São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006

Presidente vê "mancomunação" entre polícia e PCC; tucano aponta "omissão" do governo federal

Criticado, Alckmin reage e diz que Lula é mesquinho na crise

DA REPORTAGEM LOCAL

DA FOLHA RIBEIRÃO

DOS ENVIADOS A GOIÁS

A crise de segurança em São Paulo motivou ontem a mais áspera troca de acusações da campanha eleitoral entre o tucano Geraldo Alckmin e o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Pela manhã, citando informações da imprensa, Lula criticou o governo de São Paulo por negociar com a facção PCC e insinuou que a polícia está "mancomunada" com os criminosos.
"Pelas reportagens que vi ontem [anteontem], parece que havia mancomunação [combinação] entre polícia e bandido, acordos ou não-acordos", disse Lula, em entrevista, após vistoriar obras da rodovia BR-060 no interior de Goiás.
Alckmin, em resposta, chamou o presidente de "mesquinho" e de "omisso" no combate ao crime organizado. Em nota, o tucano afirmou que Lula é "cúmplice" da situação de crise porque "nunca fez nada de prático contra criminalidade".
O enfrentamento se acentuou com a manifestação do ministro Tarso Genro (Coordenação Política), em Brasília, que atribuiu a Alckmin e ao governador Cláudio Lembo (PFL) toda a responsabilidade pela onda de violência no Estado. A declaração provocou protestos de parlamentares do PSDB (leia texto na página A5).
Lula afirmou, na entrevista, que considera grave a situação de São Paulo por "mostrar o peso do crime organizado". O presidente criticou a "pressa de alguns e a omissão de outros" ao tratar de medidas para responder às ações violentas e disse que os fatos são reflexo da falta de investimentos em educação nos últimos 40 anos.
Lula justificou a atuação da União, dizendo que cabe a ela apenas oferecer ajuda. "O que precisa ficar claro é que a parte que o governo federal poderia fazer, oferecemos [ajuda] ao governador Cláudio Lembo."
"Ficamos preocupados porque não pode, definitivamente, o crime organizado ter mais força do que a sociedade, a polícia, o Estado e a União. Não pode. Precisamos prestar mais conta do que acontece na segurança."

Resposta
"Há dois dias, o Lula falou que não "haveria nenhum mesquinho no Brasil capaz de querer fazer uso eleitoral desses atentados". Tem sim. O próprio Lula com essas declarações de agora", disse a nota de Alckmin, em referência aos comentários feitos pelo presidente em Goiás.
O ex-governador disse ainda que "Lula desrespeita e ofende o povo de São Paulo" e apelou para os brios da polícia. "Ele sempre foi omisso nessa questão de segurança. E nesse caso de agora, pior. Lula nunca condenou o crime organizado, nunca falou uma palavra condenando os atentados covardes. Policiais de São Paulo foram mortos pelas costas. E o que faz o presidente? Lula preserva as quadrilhas criminosas e vem atacar a polícia paulista. É inadmissível."
Alckmin relembrou ainda o escândalo do mensalão ao afirmar que "o governo federal tem maioria no Congresso para absolver mensaleiros, mas não coloca essa maioria para votar os projetos de combate ao crime".
Segundo a Folha apurou, o comando da campanha de Alckmin ficou abalado com o resultado da pesquisa Datafolha -segundo a qual 37% dos paulistanos consideram que o ex-governador tem "muita responsabilidade" pelos ataques do PCC. Para tucanos, os atentados da facção criminosa podem tirar de Alckmin a bandeira da firmeza no combate ao crime organizado.
Lula também foi considerado muito responsável por 39% dos entrevistados pelo Datafolha, mas os efeitos da crise em sua campanha tendem a ser menores para o petista, já que a questão da segurança pública nunca foi central em sua estratégia de campanha.

Convenção
Antes de partir para o ataque, Alckmin havia dito, ontem pela manhã, que estava "zen" e que sua campanha não iria mudar. A afirmação foi feita em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, onde participou da 13ª Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação): "Nós estamos trabalhando bastante e vamos fazer a convenção em Minas Gerais no dia 10 de junho, que é o primeiro dia para isso e é aí que vai começar a campanha. Estou absolutamente zen, não tenho dúvida de que o Brasil vai mudar".
Ao ser questionado sobre um suposto encontro de cardeais tucanos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Aécio Neves (MG) para discutir mudanças na sua campanha, atacou a imprensa. "Não tem nenhuma alteração, imagine. Eu estive com o Aécio. Vocês [imprensa] mudam as palavras das pessoas. É impressionante. A cobertura da eleição presidencial no Brasil é fofoca, é intriga."

"Teste com metalúrgico"
Ao discursar de improviso na reabertura de um hospital de Ceres (GO), Lula disse que somente foi eleito presidente porque o "povo queria fazer um teste com um metalúrgico".
Disse ainda que sua capacidade de governar é superior a de seus antecessores e reafirmou que quatro anos são insuficientes para resolver os problemas do país.
Lula pediu licença para falar da crise de violência. "Por que eu vim aqui na inauguração de um hospital e estou falando de educação? Porque, neste final de semana, todos nós, brasileiros, fomos pegos de surpresa com os bandidos dentro da cadeia mandando bandidos fora da cadeia matar gente de bem, soldados e pessoas que trabalham para ganhar o pão de cada dia."
Ele criticou a pressa de autoridades para anunciar pacotes de medidas como uma forma de responder à "desgraça" dos ataques. Segundo ele, quando há casos como o do PCC, muitos aparecem com "solução no bolso do colete". (CATIA SEABRA, MARCELO TOLEDO, EDUARDO SCOLESE E LUCIANA CONSTANTINO)


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