na gravação.
Em outro trecho da conversa,
Marinho narra ter feito "acerto"
com um empresário supostamente representante da Siemens,
grande fornecedora de material
de informática para os Correios.
Segundo Marinho, ele chegou a se
encontrar com esse empresário
na cobertura de um hotel, em Brasília, mas no outro dia "pessoas da
diretoria" comentaram o encontro entre os dois.
Marinho disse que essa foi uma
das razões pelas quais teria optado por tratar de assuntos de propina em sua própria sala, no edifício-sede dos Correios, em Brasília. A conversa gravada ocorreu
na sala de Marinho, no primeiro
andar do prédio. Segundo o deputado federal Roberto Jefferson
(PTB-RJ), padrinho político de
Osório, a conversa ocorreu no dia
14 de abril deste ano.
Para chegar a Marinho, os dois
interlocutores apresentaram-se
como representantes de uma suposta empresa denominada
"Hallcomb Brasil", que por sua
vez representaria uma empresa
da Alemanha chamada "Global
Enterprise International".
Os "empresários" diziam ter interesse em obter contratos nos
Correios e queriam ter "uma pessoa para conversar". Então Marinho afirma que ele é a pessoa correta para os acertos. Diz que não é
filiado ao PTB, mas é esse partido
que lhe dá "cobertura".
Depois que tudo ficasse "acertado", segundo Marinho, ele poderia resolver qualquer problema
porque teria "acesso direto ao
presidente [dos Correios], ao partido [PTB] e aos diretores".
Marinho explica que todos os
contratos dos Correios passam
pelo seu departamento, que teria
a função de instruir os processos,
acompanhar a execução e decidir
por multas a empresas que descumprem os contratos. E ele teria
sido escolhido para ter o papel
"estratégico" de acertar propinas
com os fornecedores.
"É uma coisa que eles estão
ajustando para evitar bater cabeças (...). O cara vai lá acertar um
negócio, não tem autoridade para
isso, aí o diretor lá: "Peraí, que negócio é esse?'", conta o servidor.
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