São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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"CONFIDÊNCIA"

Presidente brasileiro disse a colega da Costa Rica que viajou ao Gabão para aprender como obter reeleições

Lula brinca sobre "ficar 37 anos no poder"

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SANTO DOMINGO

No momento em que a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva é debatida por deputados e ministros, o presidente disse ao seu colega da Costa Rica, em tom de descontração, que ele "viajou ao Gabão para aprender como um presidente consegue ficar 37 anos no poder".
Mais tarde, falando de improviso a cerca de 80 brasileiros que vivem na República Dominicana, Lula disse que hoje pode "sorrir um pouco" após um primeiro ano de governo com "muitas dificuldades": "A situação do Brasil está... finalmente eu posso sorrir um pouco, porque nós passamos um primeiro ano com muitas dificuldades, mas sabíamos que era difícil, porque, se estivessem as coisas boas, nós não teríamos ganho as eleições. Nós só ganhamos exatamente porque as coisas estavam muito ruins", disse ontem.
Pouco antes desse encontro, Lula havia se reunido com o presidente costarriquenho Abel Pacheco de la Espriella. Num momento de descontração, segundo a assessoria da Presidência, Lula disse ao colega: "Agora eu fui a uma viagem ao Gabão aprender como um presidente consegue ficar 37 anos no poder e ainda se candidatar à reeleição". O tema da reeleição de Lula em 2006 é tratado como prioridade tanto pelo ministro José Dirceu (Casa Civil) como pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
No final do mês passado, em encontro com agricultores no Planalto, Lula também mencionou o assunto: "Pô, o Lulinha só tem um ano e meio de governo, e os caras [oposição] ficam me cobrando. Lá na África tem presidente que está há 30 anos no cargo [no caso, Omar Bongo, do Gabão, há 37 anos no cargo]. Mas, se alguém reclamar por lá, é pau", disse, segundo relatos feitos à Folha por pessoas presentes ao evento. Lula esteve no Gabão no final de julho.
Ontem, no discurso aos brasileiros, Lula falou sobre a iniciativa brasileira de integrar "fisicamente" toda a América do Sul até o final do ano, de buscar novas parcerias na América Latina e no Caribe e sobre o papel que teve na realização do referendo na Venezuela, afirmando que teve de jogar "muitas pelejas" com os EUA e com o governo de Hugo Chávez.
"No Brasil tem uma parte das pessoas, que não depende da minha vontade, que tem a cabeça colonizada. Lamentavelmente é assim", disse, no momento em que citava a importância de respeitar, mas de cabeça erguida, os Estados Unidos e a União Européia. Pouco antes, disse que o Brasil muitas vezes não teve "coragem" de buscar seus direitos na OMC (Organização Mundial do Comércio).
No início do mês, Lula já havia feito tal crítica um dia após o presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) ter ironizado as negociações que entrem em confronto com os norte-americanos. À época, Lula disse: "Não falta, no Brasil, pessoas com mentalidades subalternas, achando que nós precisamos depender das políticas que os países ricos fazem."
Ontem pela manhã, Lula assinou documento que deu início às negociações para criar uma zona de livre comércio entre América Central, Caribe e América do Sul.


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