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JANIO DE FREITAS
Cesta indigesta
O festival da economia até encobre, mas não torna mais digestivas as situações críticas que o governo tem diante de si
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AS SITUAÇÕES críticas que o governo tem diante de si, estimulando-as a agravar-se por
irresponsabilidade ou temor, enchem uma cesta básica de promessas indigestas que o festival da economia e das Bolsas encobre, mas
não torna mais digestivas.
Os mais importantes jornais do
mundo, pela amostragem disponível, foram unânimes na preocupação crítica com a indução, por Lula,
da renúncia de Marina Silva. E com
o motivo que o levou a isso, contrário ao meio ambiente que obceca europeus e grande parte dos EUA. Lula
vive de imagem, sobretudo no exterior encantado com a fábula do operário, e a cutucada explícita que levou da visitante primeira-ministra
alemã, Angela Merkel, é significativa: indica que foram alertadas atenções internacionais para o que já era, com Marina Silva, o desmatamento
desatinado e, agora, ameaça agravar-se, com as novas diretrizes da
Amazônia como território de crescimento econômico e militar.
Subjacente à má repercussão da
renúncia forçada, a solução dada por
Lula é, no mínimo, incerta. Desejoso
de licenciamento de obras sem perda de tempo com estudos ambientais, Lula escolheu um ministro que
até hoje não se mostrou apenas veloz e até afoito em licenciamentos,
mas dotado de disposições pouco ou
nada conciliáveis com as novas
idéias para a Amazônia. Se não obtiver as concessões necessárias, a tendência é de agravar os atuais desgastes internos e preocupações externas, e seus respectivos efeitos.
O problema na área militar, localizado com explicitude no Exército,
apenas eclode no confronto motivado pela reserva indígena Raposa/
Serra do Sol. Não nasceu daí. Estava
incubado, e surgiu a ocasião que o
expõe. Lula não faz o gênero dos militares, que não o acompanharam no
apagar do seu passado de sindicalista e agitador petista. Nem, aí ainda
menos, o acompanham em maioria
na política externa alheia à dos Estados Unidos, em especial a relativa a
Hugo Chávez, Evo Morales, Irã, agora Fernando Lugo, e semelhantes.
Da oportunidade de Raposa surgiu, porém, uma realidade nova na
relação entre militares do Exército,
com adesão parcial de outros, e a
presidência de Lula. A divergência
ganhou forma de confronto público,
com atos ostensivos de contestação
a decisões governamentais. Até com
a inovação, inimaginada mesmo nos
tempos da agitação militar como
norma ou profissão, da abertura de
um quartel a manifestação e discursos paisanos contra o presidente, o
ministro da Justiça e a Polícia Federal. Na inovação estava um dos frutos de uma evidência: o ministro da
Defesa, o bravo Nelson Jobim da
cassação branca de mandatos na
Anac, e Lula mostram-se incapazes,
por aturdimento ou por temerosa
insegurança, de repor a ordem onde
deve estar no regime democrático.
Fraqueza parecida, quando não
bastam os comícios para escondê-la,
está em episódios simbolizados pelas sucessivas interrupções, por garimpeiros e sem-terra, de atividades
da Vale no Pará. O governo Lula, e o
próprio mais do que todos, não quer
confrontar-se com os (ex)companheiros. Mas o confronto não é necessário se o governo, em vez de
contribuir com a omissão para episódios cada vez mais perigosos, adotar a providência simples de reconhecer o problema e solucioná-lo. O
problema, no caso, nem é dos complicados, nele presentes mais pretextos do que razões.
E já que, ali atrás, apareceu a Anac,
a Agência Nacional de Aviação Civil,
aí vai: a bagunça no sistema de aviação comercial e nos serviços aeroportuários continua a mesma, e o
provável é que esteja pior, ainda que
menos visível nos saguões. A Varig
abandona as linhas internacionais, a
BRA foi-se, a Ocean Air corta serviços e centenas de funcionários; a
TAM e a Gol dividem entre si a exclusividade em linhas a que ambas
serviam, e com a redução da oferta
aumentam os preços absurdamente, sob indiferença da Anac; passageiros têm ficado longo tempo embarcados à espera de tripulações
que, por norma, as empresas devem
pôr nos aviões antes dos passageiros.
Sinal interno da desordem na
Anac: o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, decidiu
não mais indicar representante da
FAB na agência, diante da inutilidade de tê-lo (como indicado na recente renúncia do brigadeiro Alemmander, por desentendimentos
com a neófita presidente da Anac,
amiga de Nelson Jobim, Solange
Vieira).
E, para não ir muito mais longe,
lembro só o caso do José Aparecido.O que passou o dossiê para proteger Lula, intimidando a oposição
com um aperitivo sobre os gastos de
Fernando Henrique, e agora está
acusado pelo governo de traidor. Daí
talvez saiam só bobagens, mas pode
sair uma bomba espetacular.
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