São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

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Polícia diz que esquema possuía três níveis

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No despacho em que autorizou as prisões, a ministra Eliana Calmon, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), informa que os políticos e servidores envolvidos no esquema receberiam propinas que iam do dinheiro vivo a passagens aéreas, carros, hospedagens e camarotes no Carnaval.
Reproduzindo partes do inquérito da Polícia Federal, Calmon citou exemplos de presentes, como um Citröen C5 para o ex-governador maranhense José Reinaldo Tavares (PSB), avaliado em R$ 110 mil. Tavares foi um dos presos ontem.
Até ontem, a Polícia Federal não tinha uma estimativa do valor total desviado pela quadrilha. Eliana Calmon destacou que foram muitas as obras fraudadas pela organização e reproduziu vários casos investigados. Teria sido pago pelo menos R$ 1,057 milhão em propina, incluindo R$ 240 mil que seriam destinados ao governador Jackson Lago (PDT).
"Trata-se de um poderoso e organizado grupo com escopo de apoderar-se de recursos destinados a obras públicas com planos e projetos de expansão, inclusive, para lançar seus tentáculos sobre os recursos que advirão do PAC", diz a ministra.
Além do recém-lançado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a quadrilha também tinha entre seus alvos projetos do programa Luz Para Todos. "Não foram poucas as licitações fraudadas, obras desviadas de suas finalidades, inconclusas ou só existentes nos papéis públicos; não foi pequeno o volume de recursos liberados a partir de medições adulteradas, fraudadas ou forjadas", escreveu a ministra do STJ.

Estrutura
Com base nas informações da PF, a juíza descreveu a estrutura da quadrilha como sendo formada em três níveis. No primeiro, estão funcionários da Gautama, criada a partir de uma dissidência da OAS.
O chefe do esquema, diz a PF, é Zuleido Soares Veras, sócio-diretor da Gautama, também preso ontem. Veras tem longa história de relacionamento com o poder em Brasília.
O segundo nível é composto por 11 pessoas, a maioria servidores que atuavam como intermediários perante os políticos e funcionários públicos, exercendo influência sobre eles para a liberação de recursos.
No terceiro nível, estão os agentes públicos municipais, estaduais e federais que, "praticando diversos delitos, viabilizam a atividade da organização na obtenção de liberação de verbas, direcionamento dos resultados das licitações", entre outras fraudes. Nesse grupo estão, o atual e o ex-governador do Maranhão, o superintendente da CEF, o ex-deputado federal e outras 15 pessoas.
A quadrilha superfaturava obras, reduzia as dimensões das construções, simulava realizações de projetos, corrompia integrantes de órgãos de fiscalização para ocultar irregularidades e servidores federais e estaduais para agilizar a liberação de recursos públicos.
A operação, batizada de Navalha, é uma das maiores já realizadas pela Polícia Federal no combate a esquemas montados para fraudar licitações. Ao todo, a PF cumpriu 45 mandados de prisão temporária, além de ter prendido em flagrante o deputado distrital Pedro Passos (PMDB). Foram realizados também 84 mandados de busca e apreensão. Até ontem, havia duas pessoas foragidas.
Os presos começaram a ser levados para a Superintendência da PF em Brasília no começo da tarde ontem. A PF espera começar os depoimentos hoje.

Presos
Além do ex-governador José Reinaldo Tavares, foram detidos um assessor do gabinete do ministro Silas Rondeau (Minas e Energia), o deputado distrital Pedro Passos (PMDB), o superintendente da Caixa Econômica Federal Flávio José Pin, o presidente do BRB (Banco de Brasília), Roberto Figueiredo Guimarães, servidores federais, estaduais e empresários.
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, solicitou a prisão de Jackson Lago. A ministra Eliana Calmon não concedeu a autorização, apesar de ter reconhecido haver indícios de que o governador teria recebido propina do esquema. Mas dois sobrinhos de Lago foram presos: Alexandre Maia Lago e Francisco de Paula Lima Júnior.
A ministra reproduziu trecho do inquérito no qual a PF diz que o governador recebeu R$ 240 mil de propina, por meio dos sobrinhos, para liberar o pagamento de R$ 2,9 milhões referentes a pontes construídas pela Gautama. A juíza ressaltou que não autorizou a prisão de Lago (que tem foro privilegiado) porque não havia elementos para a prisão em flagrante.


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