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Senado aprova perícia da PF nos documentos de Renan
Decisão unânime da Mesa Diretora impinge nova derrota ao presidente da Casa
Polícia Federal tem 20 dias
para responder 30 questões
do Conselho de Ética; defesa
de Renan questiona medida
e vê "armadilha" do órgão
FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em mais uma derrota de Renan Calheiros (PMDB-AL) no
processo que enfrenta no Senado, a Mesa Diretora autorizou
ontem, por unanimidade, a Polícia Federal a fazer perícia em
documentos apresentados pelo
presidente da Casa. O pedido,
originado no Conselho de Ética, foi encaminhado ao ministro Tarso Genro (Justiça).
Até o último momento o presidente do Senado tentou impedir que o trabalho fosse feito
pela Polícia Federal. O peemedebista também atuou na tentativa de limitar as apurações.
Durante a reunião, pela manhã, o advogado de Renan,
Eduardo Ferrão, tentou excluir
duas das 30 perguntas do conselho que pautarão os trabalhos
da Polícia Federal.
O ministro da Justiça, à tarde, acatou o pedido do órgão,
mas afirmou que "detalhará a
competência" da Polícia Federal para fazer a perícia.
"O trabalho da Polícia Federal será restrito às questões debatidas no Conselho de Ética,
uma investigação mais ampla
só pode ser feita por determinação do Supremo Tribunal
Federal", disse Tarso.
A perícia pretende verificar,
em um prazo de 20 dias, se as
operações de venda de gado declaradas por Renan realmente
ocorreram. Ele é acusado de ter
despesas pessoais pagas pelo
lobista de uma empreiteira.
Na tentativa de provar que tinha renda suficiente, o presidente do Senado afirmou ter
ganho R$ 1,9 milhão nos últimos quatro anos com atividades agropecuárias.
Defesa
O advogado de Renan não
queria que a Polícia Federal verificasse se as notas fiscais
apresentadas por ele respeitaram a ordem cronológica, nem
se elas e as GTAs (Guias de
Trânsito Animal) correspondem ao gado vendido.
Laudo preliminar da PF
apontou inconsistências nesses documentos. As perguntas
relativas aos números 16 e 18 do
ofício encaminhado ao Ministério da Justiça tratam desse
ponto do caso:
1. "É possível afirmar, em cotejo com as datas e números
das dez notas fiscais anteriores
e as dez notas posteriores dos
respectivos talonários, que as
notas fiscais apresentadas respeitaram a ordem cronológica
de emissão -dia, mês e ano?";
2. "É possível afirmar que as
Guias de Trânsito Animal e as
notas fiscais correspondem ao
gado bovino vendido?"; ambas
contestadas pelo advogado.
De acordo com os presentes à
reunião, a alegação do advogado é que essas duas perguntas
poderiam funcionar como uma
armadilha para Renan, já que
supostos problemas administrativos poderiam ser utilizados para incriminá-lo.
Ainda de acordo com os presentes, Ferrão deu justificativas antecipadas sobre possíveis
problemas nesses quesitos. O
advogado teria afirmado que as
notas fiscais só são emitidas depois que os cheques são descontados, e nesse caso haveria
muitos cheques pré-datados.
Isso justificaria a desordem
cronológica. Ele também teria
argumentado que as GTAs não
comprovam venda de gado, somente o transporte.
Para o presidente do Senado,
a PF não poderia fazer a perícia
porque não tem autorização do
STF e ele tem foro privilegiado
por ser parlamentar.
Sem convencer os senadores,
o passo seguinte foi tentar limitar a atuação da PF à autenticidade dos documentos, impedindo a investigação fiscal.
Ao longe
Durante a reunião da Mesa,
Renan ficou na residência oficial, acompanhado do ex-senador Luiz Otávio (PMDB-PA). O
senador Edison Lobão (DEM-MA) também passou por lá.
Ferrão disse aos integrantes
da Mesa que não pretende recorrer ao Supremo para impedir a perícia, mas não descartou
usar desse expediente mais
adiante para anular os trabalhos do conselho.
"Existem momentos que podem ser utilizados para recorrer ao Supremo. Faremos isso
em última hipótese", disse o advogado ao chegar ao Senado.
Na abertura da reunião da
Mesa, tanto Ferrão quanto a
presidente do PSOL, a ex-senadora Heloísa Helena, que é autora da representação contra
Renan, tiveram 20 minutos cada para argumentações.
Segundo os presentes, o advogado acusou a PF e a imprensa de incriminar indevidamente o presidente do Senado.
Ainda de acordo com o relato
dos que acompanharam a reunião, ele teria apelado ao corporativismo ao alertar os senadores que estariam abrindo um
precedente perigoso ao dar à
PF o direito de investigar membros da Casa.
Leia as questões do conselho www.folha.com.br/071982
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