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Ex-secretário admite que vazou dossiê, mas nega ter havido má-fé
José Aparecido implica dois funcionários da Casa Civil e diz à PF que enviou sem querer arquivo para gabinete de tucano
Ele negou envolvimento de José Dirceu e afirmou que não poderia comentar atuação de Dilma ou da secretária-executiva Erenice
ANDREZA MATAIS
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-secretário de controle
interno José Aparecido Pires
Nunes, responsável pelo vazamento do dossiê com gastos do
governo Fernando Henrique
Cardoso, nomeou à Polícia Federal outros dois funcionários
da Casa Civil que participaram
da montagem do documento.
Em depoimento na sexta-feira, ele disse que recebeu a planilha pronta de Marcelo Veloso, da equipe que ele comandava no Planalto, e que a ordem
para que cedesse servidores para o levantamento das despesas
do governo tucano partiu de
Norberto Temóteo, secretário
de Administração.
Aparecido admitiu que enviou o e-mail para o gabinete do
senador tucano Álvaro Dias
(PR), mas que a planilha Excel
seguiu por engano.
"Reconheço que saiu da minha máquina, mas foi sem dolo
ou má fé. Tive uma surpresa
quando percebi que tinha enviado. (...) Não lembro como",
relatou no inquérito da PF.
O advogado Luiz Maximiliano Telesca confirmou à Folha
que "em nenhum momento"
seu cliente assumiu à PF que
teve intenção de vazar dados.
O ex-secretário contou que
Veloso, por ser seu subordinado, entregou-lhe um pen-drive.
Dele, teria baixado dois documentos em seu computador:
um texto em Word com o título
"Supervisão Ministerial" e a
planilha em Excel com os gastos de FHC, Ruth Cardoso e ex-ministros, chamada de "Suprimento de Fundos".
As iniciais idênticas, SUP, teriam-no confundido ao anexar
o arquivo ao e-mail endereçado
a André Fernandes. Ele afirmou que pretendia enviar o
texto, não a planilha, ao assessor do senador do PSDB, de
quem é amigo desde 1989. O
documento do Word continha
dados sobre a legislação acerca
de documentos sigilosos que
Andé havia lhe pedido. "Ele foi
enfático ao dizer que não passou os dados propositadamente", disse Telesca.
O delegado Sérgio Menezes, encarregado do caso, perguntou se a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ou a secretária-executiva Erenice Guerra tinham ordenado o levantamento ou tido algum envolvimento. Aparecido não as eximiu. Disse que não poderia comentar sobre isso porque não
dispunha dessa informação.
Afirmou que foi Temóteo
quem lhe pediu reforços porque o Planalto decidira se preparar para responder a futuras
indagações sobre gastos com
cartões corporativos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e de seus ministros. "Ele [Temóteo] explicou que precisava
organizar um banco de dados.
A CPI estava sendo instalada."
Menezes também questionou a eventual participação do
ex-ministro José Dirceu no
episódio. Aparecido, militante
histórico do PT, negou que tenha submetido o dossiê ou
combinado seu vazamento
com o ex-ministro, que foi seu
chefe na Casa Civil. Disse à PF
que os dois conversam "freqüentemente", mas que os dois
nunca trataram desse assunto.
Aparecido foi indiciado sob a
acusação de "quebra de sigilo
funcional", enquadrado artigo
325 do Código Penal, que prevê
pena de reclusão de dois a seis
anos, além de multa.
Segundo a Folha apurou, a
PF já colheu o depoimento de
Veloso. Pretende ouvir Temóteo ainda nesta semana. Espera
que ele esclareça, enfim, quem
encomendou o dossiê.
A íntegra do depoimento de
Aparecido à PF será revelada
nesta terça-feira, quando ele e
André Fernandes serão ouvidos pela CPI dos Cartões.
Origem
O dossiê começou a ser produzido logo depois do Carnaval
deste ano, em fevereiro. Foi
montado fora da ordem cronológica, com ênfase em gastos
"exóticos" de Fernando Henrique e de Ruth Cardoso e em
formato diferente do do Suprim, o sistema oficial de controle de despesas com suprimentos de fundos do governo.
Colaborou EDUARDO CUCOLO , da Folha Online
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