São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Ex-secretário admite que vazou dossiê, mas nega ter havido má-fé

José Aparecido implica dois funcionários da Casa Civil e diz à PF que enviou sem querer arquivo para gabinete de tucano

Ele negou envolvimento de José Dirceu e afirmou que não poderia comentar atuação de Dilma ou da secretária-executiva Erenice

ANDREZA MATAIS
SIMONE IGLESIAS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-secretário de controle interno José Aparecido Pires Nunes, responsável pelo vazamento do dossiê com gastos do governo Fernando Henrique Cardoso, nomeou à Polícia Federal outros dois funcionários da Casa Civil que participaram da montagem do documento.
Em depoimento na sexta-feira, ele disse que recebeu a planilha pronta de Marcelo Veloso, da equipe que ele comandava no Planalto, e que a ordem para que cedesse servidores para o levantamento das despesas do governo tucano partiu de Norberto Temóteo, secretário de Administração.
Aparecido admitiu que enviou o e-mail para o gabinete do senador tucano Álvaro Dias (PR), mas que a planilha Excel seguiu por engano.
"Reconheço que saiu da minha máquina, mas foi sem dolo ou má fé. Tive uma surpresa quando percebi que tinha enviado. (...) Não lembro como", relatou no inquérito da PF.
O advogado Luiz Maximiliano Telesca confirmou à Folha que "em nenhum momento" seu cliente assumiu à PF que teve intenção de vazar dados.
O ex-secretário contou que Veloso, por ser seu subordinado, entregou-lhe um pen-drive. Dele, teria baixado dois documentos em seu computador: um texto em Word com o título "Supervisão Ministerial" e a planilha em Excel com os gastos de FHC, Ruth Cardoso e ex-ministros, chamada de "Suprimento de Fundos".
As iniciais idênticas, SUP, teriam-no confundido ao anexar o arquivo ao e-mail endereçado a André Fernandes. Ele afirmou que pretendia enviar o texto, não a planilha, ao assessor do senador do PSDB, de quem é amigo desde 1989. O documento do Word continha dados sobre a legislação acerca de documentos sigilosos que Andé havia lhe pedido. "Ele foi enfático ao dizer que não passou os dados propositadamente", disse Telesca.
O delegado Sérgio Menezes, encarregado do caso, perguntou se a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ou a secretária-executiva Erenice Guerra tinham ordenado o levantamento ou tido algum envolvimento. Aparecido não as eximiu. Disse que não poderia comentar sobre isso porque não dispunha dessa informação.
Afirmou que foi Temóteo quem lhe pediu reforços porque o Planalto decidira se preparar para responder a futuras indagações sobre gastos com cartões corporativos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seus ministros. "Ele [Temóteo] explicou que precisava organizar um banco de dados.
A CPI estava sendo instalada." Menezes também questionou a eventual participação do ex-ministro José Dirceu no episódio. Aparecido, militante histórico do PT, negou que tenha submetido o dossiê ou combinado seu vazamento com o ex-ministro, que foi seu chefe na Casa Civil. Disse à PF que os dois conversam "freqüentemente", mas que os dois nunca trataram desse assunto.
Aparecido foi indiciado sob a acusação de "quebra de sigilo funcional", enquadrado artigo 325 do Código Penal, que prevê pena de reclusão de dois a seis anos, além de multa.
Segundo a Folha apurou, a PF já colheu o depoimento de Veloso. Pretende ouvir Temóteo ainda nesta semana. Espera que ele esclareça, enfim, quem encomendou o dossiê.
A íntegra do depoimento de Aparecido à PF será revelada nesta terça-feira, quando ele e André Fernandes serão ouvidos pela CPI dos Cartões.

Origem
O dossiê começou a ser produzido logo depois do Carnaval deste ano, em fevereiro. Foi montado fora da ordem cronológica, com ênfase em gastos "exóticos" de Fernando Henrique e de Ruth Cardoso e em formato diferente do do Suprim, o sistema oficial de controle de despesas com suprimentos de fundos do governo.


Colaborou EDUARDO CUCOLO , da Folha Online


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