São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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EROSÃO NA BASE

Candidato apoiado pelo presidente da Câmara para vaga de ministro do tribunal venceu deputado petista

No TCU, Severino impõe nova derrota a Lula

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de duas semanas depois da última derrota na Câmara dos Deputados, o governo sofreu novo revés ontem e para o mesmo adversário. O presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), conseguiu emplacar o seu candidato para a vaga de ministro do TCU com uma votação quase igual à soma obtida pelos dois candidatos apoiados pelo Palácio do Planalto.
O deputado Augusto Nardes (PP-RS) foi escolhido para integrar o TCU (Tribunal de Contas da União) por 203 votos contra 137 de José Pimentel (PT-CE) e 75 de Osmar Serraglio (PMDB-PR), esses dois últimos apoiados pelo Palácio do Planalto.
A votação foi secreta. Um quarto candidato, Carlos Nader (PL-RJ), obteve 55 votos. Houve sete cédulas em branco. O nome do pepista ainda tem que ser aprovado pelo Senado.
"O deputado Nardes foi candidato da maioria da Casa, não foi o candidato do deputado Severino Cavalcanti. Apenas o deputado Severino foi eleitor dele, a diferença é essa. E todos os outros acompanharam o voto do deputado Severino Cavalcanti", disse o próprio Severino após a sessão.
Ele disse achar que o governo estaria muito feliz com o resultado. "Não existe derrota nenhuma do governo, o governo está forte, amanhã [hoje] vamos tomar um café com o presidente da República e tenho certeza de que ele está feliz com a vitória do Nardes", afirmou Severino.
O fato é que a derrota palaciana era prevista desde o último dia 5, quando também em votação secreta o governo foi derrotado na indicação do membro da Câmara para o órgão de fiscalização do Poder Judiciário.
O candidato do ministro Marcio Thomaz Bastos (Justiça), Sérgio Renault, foi derrotado pelo nome do PSDB e do PFL, Alexandre de Moraes, por 183 votos a 154. Moraes teve o apoio de Severino, que emplacou ainda um apadrinhado para o conselho de controle do Ministério Público.
Desde então, o Palácio do Planalto vinha tentando fazer um de seus dois candidatos, Pimentel ou Serraglio, renunciar em nome do outro. A articulação fracassou, o que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a dizer ontem, em reunião com líderes aliados, que não tinha candidato ao TCU.

"Faz parte"
Desde que foi eleito para a presidência da Câmara dos Deputados derrotando o petista Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), em fevereiro, Severino é fonte de dor de cabeça para o Planalto.
O deputado petista derrotado evitou criticar o governo, afirmando que a derrota "faz parte da vida". "O que houve foi falta de voto. Faz parte da vida. Eleição não é nomeação", afirmou Pimentel, que acompanhou a votação no plenário.
Já Nardes disse que sua vitória se deu porque ele teria uma atuação de independência em relação ao governo.
"O fato de ser um deputado que sempre teve independência me ajudou porque a Câmara procura alguém com vínculo com a Casa. A Câmara escolheu aquele com maior independência", disse.
Aos 52 anos, Nardes é formado em administração de empresas, com mestrado na área. Ele sofreu há alguns anos processo no Supremo Tribunal Federal devido à acusação de que não teria colocado em sua prestação de contas uma doação de R$ 20 mil recebida nas eleições de 1998.
O processo foi suspenso sem julgamento devido a um acordo entre o deputado e o Ministério Público Federal. Por esse acerto, Nardes se comprometeu a realizar palestras sobre democracia em escolas públicas e a depositar R$ 1.000 para o programa Fome Zero, do governo federal.


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