São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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MÍDIA E PODER

Jornalista Luis Costa Pinto assina contrato de trabalho com Coca-Cola

Assessor da Câmara atua para empresa

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O jornalista Luis Costa Pinto, que exerce desde o início de 2003 a função de consultor do presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT), foi contratado pela Coca-Coca no final do ano passado para atuar em defesa da empresa no Congresso.
Entre outras tarefas, Costa Pinto propõe, segundo documento obtido pela Folha, que sua empresa de consultoria, a Idéias, Fatos e Texto, converse com parlamentares para defender a Coca Cola de "falsas denúncias" de que estaria sendo alvo no Congresso e, além disso, monitore os trabalhos da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos do Consumidor para atender as demandas da empresa.
Costa Pinto recebeu da Recofarma, nome jurídico da Coca-Coca no Brasil, R$ 60 mil nos meses de novembro e dezembro de 2003, segundo ele próprio afirmou em entrevista à Folha, ontem.
Embora não seja funcionário contratado da Câmara e receba por uma microempresa, Costa Pinto é o principal assessor de imprensa de João Paulo. Mantém contatos diários com colunistas, diretores das sucursais de jornais e revistas e repórteres que atuam no Congresso.
"Acompanhamento do caso junto aos repórteres que cobrem a rotina da Secretaria de Direito Econômico. Panorama da circulação das falsas denúncias no Congresso", diz o texto que traz assinatura atribuída a Costa Pinto e enviado a Jack Corrêa, funcionário da Coca-Cola. O jornalista colocou ontem em dúvida a totalidade do documento em que discute a sua contratação.
Costa Pinto disse que trocou mensagens com Corrêa. Primeiro afirmou que "não reconhecia" trechos do documento lido ontem pela Folha. Depois, que não se lembrava de todo o conteúdo.
Pinto aceitou como "correto" o seguinte trecho: "O objetivo [da contratação] é manter uma fina sintonia com os formadores de opinião da mídia sobre as falsas denúncias que estão a chegar nas redações de São Paulo e Rio de Janeiro e que envolvem o nome da Coca-Cola e de empresas a ela ligadas. Além disso, estreitar o relacionamento desses formadores de opinião da mídia com a direção da empresa".
O documento obtido pela Folha é o mesmo que foi entregue pela Dolly Refrigerantes ao Ministério Público do Distrito federal, que o anexou ao procedimento administrativo que apura suposta concorrência desleal da Coca-Cola. As duas empresas travam uma acirrada disputa comercial.
Na época da contratação do jornalista pela Coca-Cola, a Câmara discutia um convite ao presidente da empresa no Brasil, Brian Smith, para depoimento na Comissão Permanente de Defesa do Consumidor. O executivo participou de audiência pública na Câmara em junho último.


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