São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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Só reforma política elimina lobby empresarial, diz Lula

Petista defende financiamento público, mas diz que mudança depende só de partidos

Segundo o presidente, "financiamento público é mais barato e mais fácil de controlar", mas não cabe a Executivo impor a reforma

PEDRO DIAS LEITE
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois da tentativa fracassada de votar a reforma política na Câmara no primeiro semestre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que ela é "imprescindível" para acabar com a "hipocrisia", porque "está cheio de empresários com bancadas" de políticos.
Segundo o petista, quem recebe recursos para suas campanhas deve "favores" ao doador, situação que teria fim com a instituição do financiamento público de campanha.
Um dos integrantes do Conselhão, dom Demétrio Valentini, membro das pastorais sociais da Igreja Católica, defendeu que Lula se engajasse pessoalmente no tema, mas o petista disse que a reforma é dos partidos. "A reforma política é imprescindível porque nós precisamos acabar um pouco com a hipocrisia neste país. Vejam, se a gente for conversar com empresários pelo Brasil inteiro, está cheio de empresários com bancada de deputados, com bancada de senadores, com bancada de vereadores, de prefeitos, porque a lógica política é assim, a lei permite", afirmou.
Apesar de ter defendido a reforma durante a campanha eleitoral, Lula agora exime o Executivo de qualquer responsabilidade pela mudança. "Comecei a discutir, depois achei que não era uma coisa do Poder Executivo tentar determinar os partidos políticos e a discussão sobre reforma política."
A moralidade, segundo o presidente, está ligada ao financiamento público. "É mais barato, é mais fácil de controlar. E aí o cidadão eleito não fica devendo favor a ninguém."
Ontem, a Folha revelou que os planos de saúde injetaram 757% a mais de recursos nas campanhas eleitorais e ajudaram a eleger 31 parlamentares, quase o dobro dos 17 congressistas que defendiam seus interesses na legislatura anterior.

Falar por moda
No campo da retórica, o presidente, que em 2003 disse que "quando a gente é de oposição pode fazer bravatas", ontem afirmou que já falou muita coisa como sindicalista "porque era moda falar".
"Eu pego a minha experiência de 20 anos no movimento sindical e fico olhando a quantidade de coisas que eu falei e falava porque era moda falar, mas que não tinha substância para sustentar na hora em que você pega no concreto", disse.
O presidente falava das negociações entre trabalhadores e empresários para que o país mantenha a liderança no campo do biocombustível.
O petista também voltou a defender mudanças na lei trabalhista, "porque não é possível que Getúlio Vargas tenha tido a onipotência de Deus de, em 1940, fazer uma lei que prevaleça no mundo do trabalho de hoje na sua totalidade", numa referência à CLT (Consolidação das Leis do Trabalho, de 1943). Mas o presidente pediu, antes de tudo, que empresários e sindicalistas sejam mais flexíveis.
Segundo Lula, as mudanças devem contemplar especialmente o setor de serviços e o fim da informalidade.
Em discurso de mais de meia hora, Lula voltou a tratar da polêmica sobre um terceiro mandato. "Estou muito à vontade porque se tivesse eleição em 2010 e eu fosse candidato, aí diriam: é porque o Lula tem interesse. Graças a Deus, vocês não sabem o peso que eu tirei das costas pelo fato de saber que não sou mais candidato."


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