São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Outro lado

Ex-governador está tranqüilo, diz advogado

Procurador de Sinop (MT), cujo prefeito foi preso, nega irregularidade; prefeito de Camaçari (BA), também detido, não se manifestou

DA AGÊNCIA FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O advogado José Antônio Almeida, que representa o ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares (PSB), disse que a prisão dele durante a Operação Navalha foi arbitrária e que seu cliente estava tranqüilo "porque não tinha nada a temer".
"A prisão foi arbitrária porque José Reinaldo tem profissão, tem bens, tem família e residência fixa. Ele não deveria ser preso", disse Almeida.
Almeida foi ontem à tarde para Brasília. Ele disse que irá pedir cópia do processo para embasar um pedido de revogação da prisão de Tavares.
O advogado, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Anthony Garotinho em 2002, acompanhou o governador à superintendência da PF em São Luís. O ex-governador e outros presos pela operação no Maranhão seriam transferidos ainda ontem para Brasília.
Tavares entrou na política como aliado do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), de quem foi ministro dos Transportes. Tavares foi vice de Roseana Sarney (PMDB-MA) nos dois mandatos dela como governadora do Maranhão (1995 a 2002). Foi eleito para o governo do Estado em 2002 com apoio da família Sarney. Em 2004, passou a criticar as administrações de Roseana e a fazer oposição à família Sarney. No ano passado, anunciou que deixaria a política.

Sinop
Segundo o procurador jurídico de Sinop (MT), Astor Reinheimer, a prisão do prefeito Nilson Leitão (PSDB) está relacionada à abertura de concorrência pública internacional para as obras de esgoto na cidade previstas no PAC (Programa de Aceleração de Crescimento). Leitão foi coordenador em Mato Grosso da campanha do tucano Geraldo Alckmin.
Segundo Reinheimer, as obras têm custo estimado em R$ 42 milhões, que seriam disponibilizados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A concorrência foi vencida pelo Consórcio Xingu, da qual faz parte a empresa Gautama.
Além de Leitão, também foi detido ontem na operação o ex-secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Sinop, Jair Pessine, cujo advogado não foi localizado.
O procurador negou, entretanto, que houvesse irregularidades. "Estava tudo certo para que, na próxima quarta-feira, conseguíssemos os recursos junto ao BNDES. Não temos um metro de esgoto em Sinop e fomos prejudicados com essa operação", disse Reinheimer, que acusou os agentes da PF de truculência. "O prefeito ainda não sabe por que foi preso."

Camaçari
A Folha não conseguiu falar com o prefeito de Camaçari (BA), Luiz Carlos Caetano (PT). A PF informou que os presos na Bahia não poderiam dar entrevistas.
O secretário da Infra-Estrutura da cidade, Iran Ferreira, disse, por meio de sua assessoria, que é inocente.
O secretário de governo do município, Marcelino de Jesus Filho, disse que "a empresa nunca executou uma obra na cidade desde que o prefeito Luiz Caetano tomou posse".
Prefeito de Camaçari pela segunda vez, Caetano foi um dos principais articuladores da campanha vitoriosa do governador Jaques Wagner (PT).
Presos na Bahia, José Edson Vasconcelos, Edílio Pereira e Everaldo Alves foram encaminhados para prestar depoimentos na PF e não poderiam dar entrevistas até a conclusão de todos os depoimentos. A reportagem não conseguiu falar com seus advogados.

Alagoas
O governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), disse ontem que afastou os envolvidos na Operação Navalha que fazem parte do governo -entre eles o secretário da Infra-Estrutura, Adeílson Bezerra- até que as investigações da PF sejam concluídas.
A reportagem não conseguiu localizar Bezerra ontem.
Vilela Filho disse ter determinado à Controladoria do Estado que investigue todos os processos em que a Gautama tenha atuado no Estado.
O advogado da Cepisa (Companhia Energética do Piauí), Mário Roberto Araújo, disse que não comentaria as prisões.
Ele disse que o presidente da empresa, Jorge Targa Juni, será defendido no caso por outro advogado, mas não soube informar o nome dele.
Lúcio Tadeu dos Santos, advogado de Dimas Soares Veras e de João Manoel de Barros, funcionários da Gautama, disse que iria tomar conhecimento das acusações.
Não foram localizados os advogados de Denisson Tenório, José Crispim, Eneas de Alencastro Neto e Marcio Fidelson Gomes, em Alagoas, nem os de Sebastião Pinheiro Franco e José Hortegal, do Maranhão.
O advogado do empresário João Alves Neto, Emanuel Cacho, afirmou ontem que seu cliente não tem participação no esquema de fraudes.
Filho do ex-governador de Sergipe João Alves Filho (DEM), ele é suspeito de, mesmo sem exercer cargo público, comandar a área financeira no Estado e de ter recebido vantagens indevidas para liberar recursos em favor da Gautama.
À Folha Cacho descartou qualquer ligação do cliente com a Gautama.
Também foram detidos ontem o ex-deputado federal Ivan Paixão (PPS-SE), ex-secretário da Saúde de Sergipe, e Flávio Conceição, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e ex-chefe da Casa Civil.
Cacho disse que estava orientando o ex-deputado no caso. Ele afirmou ter conversado com ele pela manhã e o aconselhado a se entregar à polícia de Ribeirão Preto (SP), onde faz curso de pós-graduação em medicina. O advogado do conselheiro não atendeu os telefones da Folha.
Procurado pela reportagem, o ex-governador não foi encontrado ontem.

Brasília
A assessoria do deputado distrital Pedro Passos (PMDB) confirmou a existência de telefonemas dele para dirigentes da Gautama, em que ele cobrou a quitação de dívidas, mas informou que o motivo das ligações foi a suspensão de pagamento de parcelas relativas à compra de cavalos.
Segundo a assessoria de imprensa de Passos, os animais foram vendidos em leilões realizados no haras do deputado, em dezembro de 2005 e de 2006. Ela não revelou o número de cavalos negociados nem o valor de cada um, mas disse que há documentos que comprovam a transação.
Ela também confirmou que em 2005 o deputado propôs emenda ao orçamento do Distrito Federal, de R$ 3,6 milhões, para uma obra de irrigação que estava sendo executada pela Gautama em um núcleo rural próximo a Brasília.
Ao longo de 2005, Passos foi secretário de Agricultura do governador Joaquim Roriz, de quem é amigo, mas a emenda foi proposta durante licença de três dias do cargo executivo, quando reassumiu o mandato parlamentar. A assessoria de Passos afirmou que a obra é anterior ao seu primeiro mandato parlamentar, que começou em 2002. Disse ainda que, dos R$ 3,6 milhões previstos na emenda, apenas R$ 600 mil foram de fato liberados.
A Folha telefonou para a casa do presidente afastado do Banco de Brasília, Roberto Figueiredo Guimarães, mas a pessoa que atendeu não informou quem é o seu advogado nem deu esclarecimentos sobre a sua defesa.
O mesmo ocorreu nas tentativas de obter explicações ou contato com advogado nas casas de Ernani Soares Gomes Filho, funcionário do Ministério do Planejamento cedido para a Câmara, e Ivo Almeida Costa, exonerado ontem da função de assessor especial do Ministério de Minas e Energia, comandado por Silas Rondeau.
A Folha não conseguiu localizar Flávio José Pin, superintendente nacional de produtos de repasse da CEF.


Texto Anterior: Renan diz conhecer "muitos" envolvidos, mas não "práticas"
Próximo Texto: + Outro lado: Representantes de empresa não são localizados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.