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Petista festeja partida no Haiti, mas esquerda reclama
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva comemora hoje o jogo amistoso da seleção brasileira de futebol no Haiti, mas ainda persistem
as críticas no Brasil à decisão de
comandar a força de paz no país,
inclusive da esquerda do PT.
O deputado Ivan Valente (PT-SP) disse ontem que o Brasil pode
estar sendo usado como "mão de
gato" dos interesses americanos
no Haiti, isto é, fazendo a preparação do terreno político para que
os americanos voltem a mandar
no país, "como sempre". Na votação sobre o envio de tropas brasileiras à ilha, ele apresentou voto
em separado contra a decisão.
O Brasil lidera a força de paz da
ONU que tenta dar estabilidade
ao país, cujo presidente Jean-Bertrand Aristide deixou o poder sob
ataques rebeldes e acusando os
EUA de estarem por trás de sua
queda, em fevereiro. "Os EUA já
estão no Iraque e no Afeganistão,
é claro que eles querem ter uma
mão de gato americana no Haiti.
Ou alguém acredita que desistiram do país?", questionou.
Também a deputada Maninha
(PT-DF), da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, tem
ressalvas. Ela votou a favor da
participação brasileira na força de
paz, mas voltou ontem da Venezuela com dúvidas sobre o Haiti.
"As ONGs, especialmente do Reino Unido e da Espanha, nos fizeram muitos questionamentos em
Caracas sobre a participação do
Brasil no Haiti", disse. Ela recebeu
relatos de Gérard Pierre-Charles,
da ONG Organização do Povo em
Luta, do Haiti, dizendo que os seqüestros continuam e que há uma
sensação crescente de que a "intervenção estrangeira impede o
país de se resolver sozinho".
Para o ex-chanceler Celso Lafer,
o jogo da seleção hoje é "a expressão da política externa como política do espetáculo", mas ele discorda das críticas à participação
brasileira na força de paz. Para ele,
dizer que o Brasil está servindo a
interesses dos EUA é "excessivo".
Para o ministro da Defesa, embaixador José Viegas, o Brasil já
participou de outras tropas de
paz, em Moçambique, Angola e
Timor Leste e está no Haiti para
"ajudar a reconstrução do país".
A questão divide especialistas e
políticos, principalmente porque
é uma experiência prática de uma
política externa que se diz "ativa e
pró-ativa" e que busca ampliar
não só a participação, mas a liderança do Brasil no mundo.
O objetivo prático é obter um
assento permanente no Conselho
de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). Para
quê? Resposta de Viegas: "Não
queremos dar um passo maior
que a perna, queremos participar
dos mecanismos de decisão e
contribuir, assim, para a paz, o
diálogo, as ações concertadas na
região e no mundo".
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