São Paulo, Quarta-feira, 18 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Perdão" não impulsiona agricultura

GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia da Sucursal de Brasília

As sucessivas renegociações de dívidas rurais promovidas desde o início do governo Fernando Henrique Cardoso não resultaram em aumentos da produção agrícola ou na criação de uma política definitiva para o setor.
Já no primeiro ano da gestão FHC, os ruralistas conseguiram a retirada da TR (Taxa Referencial) da correção do crédito agrícola e uma renegociação de R$ 7,1 bilhões em dívidas a juros de 3% anuais.
Antes do acordo, o país havia colhido naquele ano 81,06 milhões de toneladas de grãos, recorde para o período. Em 1996, a safra despencou para algo próximo a 71,5 milhões de toneladas.
Neste ano, espera-se uma nova safra recorde, mas o volume da colheita deverá ser praticamente igual ao de 1995, pouco superior aos 81 milhões de toneladas de grãos.
Em resumo, nesse período cresceram os gastos federais com a agricultura, sem que a produção brasileira tenha se aproximado dos 100 milhões de toneladas, uma espécie de meta permanente dos últimos governos.
As regras fixadas também não se mostraram perenes. O combinado na renegociação de 1995 não resistiu à primeira etapa dos pagamentos prometidos pelos agricultores -que em 1997 pagaram apenas R$ 350 milhões de R$ 700 milhões acertados.
Há no governo uma contradição básica e permanente no tratamento da política agrícola. A equipe econômica, movida pela necessidade imediata de controlar as contas públicas, fica contra o aumento dos subsídios à agricultura, enquanto o pragmatismo político manda aceitar as exigências dos ruralistas.
No final das contas, não se sabe que papel o Estado pretende assumir para estimular o desenvolvimento agrícola. Basta dizer que o Ministério da Fazenda e o Banco Central mal disfarçam o desejo de privatizar o Banco do Brasil, principal financiador do setor.


Texto Anterior: Acordos refletem fragilidade
Próximo Texto: Janio de Freitas: A pretexto da droga
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.