São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 2005

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FESTA E PODER

Segundo empresário cujo nome está na lista de telefones de Jeany Mary Corner, havia clientes "figurões da República"

"O preço depende do bolso de quem solicita e da menina"

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O parlamentar atende ao celular e responde em voz alta: "É o senador Valmir Amaral". Do outro lado da linha, a reportagem se apresenta, dizendo que o número do senador está entre os acionados por Jeany Mary Corner, suposta agenciadora de meninas de programa para festas com políticos pagas pelo caixa de Marcos Valério de Souza.
Amaral (PP-DF) soa desconcertado e diz que é apenas "amigo" de Jeany. Questionado sobre se costuma utilizar os serviços da agenciadora, diz que não responderá mais nada. E desliga.
Conhecido pelas festas de arromba que promove em sua casa no Lago Sul, o senador ouviu reclamações quando recebeu para comemorar a candidatura de Renan Calheiros à presidência do Senado, em fevereiro. Algumas mulheres de parlamentares não gostaram de dividir o ambiente com garotas de programa.
"Ah, então são assim as festas que você freqüenta em Brasília?", teria perguntado a mulher de um senador.
A Folha teve acesso a uma lista de 50 telefones acessados por Jeany: muitos caíam em caixa postal, outros em interlocutores que se faziam de desentendidos e desligavam, motoristas de táxi e gente que se dizia surpresa.
Outros, como Rogério Buratti, ex-secretário do hoje ministro Antônio Palocci (Fazenda), em sua primeira gestão como prefeito de Ribeirão Preto, assumiram a "amizade" com Jeany. Buratti conta que, por meio de uma "amiga" chamada Patrícia, esteve "umas duas vezes" com Jeany.
A fama nacional da agenciadora veio tarde, aos 45 anos, completados em 25 de julho. Mas o nome Jeany Mary Corner é, há muito, conhecidíssimo em hotéis de Brasília e no Congresso.
Ela odeia a palavra "cafetina". Chamada a depor no Conselho de Ética da Câmara, a agenciadora dirá, em qualquer instância, que "organiza festas" e oferece "recepcionistas selecionadas". Quem diz são amigos policiais.
Jeany não atende ao celular nem a porta de seu escritório na Asa Sul. Intermediários dizem que ela só vai contar o que sabe em troca de dinheiro. Seria uma retaguarda, dizem, para garantir o período em que, por causa das revelações, ficaria sem trabalho. Tratam do assunto com desenvoltura, chutando cifras altas: "US$ 2 milhões, R$ 3 milhões".
Segundo eles, a "organizadora de festas" toma remédio para controlar a pressão e não permite que as meninas que trabalham para ela bebam ou se droguem.
Segundo os festeiros, essas meninas fazem serviço completo. Cobram de R$ 100 a R$ 10 mil por programa, segundo conta um empresário cujo número do celular também está na lista dos acionados por Jeany.
"O preço depende do bolso de quem solicita e da menina. Ela traz gente de todo o Brasil, capas de revistas de mulheres nuas. E entre os clientes estão figurões da República", conta. Segundo afirma, ele conheceu a "organizadora de festas" em um bar de Brasília chamado Armazém do Ferreira. "Nem sabia que ela lidava com isso. Fiquei sabendo pelos jornais." E por que o telefone dele aparece tanto na lista? "Com o tempo, nos tornamos amigos de celular", ele ri.
Outro número que aparece na lista de Jeany é o do filho mais velho dela, Paulo, 25: "Não perde o seu tempo, véio", ele interrompe o repórter, "adianto logo que não vou falar nada sobre o assunto", diz, irredutível.
Um amigo de Paulo, também com o número na lista, conta que conheceu o rapaz em uma mesa no Bar Bexiga, na 405 Sul. "Ele faz educação física, é bombadinho, mal encarado; eu o conheci em uma mesa de bar. Ultimamente, o que ouvia dos outros caras é que ele estava muito envergonhado. Tinha até a brincadeira de que ele era um autêntico "filho da p...'", conta o amigo.
Nas casas freqüentadas por garotas de programa em Brasília, como Bonaparte, Gol e Apple, as meninas dizem que o programa está na faixa dos R$ 300. "Vai na casa do Lago Sul, bobo, é lá onde as coisas acontecem", ela diz, referindo-se à mansão onde supostamente se comemoravam os rombos nos cofres públicos.
Ninguém atende à campainha na casa. "Desiste", aconselha uma freqüentadora da noite. "Agora, não vai ter festa em Brasília tão cedo."


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