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JANIO DE FREITAS
Tensão e apatia
Os oito assassinatos no sul
do Pará, mais um em Pernambuco e as ocupações brutas
de duas agências bancárias em
Buritis, perto de Brasília, são
um prenúncio a mais de que o
quase imobilismo do governo,
em contraste com o agravamento dos conflitos rurais já indicado pelas crescentes invasões, está levando longe demais o risco
de um repentino episódio explosivo. Como a matança de Eldorado do Carajás, outra das expulsões resultantes em confrontos violentos ou demais barbaridades do gênero.
O imobilismo só não é completo porque uma fração do governo, o Ministério da Justiça, foi
ativado pelo ministro Márcio
Thomaz Bastos para investigar
os assassinatos, por pistoleiros
no sul do Pará, de sete agricultores e um suposto fazendeiro, todos com tiros na nuca. Só nessa
região, no governo Lula já foram assassinadas 30 pessoas,
média de uma a cada oito dias.
Os padres que por lá vivem estão todos sob ameaça de morte.
De Norte a Sul, espalham-se focos de tensão crescente.
Ou melhor, o presidente do
PT, José Genoino, que em resposta ao agravamento da situação o governo elabora uma
campanha cujo lema é "Paz no
campo, contra a violência e a
impunidade". Nesse caso, deve-se esperar que lados conflituosos
mudem seus propósitos ao ver
os jingles bem pagos pelo governo na TV. José Genoino, porém,
consegue ser ainda mais cômico,
com o imediato diagnóstico de
que "as mortes no Pará não se
relacionam a movimentos sociais". Decorreram, pode-se então imaginar, de divergências
entre os mandantes dos pistoleiros e os assassinados em torno
da nova contestação a Einstein.
Também depois das mortes no
Pará, o ministro José Dirceu sustentou que a dificuldade está na
falta de dinheiro para a reforma
agrária. É assim e não é. Falta
dinheiro para a reforma, mas
não porque haja falta de dinheiro. O governo prometeu espontaneamente ao FMI fazer um
saldo astronômico, no confronto entre suas receitas e despesas.
Saldo maior para pagar juros,
esses juros que o próprio governo mantém em nível de recorde
mundial, para felicidade e fortuna da ciranda financeira. Logo, dinheiro há, para a destinação que o governo prefere e pratica. E não é a reforma agrária,
nem como beneficiária de uns
trocados.
Nem só de falta de dinheiro se
faz o imobilismo. Faz-se também da falta de iniciativas que,
por sua vez, sugere falta de interesse em buscá-las. Para citar
uma providência necessária e,
no entanto, inexistentes, é injustificável que não haja comissões
mistas em cada um dos pólos de
maior tensão e risco, para atenuar, intermediar, ajudar no
possível com a presença do Estado, como prevenção e, quem sabe, como solução.
O PT gostava tanto da expressão "falta de vontade política"
que, pelo visto, não a quis esquecida. Apenas mudou o modo de
empregá-la.
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