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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS
Na Câmara, Maria da Penha afirma que quase metade do Congresso se relacionava com a Planam
Agora, assessora acusa 283 parlamentares
RANIER BRAGON
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ex-servidora do Ministério da
Saúde Maria da Penha Lino disse
ontem, em depoimento à Corregedoria da Câmara dos Deputados, que 283 parlamentares -ou
47% do total do Congresso-
possuíam algum tipo de relacionamento com a Planam, empresa
acusada de organizar o esquema
de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras.
Segundo relato de presentes ao
depoimento, tomado a portas fechadas, Maria da Penha, presa na
Operação Sanguessuga, da Polícia
Federal, afirmou que todos os
parlamentares (a maioria deputados) que se relacionavam com a
empresa participavam de algum
tipo de "acerto" -mas a ex-servidora não especificou os valores
nem as formas de pagamento de
propinas, além de ressalvar que
não sabe quais recebiam dinheiro
da empresa.
"Ela disse que todas as emendas
liberadas para unidades móveis
de saúde eram negociadas com
parlamentares (...) e que o parlamentar contatado pela empresa
só liberava a emenda mediante
negociação", afirmou na saída o
advogado de Maria da Penha,
Eduardo Mahon, que ressaltou
ser "irresponsabilidade" dizer
que todos os deputados participariam de negociações "espúrias".
Segundo a investigação da PF, o
esquema dos "sanguessugas"
consistia no desvio de verbas do
Orçamento da União para que
prefeituras adquirissem ambulâncias superfaturadas da Planam. As verbas eram reservadas
no Orçamento por meio de emendas de congressistas. O esquema
teria movimentado R$ 110 milhões desde 2001.
Perícia da PF nos computadores
da Planam revelou que a empresa
monitorava a tramitação de
emendas de parlamentares.
O número de envolvidos não
pára de mudar. A lista começou
com 63 nomes de parlamentares,
que tiveram ou assessores presos
ou seus nomes citados na operação da PF. Os casos foram avaliados pela Mesa da Câmara, que decidiu seguir a investigação, inicialmente, apenas contra 16. Ao
depor na PF, Maria da Penha disse que um "terço da Câmara" (170
deputados) faria parte do esquema, mas só apontou 81 nomes.
Ontem, baseada nos arquivos da
Planam, aumentou o número para 283 parlamentares.
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza,
ainda não decidiu se pedirá ou
não ao STF a abertura de inquérito criminal contra parlamentares.
No STF, os advogados da Planam
tentaram, sem sucesso, tirar a investigação da Justiça comum.
Não haveria ainda decisão da Justiça do Mato Grosso sobre se Maria da Penha será beneficiada pela
delação premiada, que pode reduzir ou mesmo extinguir sua
possível pena.
16 investigados
A Corregedoria da Câmara investiga 16 deputados suspeitos,
mas o número deve aumentar nas
próximas semanas devido aos documentos da Planam. "Alguns
podem sair, mas acredito que outras pessoas serão incluídas, com
certeza", afirmou o corregedor,
Ciro Nogueira (PP-PI).
Os papéis apontam ainda a existência de pagamentos feitos pela
empresa a 13 deputados federais
-entre eles dois integrantes da
Mesa da Câmara: o 2º secretário,
Nilton Capixaba (PTB-RO), e o 4º
secretário, João Caldas (PL-AL).
"Não posso avaliar se tem consistência [a lista de 283 nomes].
Tudo o que ela disse será apurado
com muita cautela", afirmou o
deputado Robson Tuma (PFL-SP), relator da investigação.
Um dos integrantes da Corregedoria, o deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL), procurou desqualificar o depoimento: "Cada hora
ela cita um número; uma hora é
70, outra hora é 170. Como o Ministério Público não aceitou essa
lista, tem algo errado. Acho que
ela está é querendo redução de pena", afirmou. A Corregedoria vai
requerer a lista que teria sido entregue ao Supremo.
Na saída do depoimento, tomado na superintendência da PF de
Brasília, Maria da Penha disse aos
repórteres que o "país precisa ser
passado a limpo" e que em nenhum momento acusou a deputada Denise Frossard (PPS-RJ),
que já teve o seu caso arquivado
pela Câmara por falta de provas.
Ela criticou o delegado Tardelli
Boaventura, que chefia a investigação, dizendo que ele, ao vazar o
seu depoimento à imprensa, será
responsável por tudo o que acontecer com ela daqui para a frente.
O delegado nega o vazamento.
Maria da Penha também disse
no depoimento que recebia da
Planam complemento de salário
quando era funcionária do gabinete do deputado José Divino
(PRB-RJ), responsável por sua indicação ao ministério. O deputado lhe pagaria R$ 600 mensais, e a
Planam, R$ 3.400.
A Corregedoria também ouviu
ontem, entre outros, Darci Vedoin, sócio da Planam, e seus filhos Luiz Antonio Vedoin e Alessandra Vedoin (que chorou no
depoimento), também presos.
Eles negaram pagamento de propina a deputados.
Colaborou FÁBIO ZANINI, da Sucursal
de Brasília
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