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BC vê indícios de lavagem no Opportunity
Apesar de auditorias apontarem irregularidades há cinco anos, processo só foi aberto no ano passado e não houve punição
Banco Central registra que, desde 1999, o Opportunity "nunca efetuou qualquer comunicação" a conselho
sobre operações suspeitas
CATIA SEABRA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Há cinco anos, o Banco Central aponta, em relatórios, indícios de prática de lavagem de
dinheiro pelo banco Opportunity. O processo administrativo
contra o banco -fundado por
Daniel Dantas- só foi aberto
no dia 7 de novembro do ano
passado.
Segundo conclusão do Decic
(Departamento de Combate a
Ilícitos Financeiros e Supervisão de Câmbio e Capitais Internacionais), o Banco Central
identificou indícios de irregularidades "relativas a detectação
e comunicação de operações
suspeitas de lavagem de dinheiro". Entre eles, movimentações
de recursos incompatíveis com
patrimônio e renda do cliente.
No relatório de avaliação de
Controles Internos e Compliance (procedimentos de prevenção à lavagem de dinheiro),
o BC chega a listar exemplos de
clientes com movimentação
acima de sua capacidade financeira. É o exemplo de um militar aposentado com renda de
R$ 9 mil mensais e patrimônio
de R$ 335 mil, mas com R$ 9
milhões em aplicações.
Outro caso é do físico com
renda mensal de R$ 10 mil e patrimônio de R$ 642 mil, mas
com R$ 17 milhões em aplicações. A falta de documentação
necessária para a abertura de
contas também é um dos alvos
de suspeita do Banco Central.
Embora essas sejam as conclusões do trabalho de fiscalização realizados entre abril e
maio de 2006, alguns indícios
de irregularidade são registrados desde 2003, segundo relatório de auditoria ao qual a Folha teve acesso.
Por exemplo, desde de sua
fundação, em 1999, "o Banco
Opportunity nunca efetuou
qualquer comunicação" ao
Coaf (Conselho de Controle e
Atividades Financeiras) sobre
operações suspeitas de lavagem de dinheiro.
Ainda segundo processo do
Banco Central -anexado ao inquérito da Operação Satiagraha- os indícios de irregularidade se repetiam, sendo constatados ano a ano.
Já em 2005, documento do
BC apontava para a suspeita de
evasão de divisas: "Conclui-se
com base nas informações coletadas que o Banco Opportunity participou ativamente no
descumprimento de obrigações previstas na legislação de
competência da CVM, que podem ter ensejado transferências irregulares de recursos de
residentes [no Brasil] para o exterior", afirma documento de
10 de agosto de 2005.
Hoje, um dos fatos apontados como indício de irregularidade -o uso de procuração para a movimentação financeira- já vinha sendo diagnosticada. No relatório, o BC chama
atenção, por exemplo, para o
fato de o diretor responsável
pelo cumprimento de medidas
de combate à lavagem de dinheiro ser procurador de 16
clientes do banco, entre eles
empresas associadas à família
de Dantas.
Outro exemplo é de um mesmo CPF movimentar 28 diferentes contas na instituição.
O relatório registra ainda, como "fato comum na instituição", a participação de pessoas
ligadas às empresas da família
Dantas em atividades do Opportunity, sem vínculo formal
com o banco.
Ainda de acordo com o Banco
Central, a estrutura de funcionamento do Opportunity é tão
parecida com a de cinco anos
atrás que, no relatório, foi dispensada até comparação entre
o cenário de 2003 e de 2006.
Segundo análise do BC, há
ainda prática de abertura de
conta sem apresentação de documentação. "Um fato observado na última Acic, e que continua a ser apresentado, são os
participantes das reuniões, nas
atas, não terem seus cargos
descritos", afirma o relatório.
O BC já lançava suspeitas sobre o funcionamento do banco
desde de 2002. No relatório de
2002, mereceu destaque a movimentação financeira do próprio Dantas. "Sua ficha cadastral não dá origem de recursos,
omitindo patrimônio e renda".
Em setembro, o saldo de aplicações era de R$ 111,5 milhões.
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