São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Empresários rechaçam recriação da CPMF

No Peru, para evento com Lula, presidente da Fiesp e executivo-chefe da Braskem dizem se tratar de "brincadeira" e "retrocesso'

Na opinião de Skaf, CPMF é "página virada", e José Carlos Gubrisich, da multinacional, afirma que o governo envia o sinal errado ao mercado

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Dois pesos pesados do empresariado rechaçaram ontem a idéia de recriação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), que o governo Lula pode decidir já na segunda-feira.
"É brincadeira", atacou Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), minutos depois de ter sido o anfitrião de um café-da-manhã oferecido a Lula em um hotel de Lima, em que ambos se hospedaram e no qual participaram de seminário para empresários.
"É um retrocesso", disse José Carlos Gubrisich, executivo-chefe da Braskem, que assinou memorando de entendimento para participar de uma fábrica de polietileno no Peru, com a Petrobras e a Petroperu.
Para Skaf, a sociedade brasileira não aceita aumento ou criação de impostos. Chamou a CPMF de "página virada" e disse que o importante é discutir o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a reforma tributária e o crescimento do país.
Grubisich ironizou: "Parece que o governo não acredita na reforma tributária, já que vai criar um novo imposto. Envia o sinal errado ao mercado".
O único apoio a um novo imposto no país veio de quem não sabia nada sobre a CPMF, o presidente peruano Alan García, e estava apenas fazendo uma brincadeira, durante o seminário com Lula, Skaf e Grubisich, entre outros.
García lamentou que "os empresários brasileiros não queiram vir ao Peru para ganhar dinheiro". Isso porque, segundo ele, "talvez tenham muito [dinheiro]". Voltou-se para Lula e ordenou brincando: "Pongales más impuestos".
No único momento em que tocou no tema fiscal, Lula falou só do passado. Disse que, em 2003, logo no início do governo, fez "o maior ajuste fiscal da história", mesmo contrariando sua base de apoio, seu partido e seus "amigos sindicalistas".
Em seu discurso, o presidente brasileiro excursionou por territórios delicados.
O primeiro deles: lembrou, como o faz regularmente, os tempos do chamado "milagre econômico", durante a ditadura militar, para lembrar que à época se dizia que era preciso deixar crescer o bolo primeiro para depois distribui-lo.
"Comeram o bolo todo", afirmou, voltando-se para García.
Só não disse que o responsável pelo "milagre" chamava-se Antonio Delfim Netto, hoje um dos conselheiros econômicos informais de Lula.
Depois, o presidente reclamou que "todo mundo lá fora quer falar da Amazônia, mas ninguém quer discutir a qualidade de vida que leva o povo que vive na Amazônia" (não apenas na brasileira, mas também na peruana e colombiana).
Abraçou depois a tese de que não basta preservar a região, "mas fazer dela fonte de riqueza para quem vive lá".

Esquerda
Por fim, opresidente brasileiro falou do Foro de São Paulo, conglomerado de organizações de esquerda criado pelo PT em 1990. Disse que "esse foro foi educando a esquerda a disputar eleições e ganhá-las de forma democrática", em vez de recorrer à luta armada.
Não citou, no entanto, o fato de que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) fazem parte do foro e não foram ainda educadas para disputar eleições, tanto que mantêm a luta armada e, pior, tornaram-se o pivô de uma crise triangular entre os governos da Colômbia, do Equador e da Venezuela.
Lula elogiou ainda o crescimento do país do presidente Alan García (o maior da América do Sul, na faixa dos 9%), em uma frase que provocou sorrisos maliciosos em parte dos espectadores: "A gente vê na rua o crescimento do Peru".


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