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ELEIÇÕES 2006
Presidente vê "mancomunação" entre polícia e PCC; tucano aponta "omissão" do governo federal
Criticado, Alckmin reage e diz que Lula é mesquinho na crise
DA REPORTAGEM LOCAL
DA FOLHA RIBEIRÃO
DOS ENVIADOS A GOIÁS
A crise de segurança em São
Paulo motivou ontem a mais áspera troca de acusações da campanha eleitoral entre o tucano Geraldo Alckmin e o petista Luiz
Inácio Lula da Silva.
Pela manhã, citando informações da imprensa, Lula criticou o
governo de São Paulo por negociar com a facção PCC e insinuou
que a polícia está "mancomunada" com os criminosos.
"Pelas reportagens que vi ontem [anteontem], parece que havia mancomunação [combinação] entre polícia e bandido, acordos ou não-acordos", disse Lula,
em entrevista, após vistoriar
obras da rodovia BR-060 no interior de Goiás.
Alckmin, em resposta, chamou
o presidente de "mesquinho" e de
"omisso" no combate ao crime
organizado. Em nota, o tucano
afirmou que Lula é "cúmplice" da
situação de crise porque "nunca
fez nada de prático contra criminalidade".
O enfrentamento se acentuou
com a manifestação do ministro
Tarso Genro (Coordenação Política), em Brasília, que atribuiu a
Alckmin e ao governador Cláudio
Lembo (PFL) toda a responsabilidade pela onda de violência no
Estado. A declaração provocou
protestos de parlamentares do
PSDB (leia texto na página A5).
Lula afirmou, na entrevista, que
considera grave a situação de São
Paulo por "mostrar o peso do crime organizado". O presidente criticou a "pressa de alguns e a omissão de outros" ao tratar de medidas para responder às ações violentas e disse que os fatos são reflexo da falta de investimentos em
educação nos últimos 40 anos.
Lula justificou a atuação da
União, dizendo que cabe a ela
apenas oferecer ajuda. "O que
precisa ficar claro é que a parte
que o governo federal poderia fazer, oferecemos [ajuda] ao governador Cláudio Lembo."
"Ficamos preocupados porque
não pode, definitivamente, o crime organizado ter mais força do
que a sociedade, a polícia, o Estado e a União. Não pode. Precisamos prestar mais conta do que
acontece na segurança."
Resposta
"Há dois dias, o Lula falou que
não "haveria nenhum mesquinho
no Brasil capaz de querer fazer
uso eleitoral desses atentados".
Tem sim. O próprio Lula com essas declarações de agora", disse a
nota de Alckmin, em referência
aos comentários feitos pelo presidente em Goiás.
O ex-governador disse ainda
que "Lula desrespeita e ofende o
povo de São Paulo" e apelou para
os brios da polícia. "Ele sempre foi
omisso nessa questão de segurança. E nesse caso de agora, pior. Lula nunca condenou o crime organizado, nunca falou uma palavra
condenando os atentados covardes. Policiais de São Paulo foram
mortos pelas costas. E o que faz o
presidente? Lula preserva as quadrilhas criminosas e vem atacar a
polícia paulista. É inadmissível."
Alckmin relembrou ainda o escândalo do mensalão ao afirmar
que "o governo federal tem maioria no Congresso para absolver
mensaleiros, mas não coloca essa
maioria para votar os projetos de
combate ao crime".
Segundo a Folha apurou, o comando da campanha de Alckmin
ficou abalado com o resultado da
pesquisa Datafolha -segundo a
qual 37% dos paulistanos consideram que o ex-governador tem
"muita responsabilidade" pelos
ataques do PCC. Para tucanos, os
atentados da facção criminosa
podem tirar de Alckmin a bandeira da firmeza no combate ao crime organizado.
Lula também foi considerado
muito responsável por 39% dos
entrevistados pelo Datafolha, mas
os efeitos da crise em sua campanha tendem a ser menores para o
petista, já que a questão da segurança pública nunca foi central
em sua estratégia de campanha.
Convenção
Antes de partir para o ataque,
Alckmin havia dito, ontem pela
manhã, que estava "zen" e que
sua campanha não iria mudar. A
afirmação foi feita em Ribeirão
Preto, no interior de São Paulo,
onde participou da 13ª Agrishow
(Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação): "Nós estamos trabalhando bastante e vamos fazer a convenção em Minas
Gerais no dia 10 de junho, que é o
primeiro dia para isso e é aí que
vai começar a campanha. Estou
absolutamente zen, não tenho dúvida de que o Brasil vai mudar".
Ao ser questionado sobre um
suposto encontro de cardeais tucanos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Aécio Neves (MG) para
discutir mudanças na sua campanha, atacou a imprensa. "Não tem
nenhuma alteração, imagine. Eu
estive com o Aécio. Vocês [imprensa] mudam as palavras das
pessoas. É impressionante. A cobertura da eleição presidencial no
Brasil é fofoca, é intriga."
"Teste com metalúrgico"
Ao discursar de improviso na
reabertura de um hospital de Ceres (GO), Lula disse que somente
foi eleito presidente porque o
"povo queria fazer um teste com
um metalúrgico".
Disse ainda que sua capacidade
de governar é superior a de seus
antecessores e reafirmou que
quatro anos são insuficientes para
resolver os problemas do país.
Lula pediu licença para falar da
crise de violência. "Por que eu vim
aqui na inauguração de um hospital e estou falando de educação?
Porque, neste final de semana, todos nós, brasileiros, fomos pegos
de surpresa com os bandidos
dentro da cadeia mandando bandidos fora da cadeia matar gente
de bem, soldados e pessoas que
trabalham para ganhar o pão de
cada dia."
Ele criticou a pressa de autoridades para anunciar pacotes de
medidas como uma forma de responder à "desgraça" dos ataques.
Segundo ele, quando há casos como o do PCC, muitos aparecem
com "solução no bolso do colete".
(CATIA SEABRA, MARCELO TOLEDO, EDUARDO SCOLESE E LUCIANA CONSTANTINO)
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