São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2000


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CASO TRT
Em depoimento, presidente de tribunal afirma que ex-juiz foragido "alardeava" ligação com ex-assessor de FHC
Juízes dizem que Nicolau era amigo de EJ

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Juízes da seção paulista do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) disseram que o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, que está foragido da Justiça, era amigo do ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge.
Em depoimento anteontem ao Ministério Público Federal, o presidente do TRT-SP, Floriano Corrêa Vaz da Silva, disse que "ouviu de um juiz", há cerca de dois ou três anos, que "essa amizade chegou a ponto de Eduardo Jorge ter se hospedado no apartamento de Nicolau, em Miami (EUA)".
O apartamento, avaliado em US$ 1 milhão, teria sido alvo de uma venda de fachada, com o objetivo de livrar o imóvel do bloqueio judicial de bens imposto a Nicolau.
O presidente do TRT-SP não revelou o nome do juiz, mas informou que estaria disposto a fazê-lo em depoimento à subcomissão do Senado, previsto para a próxima terça-feira.
A suposta influência de EJ na liberação de verbas para a obra superfaturada do Fórum Trabalhista de São Paulo está sendo investigada pelo Ministério Público.
Em seu depoimento, Vaz da Silva afirmou que entre as pessoas com as quais Nicolau "alardeava" sua amizade com EJ estavam os ex-presidentes do TRT-SP José Victório Moro (92-94) e Rubens Aidar (94-96).
Os dois foram ouvidos ontem, às 17h30, pela Procuradoria, no próprio tribunal. O objetivo, segundo o Ministério Público Federal, é obter informações sobre o procedimento do ex-juiz.
Em entrevista ontem à Folha, os dois ex-presidentes disseram que "todo mundo do TRT" sabia do relacionamento de Nicolau com EJ e com outros "figurões" de Brasília.
"Ele falava mesmo que conhecia muita gente importante, entre elas o Eduardo Jorge. Na época, eu nem sabia a importância dele (EJ)", afirmou Moro.
Segundo Aidar, Nicolau era conhecido por ter bom trânsito entre os políticos. "De todos os presidentes que passaram pelo TRT, foi o único que conseguiu a verba para a obra."
A Procuradoria disse que, em seu depoimento, o presidente do TRT-SP não conseguiu explicar por que procurou intermediários em Brasília para tentar conversar com a Advocacia Geral da União (AGU), que mantém um escritório em São Paulo.
Floriano Vaz da Silva afirmou que, no final de 98, encontrou-se com o ministro Renan Calheiros (PMDB-AL), que intermediou um encontro com EJ, em um apartamento em Brasília. O ex-secretário-geral, por sua vez, deveria intermediar um encontro com a AGU.
O presidente do TRT disse à Procuradoria que seu interesse era a nomeação de juízes classistas e discutir o processo movido contra a União sobre as irregularidades da obra.
Em entrevista à Folha, no último dia 4, Vaz da Silva havia apresentado outra versão. Ele havia dito que procurou Calheiros para tratar da liberação de verba para o término da obra do fórum. Calheiros teria entrado em contato com EJ, que, na época, não fazia mais parte do governo.
Um dia após a publicação da entrevista, Vaz da Silva retificou as afirmações e disse que o principal motivo da viagem não era o término da obra, mas discutir o processo movido contra a União.
O advogado de Eduardo Jorge, José Gerardo Grossi, foi procurado ontem pelo celular e em seu escritório, mas não foi localizado.


Colaborou JULIA DUAILIBI, da Reportagem Local


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