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Mudanças chegam ao limite do suportável, diz Palocci
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na sua primeira manifestação
pública sobre as alterações na reforma da Previdência, o ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
deu uma idéia do desconforto da
área econômica com as concessões feitas pelo governo: "Chegamos muito perto do limite das
mudanças que um projeto como
esse pode suportar".
A declaração foi parte de uma
entrevista em que Palocci deu sua
bênção ao parecer apresentado
pelo relator da reforma na Câmara, José Pimentel (PT-CE), mas
deixando escapar indicações de
que o texto original do governo
sofreu abalos importantes.
Numa dessas frases, o ministro
disse: "Talvez não seja a última,
mas é uma reforma de grande importância". Antes da vírgula está
contemplada uma avaliação crescente entre os especialistas no tema -a de que será necessária,
quando as condições políticas
permitirem, uma nova reforma
para equilibrar em definitivo as
contas previdenciárias do país.
Palocci repetiu por várias vezes
o discurso preparado pelo governo para evitar que o recuo nas negociações da reforma seja interpretado pelo mercado como uma
capitulação. As mudanças, afirmou, não atingiram "o coração"
-ou, numa versão alternativa do
médico Palocci, "a coluna vertebral" -do projeto.
Mas o recado mais importante é
mesmo o de que o governo chegou a seu limite nas concessões.
Em caráter reservado, assessores
do governo fizeram ontem a afirmação em tom ainda mais incisivo que o adotado pelo ministro da
Fazenda.
Bastidores
Palocci, por motivos óbvios, foi
conciliador ao reconhecer o direito do Congresso de promover as
alterações que considerar necessárias nas reformas da Previdência e tributária. "Mas nós não deixaremos de dizer se houver modificações que comprometam a sustentabilidade da reforma", disse.
Embora tenha evitado se envolver abertamente nas negociações,
o ministro trabalhou nos bastidores para implodir o acordo ensaiado na semana passada para
aplacar as resistências do Judiciários às reformas, quando chegou-se a anunciar a permanência das
aposentadorias integrais com direito aos reajustes dos salários da
ativa para os futuros servidores
públicos.
Ontem, Palocci tocou no assunto. "Muitas das idéias discutidas
na semana passada nos preocupavam, em especial as que se referiam aos futuros servidores", disse o ministro.
A abordagem ressalta uma vitória -caíram as concessões voltadas para os futuros funcionários- e esconde uma derrota: a
equipe econômica também se
opôs à paridade de reajustes para
os servidores atuais, afinal mantida no relatório de Pimentel.
Questionado ontem sobre a paridade, Palocci saiu pela tangente.
"Não estou preocupado com
pontos particulares da reforma,
mas com a essência do projeto."
Por essa argumentação, as alterações não são uma grave ameaça à
economia de gastos pretendida
pelo governo.
"Céu de brigadeiro"
Disse também acreditar que o
projeto possa seguir adiante no
Congresso sem ser desfigurado.
"Se assim continuar, será uma vitória política não do governo,
mas do país."
Mas, diferindo de cálculos muito mais otimistas feitos no início
da tramitação das reforma, previu novos embates até a aprovação dos projeto.
"Isso vai voltar a acontecer em
alguns momentos", disse, acrescentando que os problemas não
deverão ficar restritos ao tema
Previdência: "Também não esperamos céu de brigadeiro na questão [da reforma] tributária".
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