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JANIO DE FREITAS
Um produto legítimo
Lições não faltaram. Mas o
problema político e a reprovação moral que atingem o governo, pela nomeação do delegado
João Batista Campelo para diretor da Polícia Federal, são
mais um produto da falsa esperteza política e da falta de
franqueza que já corroeram
tanto a imagem de Fernando
Henrique em outros episódios.
Enrolado durante três meses
na incapacidade de solucionar
a divergência de indicações, entre o ministro da Justiça e o chefe do Gabinete Militar, Fernando Henrique cedeu às críticas
pela indecisão e fez o que apresentou como uma "escolha pessoal" sua. Só um debilóide acreditaria que Fernando Henrique
conhecesse delegados a ponto
de desencavar um há muito fora da polícia e vivendo lá nos
confins de Roraima.
As impressões digitais ficaram na escolha. O general Alberto Cardoso queria uma pessoa da sua confiança na PF, para usá-la sem problemas como
auxiliar do novo SNI, chamado
de Abin, e da agência antinarcotráfico. Nos dois casos, um general escolheria alguém ligado
aos serviços de informação e às
atividades da repressão. Isto é,
um policial da confiança de militares.
Não houve terceiro. Houve
um nome diferente para a indicação feita pelo general. Apresentá-lo como "escolha pessoal"
de Fernando Henrique, para
solucionar o impasse entre o
ministro e o general, não foi só
tolice primária. Foi primarismo
também como tentativa de tapeação, porque, mesmo se a
biografia do nomeado não se
confundisse com a ditadura, logo a PF estaria sob crise grave.
Interna, com o seu ministro e
com a Presidência, pelo mesmo
motivo de sua sujeição forçada,
e até ilegal, ao Gabinete Militar.
E seria tão simples fazer tudo
com correção administrativa e
pessoal.
Na sombra
Recém-empossado presidente
do Supremo Tribunal Federal, o
ministro Carlos Velloso confirma, amplia e explica trecho do
artigo aqui saído na quarta-feira:
"Em sua coluna "Na Fogueira",
V.Sa. registra que o "Tribunal
Regional do Trabalho da Bahia
mandou ao Supremo Tribunal
um pedido de intervenção federal na Bahia, cujo governo adotou como norma o não-cumprimento de precatórios do TRT"."
"Depois de dizer que falar em
governo da Bahia "é mais do que
falar em prepostos de Antonio
Carlos Magalhães, é falar no
próprio", acrescenta que "a nota
(citação de uma notícia aqui
publicada em março) observou
ainda que as referências do senador, pregando a necessidade
da CPI, cuidaram sempre de
isentar, pelo silêncio, o STF, onde o pedido de intervenção foi
posto no tradicional repouso"."
"Existem, realmente, em tramitação nesta Corte, não um,
mas quatro pedidos de intervenção federal oriundos do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª
Região (Bahia), de nºs 598-BA,
624-BA, 642-BA e 650-BA, todos
eles, entretanto, dependentes de
informações a serem prestadas
pelo referido tribunal, para que
tenham prosseguimento normal. Alguns dos nossos ofícios
ao TST foram reiterados mais de
uma vez pela Secretaria do Supremo Tribunal Federal."
O repouso, portanto, é dos magistrados baianos. Mas não se
sabe se induzido pela sombra insinuante dos coqueirais ou pela
sombra impetuosa de Antonio
Carlos Magalhães.
O rejeitado
Em carta hoje publicada no
Painel do Leitor, o deputado
Aloysio Nunes Ferreira atribui-me "violento ataque pessoal (a
ele), com a sordidez que o (me)
caracteriza". O deputado talvez
esteja acossado por sentimentos
de rejeição, provocadas pelo desagrado com seu substitutivo.
O artigo não foi violento, nem
tinha por que sê-lo; e muito menos foi ataque pessoal. Tratou
do "desagrado quase unânime
com o projeto de reforma do Judiciário, elaborado pelo relator
Aloysio Nunes Ferreira", e de
algumas consequências dessa
reação, como a já comprovada
volta do "problema ao ponto de
partida", com "mais uma reforma adiada".
Autor do substitutivo, Nunes
Ferreira foi até pouco citado. E,
na hipótese para a desastrada
insuficiência de debates, sua
principal característica política
foi tratada com delicadeza talvez injustificável: "Nunes Ferreira é um político avesso a confrontos, com passagens frequentes de uma corrente partidária para outra, e mesmo de
um partido para outro, mas
sem rupturas atritosas". Diz
sua carta, a propósito: "Quanto
à volubilidade política que me
atribui, quero esclarecer que
permaneci no PMDB desde os
primórdios do partido em 1966
até 1998".
O percurso não foi assim reto
nem tão simples. Nunes Ferreira passou do comunismo para o
grupo de Quércia. Quando este
e Fleury romperam, mas o poder ficou com Fleury, Nunes
Ferreira ficou com o poder.
Quando Fleury perdeu o poder
paulista e Fernando Henrique
ocupou o poder nacional, Nunes Ferreira tornou-se fernandista. E, já a reeleição à vista,
Nunes Ferreira deixou o PMDB
para ser outro neopeessedebista.
Quanto ao xingamento na
carta, suponho que o vexame
do seu substitutivo basta a
Aloysio Nunes Ferreira. Não
precisa ser também ridículo.
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