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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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CAMPO MINADO

Área de 142 hectares foi comprada por produtores de Mato Grosso do Sul para que MST desocupasse outra fazenda

Ruralistas "emprestam" área a sem-terra

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Em ações aparentemente não coordenadas em quatro Estados, proprietários rurais cederam áreas para abrigar sem-terra -que invadiram fazendas ou fizeram protestos- na tentativa de evitar conflitos agrários.
No início deste mês, em Mato Grosso do Sul, o MST recebeu uma área de 142 hectares comprada às pressas por R$ 360 mil em Dourados (219 km de Campo Grande) e ainda ganhou 30 bezerros. Os 900 sem-terra vão ficar no local até serem assentados.
O secretário municipal do Desenvolvimento Econômico de Caarapó (MS), Guaracy Boschiglia Júnior, 39, disse que um grupo de proprietários rurais resolveu se unir para comprar a área, mas decidiu permanecer no anonimato. No cartório de registros em Dourados, Guaracy é oficialmente o dono da propriedade.
O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) reuniu, segundo Guaracy, os fazendeiros. Na reunião, foi acertada a compra da terra e dos 30 bezerros. O presidente do MNP (Movimento Nacional dos Produtores Rurais), João Bosco Leal, disse ontem não acreditar que ruralistas tenham se unido para comprar uma área para o MST.
Para Leal, o superintendente regional do Incra, Luiz Carlos Bonelli, negociou a compra da área feita por Guaracy. A Agência Folha procurou Bonelli na terça-feira e ontem, mas foi informada de que ele estava em Brasília. A reportagem deixou recado para que a secretária comunicasse ao superintendente o pedido de entrevista.
"Nós temos um prazo de 90 dias, acertado com o Incra, para permanecer nas terras [compradas por Guaracy] até a vistoria de uma fazenda para assentar as famílias", disse o coordenador estadual do MST Márcio Bissoli.
Segundo ele, o Incra e o governo do Estado ficaram responsáveis por arrumar uma área para os sem-terra desocuparem a fazenda invadida. O secretário estadual do Desenvolvimento Agrário, Valteci Ribeiro de Castro Júnior, disse que ruralistas compraram a área. O MST invadiu a fazenda Coimbra em Itaporã (MS) no dia 24.
Ontem, o MST do noroeste mineiro recusou a oferta de uma fazenda cedida por um defensor público (leia texto abaixo).
No início deste mês, donos da Usina Santa Clotilde concordaram em vender a área ao Incra sob a condição de que sem-terra ligados à CPT diminuíssem o espaço invadido em outra fazenda da empresa em Murici (AL).
Em 16 de agosto, em São Gabriel (RS), o MST montou numa propriedade de 8 ha cedida pelo agricultor Antônio Pinto um acampamento com os integrantes da marcha de 350 quilômetros que se encerrou naquele dia.


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