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REFÉM DA BASE
Em telefonema a Lula antes mesmo da votação, presidente da Câmara diz que Casa aprovará salário de R$ 260
João Paulo promete restaurar mínimo menor
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Antecipando a derrota que o governo sofreria à noite no Senado,
o presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), telefonou
para o presidente Lula na tarde de
ontem e prometeu que a Casa que
comanda restaurará o valor de R$
260 do salário mínimo.
Tal operação, porém, envolverá
um custo político. A Folha apurou que o PT voltará a insistir com
o presidente para que a articulação política retorne às mãos do
partido. Leia-se: tirá-la do ministro Aldo Rebelo (Coordenação
Política) e dá-la ao ministro José
Dirceu (Casa Civil), que, assim,
retomaria o controle da liberação
de emendas parlamentares e da
nomeação de cargos.
Ao mesmo tempo, João Paulo
tentará ressuscitar a emenda
constitucional que permitiria a
reeleição dele e do presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP),
para seus respectivos cargos. Apesar de ter lavado as mãos no Senado, Sarney deverá orientar o seu
grupo político a votar a favor de
R$ 260 na Câmara.
João Paulo procurou ontem
mesmo líderes partidários e disse
que devem usar o discurso de responsabilidade com o país, alegando impacto do mínimo de R$ 275
nas contas da Previdência e de
prefeituras, para bancar os R$
260. Assim, responderiam ao argumento de que o Senado faz
"bondades" e deixa com a Câmara o desgaste das "maldades".
Mais: João Paulo e aliados vão se
empenhar para evitar que Lula
sofra o desgaste de ser obrigado a
vetar o mínimo de R$ 275.
Rejeitada no Senado, a MP (medida provisória) do mínimo volta
à Câmara, para um decisão definitiva. Na Câmara, o valor de R$
275 já foi votado e derrotado uma
vez por 266 a 167 votos.
Dirceu x Aldo
Apesar da paternidade da derrota ser do próprio Lula, que entrou diretamente no esforço para
tentar aprovar a MP no Senado, o
PT pretende colocar a maior parcela de responsabilidade na conta
de Aldo. Argumento: duas MPs
vitais para o governo, a que proibia os Bingos e a do mínimo de R$
260, caíram sob o seu comando.
A pressão do PT para retomar a
articulação política começou há
cerca de duas semanas. João Paulo e o presidente da legenda, José
Genoino, são defensores da idéia
-apesar de negarem de público.
Lula chegou a dar demonstração em conversas reservadas de
que poderia deslocar Aldo para o
Ministério da Defesa, ocupado
por José Viegas. Mas o vazamento
da informação e a virulência de
Dirceu nas tentativas de minar Aldo deixaram tal idéia em banho-maria. Ela, porém, não foi descartada por Lula e, com a derrota de
no Senado, volta a ganhar força.
Há forte resistência do PT e de
setores da base aliada à liderança
de Aldo. Na Câmara, existe um
sentimento de orfandade em relação a Dirceu, articulador político
de Lula até a reforma ministerial
do fim de janeiro. Com a mudança, a Casa Civil ficou com a atribuição de gerenciar o governo.
Até o início da guerra entre Aldo e Dirceu, o presidente preferia
que o chefe da Casa Civil fosse
presidir a Câmara a partir de fevereiro de 2005. Teria tempo, portanto, para encontrar um novo
gerente e articularia para que Dirceu voltasse a fazer o que mais
gosta, articulação política.
Lula, porém, não deseja que
Dirceu vá contrariado para a Câmara. Nesse caso, avalia que é
preferível que fique no governo.
Daí o PT o querer de volta na articulação.
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