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Só reforma política elimina lobby empresarial, diz Lula
Petista defende financiamento público, mas diz que mudança depende só de partidos
Segundo o presidente, "financiamento público é mais barato e mais fácil de controlar", mas não cabe a Executivo impor a reforma
PEDRO DIAS LEITE
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois da tentativa fracassada de votar a reforma política
na Câmara no primeiro semestre, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse ontem que
ela é "imprescindível" para acabar com a "hipocrisia", porque
"está cheio de empresários com
bancadas" de políticos.
Segundo o petista, quem recebe recursos para suas campanhas deve "favores" ao doador,
situação que teria fim com a
instituição do financiamento
público de campanha.
Um dos integrantes do Conselhão, dom Demétrio Valentini, membro das pastorais sociais da Igreja Católica, defendeu que Lula se engajasse pessoalmente no tema, mas o petista disse que a reforma é dos
partidos. "A reforma política é
imprescindível porque nós precisamos acabar um pouco com
a hipocrisia neste país. Vejam,
se a gente for conversar com
empresários pelo Brasil inteiro,
está cheio de empresários com
bancada de deputados, com
bancada de senadores, com
bancada de vereadores, de prefeitos, porque a lógica política é
assim, a lei permite", afirmou.
Apesar de ter defendido a reforma durante a campanha
eleitoral, Lula agora exime o
Executivo de qualquer responsabilidade pela mudança. "Comecei a discutir, depois achei
que não era uma coisa do Poder
Executivo tentar determinar os
partidos políticos e a discussão
sobre reforma política."
A moralidade, segundo o presidente, está ligada ao financiamento público. "É mais barato,
é mais fácil de controlar. E aí o
cidadão eleito não fica devendo
favor a ninguém."
Ontem, a Folha revelou que
os planos de saúde injetaram
757% a mais de recursos nas
campanhas eleitorais e ajudaram a eleger 31 parlamentares,
quase o dobro dos 17 congressistas que defendiam seus interesses na legislatura anterior.
Falar por moda
No campo da retórica, o presidente, que em 2003 disse que
"quando a gente é de oposição
pode fazer bravatas", ontem
afirmou que já falou muita coisa como sindicalista "porque
era moda falar".
"Eu pego a minha experiência de 20 anos no movimento
sindical e fico olhando a quantidade de coisas que eu falei e
falava porque era moda falar,
mas que não tinha substância
para sustentar na hora em que
você pega no concreto", disse.
O presidente falava das negociações entre trabalhadores e
empresários para que o país
mantenha a liderança no campo do biocombustível.
O petista também voltou a
defender mudanças na lei trabalhista, "porque não é possível
que Getúlio Vargas tenha tido a
onipotência de Deus de, em
1940, fazer uma lei que prevaleça no mundo do trabalho de hoje na sua totalidade", numa referência à CLT (Consolidação
das Leis do Trabalho, de 1943).
Mas o presidente pediu, antes
de tudo, que empresários e sindicalistas sejam mais flexíveis.
Segundo Lula, as mudanças
devem contemplar especialmente o setor de serviços e o
fim da informalidade.
Em discurso de mais de meia
hora, Lula voltou a tratar da polêmica sobre um terceiro mandato. "Estou muito à vontade
porque se tivesse eleição em
2010 e eu fosse candidato, aí diriam: é porque o Lula tem interesse. Graças a Deus, vocês não
sabem o peso que eu tirei das
costas pelo fato de saber que
não sou mais candidato."
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