São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Senado aprova perícia da PF nos documentos de Renan

Decisão unânime da Mesa Diretora impinge nova derrota ao presidente da Casa

Polícia Federal tem 20 dias para responder 30 questões do Conselho de Ética; defesa de Renan questiona medida e vê "armadilha" do órgão

FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em mais uma derrota de Renan Calheiros (PMDB-AL) no processo que enfrenta no Senado, a Mesa Diretora autorizou ontem, por unanimidade, a Polícia Federal a fazer perícia em documentos apresentados pelo presidente da Casa. O pedido, originado no Conselho de Ética, foi encaminhado ao ministro Tarso Genro (Justiça).
Até o último momento o presidente do Senado tentou impedir que o trabalho fosse feito pela Polícia Federal. O peemedebista também atuou na tentativa de limitar as apurações.
Durante a reunião, pela manhã, o advogado de Renan, Eduardo Ferrão, tentou excluir duas das 30 perguntas do conselho que pautarão os trabalhos da Polícia Federal.
O ministro da Justiça, à tarde, acatou o pedido do órgão, mas afirmou que "detalhará a competência" da Polícia Federal para fazer a perícia.
"O trabalho da Polícia Federal será restrito às questões debatidas no Conselho de Ética, uma investigação mais ampla só pode ser feita por determinação do Supremo Tribunal Federal", disse Tarso.
A perícia pretende verificar, em um prazo de 20 dias, se as operações de venda de gado declaradas por Renan realmente ocorreram. Ele é acusado de ter despesas pessoais pagas pelo lobista de uma empreiteira.
Na tentativa de provar que tinha renda suficiente, o presidente do Senado afirmou ter ganho R$ 1,9 milhão nos últimos quatro anos com atividades agropecuárias.

Defesa
O advogado de Renan não queria que a Polícia Federal verificasse se as notas fiscais apresentadas por ele respeitaram a ordem cronológica, nem se elas e as GTAs (Guias de Trânsito Animal) correspondem ao gado vendido.
Laudo preliminar da PF apontou inconsistências nesses documentos. As perguntas relativas aos números 16 e 18 do ofício encaminhado ao Ministério da Justiça tratam desse ponto do caso:
1. "É possível afirmar, em cotejo com as datas e números das dez notas fiscais anteriores e as dez notas posteriores dos respectivos talonários, que as notas fiscais apresentadas respeitaram a ordem cronológica de emissão -dia, mês e ano?";
2. "É possível afirmar que as Guias de Trânsito Animal e as notas fiscais correspondem ao gado bovino vendido?"; ambas contestadas pelo advogado.
De acordo com os presentes à reunião, a alegação do advogado é que essas duas perguntas poderiam funcionar como uma armadilha para Renan, já que supostos problemas administrativos poderiam ser utilizados para incriminá-lo.
Ainda de acordo com os presentes, Ferrão deu justificativas antecipadas sobre possíveis problemas nesses quesitos. O advogado teria afirmado que as notas fiscais só são emitidas depois que os cheques são descontados, e nesse caso haveria muitos cheques pré-datados.
Isso justificaria a desordem cronológica. Ele também teria argumentado que as GTAs não comprovam venda de gado, somente o transporte.
Para o presidente do Senado, a PF não poderia fazer a perícia porque não tem autorização do STF e ele tem foro privilegiado por ser parlamentar.
Sem convencer os senadores, o passo seguinte foi tentar limitar a atuação da PF à autenticidade dos documentos, impedindo a investigação fiscal.

Ao longe
Durante a reunião da Mesa, Renan ficou na residência oficial, acompanhado do ex-senador Luiz Otávio (PMDB-PA). O senador Edison Lobão (DEM-MA) também passou por lá.
Ferrão disse aos integrantes da Mesa que não pretende recorrer ao Supremo para impedir a perícia, mas não descartou usar desse expediente mais adiante para anular os trabalhos do conselho.
"Existem momentos que podem ser utilizados para recorrer ao Supremo. Faremos isso em última hipótese", disse o advogado ao chegar ao Senado.
Na abertura da reunião da Mesa, tanto Ferrão quanto a presidente do PSOL, a ex-senadora Heloísa Helena, que é autora da representação contra Renan, tiveram 20 minutos cada para argumentações.
Segundo os presentes, o advogado acusou a PF e a imprensa de incriminar indevidamente o presidente do Senado.
Ainda de acordo com o relato dos que acompanharam a reunião, ele teria apelado ao corporativismo ao alertar os senadores que estariam abrindo um precedente perigoso ao dar à PF o direito de investigar membros da Casa.

Leia as questões do conselho www.folha.com.br/071982


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Aliado?: Governador de Alagoas diz ignorar destino de Renan
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.