São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

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CRISE CAPIXABA

Relatório cita pessoas que ocupam ou ocuparam cargos nos Poderes estaduais e na Polícia Civil
Autoridades estão ligadas ao crime organizado, diz ONG

FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA

Mesmo após indiciamentos em inquéritos policiais, denúncias do Ministério Público e citações no relatório final da CPI do Narcotráfico, acusados de envolvimento com o crime organizado no Espírito Santo ocupam, ou ocuparam até recentemente, importantes cargos nos Poderes estaduais e na Polícia Civil.
Essa é a tônica do relatório elaborado pela ONG Centro de Justiça Global, em abril, e encaminhado para o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
O documento foi embasado nas investigações do detetive da Polícia Civil Francisco Badenes Júnior. Ele investigou a Scuderie Detetive Le Cocq, organização acusada de ser o braço armado do crime organizado, por dez anos. Dela fazem parte policiais, advogados, juízes, promotores, empresários e funcionários públicos.
"No poder Judiciário há protelação de depoimentos relevantes, no Ministério Público não se acompanham inquéritos, na Polícia Civil as provas colhidas pelos peritos desaparecem ou são manipuladas. Há confissões e álibis forjados", diz o inquérito.
Em gráfico apresentado pelo detetive à Câmara dos Deputados, em janeiro de 2000, o ex-governador e então ministro da Defesa, Élcio Álvares (PFL), aparece no topo do "sindicato criminoso". Uma semana após a apresentação de Badenes, Álvares deixou o governo. Este ano o ex-ministro ensaiou uma candidatura ao Senado, mas a retirou um dia antes da aprovação do pedido de intervenção federal pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, no dia 4 de julho.
O atual presidente da Assembléia Legislativa, José Carlos Gratz (PFL) vinha logo abaixo de Álvares no esquema organizacional. Ex-banqueiro do jogo do bicho, ele está pleiteando seu quarto mandato de deputado.
Ainda nos quadros do PFL, o deputado estadual Gilson Lopes também é acusado de envolvimento com o crime organizado. Em 2001, Lopes presidiu a CPI da Propina, criada para apurar denúncias de corrupção no governo de José Ignácio Ferreira (PTN). Ele é candidato à reeleição.
O documento encaminhado à ONU cita ainda o ex-presidente da Le Cocq Mário Rodrigues Lopes, o policial João Manoel Rodrigues e o delegado Ismael Foratini.
Lopes foi secretário de Segurança Pública até o início deste ano e agora é superintendente de Polícia do Interior. Rodrigues ocupou a chefia da Polícia Civil até o último dia 9 de julho e agora é delegado da Polinter (Polícia Interestadual e Delegacia de Capturas). Foratini é delegado-chefe da Divisão de Transportes e Manutenção.
No poder Judiciário são apontados o desembargador Geraldo Corrêa Lima, hoje aposentado, e a então promotora de Justiça da 9ª Vara Criminal de Vitória, Eloísa Helena Chiabai. Hoje Chiabai está na Promotoria Cível de Vitória.
Nem o presidente da OAB-ES, Agesandro Pereira, que pediu a intervenção federal no Estado, escapa das relações com a escuderia. Seu nome não está no relatório da ONG, mas, além de ter sido homenageado pela Le Cocq no dia 21 de novembro de 1990, conforme ata de reunião da entidade, ele pediu o apoio de 42 advogados pertencentes à Scuderie, na disputa pela presidência da OAB em 1992. Em troca, Pereira colocou em sua chapa o então presidente da escuderia, José Almério Petronetto. A reunião, realizada em 16 de novembro de 1992, está registrada em ata.


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