São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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Viagem de Eike reforçou tese de vazamento

Uma das 4 razões apontadas pela PF é que empresário e vice da MMX estavam no exterior quando a Toque de Midas foi deflagrada

Além disso, advogados foram à Justiça para saber da operação antes de ela ocorrer, e a PF descobriu que provas quase não serviam


JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACAPÁ

Quatro situações levaram a Polícia Federal a concluir que a Operação Toque de Midas chegou ao conhecimento da MMX, empresa de Eike Batista, antes de ser realizada. Romero Menezes, diretor-executivo da PF, chegou a ser preso pela suspeita de ser o autor do vazamento. Ele já foi liberado.
A operação foi realizada em julho deste ano e investiga se a empresa se beneficiou de um suposto direcionamento de uma licitação estadual para a concessão de uma ferrovia.
A suspeita de vazamento se tornou certeza no dia da operação, segundo a Folha apurou. Ao cumprir os mandados de busca e apreensão, descobriu-se que todos os principais suspeitos haviam viajado.
Eike estava em Nova York. Flávio Godinho, vice-presidente da empresa, havia ido para Miami. Braz Josaphat, apontado como "lobista" do grupo com o governo do Amapá, estava em Brasília. José Frederico, ex-funcionário da MMX, viajara para Santana (AP).
Apenas Eike justificou sua ausência, dizendo que estava nos EUA passando férias com a família. Uma possibilidade cogitada foi a de que as viagens ao exterior faziam parte de uma estratégia para evitar possíveis prisões dos dois homens mais poderosos da mineradora.
Ontem, a Folha não conseguiu contatar Godinho, Josaphat ou Frederico. Todos sempre negaram irregularidade na licitação, assim como Eike.
As suspeitas de vazamento se iniciaram uma semana e meia antes da operação, quando advogados contratados pela empresa foram até à Justiça Federal em Macapá, que cuidava do caso, para buscar informações sobre a investigação. Mesmo diante da negativa por escrito de uma juíza sobre qualquer mandado, e diante do segredo de Justiça do inquérito, os advogados insistiam em saber o que estava sendo articulado.
Outro ponto que levou à conclusão de que houve vazamento ocorreu na semana da operação, quando os representantes da MMX conversaram com Anderson Rui Fontel, superintendente da PF no Amapá. Disseram a Fontel que sabiam que a investigação estava sendo feita e que, se havia algum segredo até então, não existia mais.
Por último, descobriu-se posteriormente que as provas colhidas quase não tinham serventia à investigação, o que contrariava o apurado nas interceptações telefônicas. Segundo uma pessoa envolvida na investigação ouvida pela reportagem, há uma forte suspeita de que, sabendo que teriam casas e escritórios revistados, os suspeitos recolheram o que os poderia incriminar.
Contatada, a PF no Amapá não quis comentar o caso.


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