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REFORMA DA REFORMA
Em contrapartida, aliados abriram mão do limite de isenção de R$ 2.400 para pensões e do aumento para o Judiciário
Pressão da base obriga Lula a aceitar paridade
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
A garantia da paridade -repasse aos aposentados dos reajustes
salariais dos servidores da ativa-
centralizou o embate político travado na apresentação do relatório
da reforma da Previdência, lido
ontem na Câmara.
Descartada até a hora do almoço, a paridade voltou ao texto no
início da tarde com um objetivo
político claro: conter a resistência
do Poder Judiciário à reforma.
A questão dividiu governo e
congressistas fiéis ao Planalto em
dois grupos. No final, os que eram
contra a paridade -entre eles o
próprio presidente Luiz Inácio
Lula da Silva- acabaram cedendo à base, que abriu mão do limite
de isenção de R$ 2.400 para a redução das pensões e do aumento
do subteto salarial do Judiciário.
Toda a negociação começou às
9h, quando o presidente iniciou,
no Palácio da Alvorada, a reunião
que iria definir a nova cara da reforma, em tramitação na Câmara
desde o dia 30 de abril. Lula e os
ministros Antonio Palocci Filho
(Fazenda) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) se posicionaram contra a paridade
-respaldados na consulta feita
aos governadores-, que, para
eles, inviabiliza as políticas de valorização dos servidores ativos.
O ministro Ricardo Berzoini
(Previdência) e os deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP), líder do
governo na Câmara, e Nelson Pellegrino (BA), líder do PT, defenderam a inclusão no relatório sob
o argumento de que a base já havia se comprometido publicamente com a mudança.
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) defendia uma posição intermediária: a de que a questão
não fosse incluída agora no parecer, mas ficasse para discussão
posterior e possível inclusão na
votação no plenário.
No fim da reunião, que terminou pouco antes das 12h, acabou
valendo a posição de Lula-Palocci-Gushiken. O problema é que,
paralelamente à reunião do Alvorada, os líderes do PT na Câmara,
o presidente da Casa, João Paulo
Cunha (PT-SP), e o relator da reforma, José Pimentel (PT-CE), já
se articulavam para resistir à decisão. A avaliação deles era a de que
toda a base aliada, incluindo João
Paulo, já tinha se comprometido
com a paridade e que, se ela caísse, seria uma desmoralização.
A decisão
Com esse espírito, o grupo recebeu no gabinete de João Paulo, ao
meio-dia, Rebelo, Pellegrino e
Berzoini, que traziam a decisão
do Planalto. A partir de então,
João Paulo, Berzoini, Pimentel,
Pellegrino e Rebelo se reuniram
separadamente dos demais integrantes do grupo na sala reservada do gabinete. Fizeram vários telefonemas ao presidente.
Todos falaram com Lula e reafirmaram a impossibilidade de a
paridade não constar do texto,
devido ao ânimo da base aliada.
Um dos vice-líderes do governo, o
deputado Beto Albuquerque
(PSB-RS), que estava na ante-sala
de João Paulo, defendia que a Câmara bancasse a paridade mesmo
em contrariedade ao governo.
Após vários entendimentos e
projeções de cálculos feitos por
técnicos do ministério da Previdência chamados às pressas ao
gabinete, João Paulo recebeu de
Lula, via telefone, a autorização
para o acordo. "O governo foi
sensível à negociação, e isso é importante", afirmou Pellegrino.
Apesar disso, setores da base
aliada ainda se declaravam descontentes. "Lamento que tenha
havido alteração no parecer que
fechamos ontem [anteontem],
porque não mudava a reforma do
ponto de vista fiscal", afirmou Albuquerque. Pellegrino reconhece
que haverá problemas: "Os governadores vão querer retirar a paridade do texto e o Judiciário vai lutar pelo aumento do subteto".
Apesar dos questionamentos, o
relator seguiu imediatamente para o plenário e discursou de improviso sobre o acordo, dando a
entender que já estava se referindo ao relatório pronto. O problema é que a redação final, aparentemente, nem tinha sido feita e,
devido a isso, Pimentel chegou a
declarar que a redução para as novas pensões seria de 50% (na faixa
que exceder R$ 1.058), momento
em que recebeu vaias das galerias,
compostas, na maioria, por representantes dos servidores.
"Isso é uma mentira. Não havia
nem parecer pronto ainda. O relator está servindo de ventríloquo,
está lendo o que deram para ele
ler", afirmou o deputado Onyx
Lorenzoni (PFL-RS), que questionou a validade regimental da leitura do relatório.
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