São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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TODA MÍDIA

Selvagem

NELSON DE SÁ

Egberto Batista, o "pai" da propaganda negativa no Brasil, continua em ação. Segundo o jornal "A Crítica" de ontem, o marqueteiro atua no segundo turno em seu exílio interno, na Amazônia.
Mas a propaganda negativa está viva como nunca por aqui, agora com novos e famosos marqueteiros. Se não chega aos extremos de 15 anos atrás, na histórica campanha collorida, está disseminada.
 
Antes, aos Estados Unidos, onde tudo começou.
"The New York Times" e "Los Angeles Times" destacaram ontem reportagens sobre a publicidade "de ataque", que na atual campanha entrou num "novo e amargo território".
Os dois jornais lembram que, em sua versão moderna, a propaganda negativa tem o seu marco na campanha de 1964, com um comercial democrata que mostrava uma menina brincando com uma margarida -ao fundo, um cogumelo de explosão atômica.
Entrou para a história como o "comercial margarida".
Não chegam a tanto as inserções deste ano, mas, na avaliação de um especialista no "NYT", "o nível de discurso nessa coisa é selvagem". Essa coisa é a campanha de 2004.
Parte do problema, segundo o "Los Angeles Times", foi a liberação da propaganda política para grupos não diretamente ligados aos candidatos.
Foi um deles que atacou, semanas atrás, o histórico militar de John Kerry. E é um deles, só que agora em favor do democrata, que lançou comercial com um veterano da invasão do Iraque -sem a mão direita.
Na inserção, o soldado conta que foi para a guerra por acreditar em George W. Bush, que dizia que Saddam tinha armas de destruição em massa.
Da parte do presidente republicano, não faltam exemplos de jogo igualmente pesado. Um comercial recém-lançado traz imagens de Osama bin Laden e dos terroristas da Rússia, para perguntar no fim:
- Essa gente quer nos matar. Você confiaria em Kerry contra esses assassinos fanáticos?
 
Em São Paulo, neste princípio de campanha para o segundo turno, o equivalente de Osama bin Laden, para a propaganda negativa de petistas e tucanos, é o ex-prefeito Celso Pitta.
Está no ar desde o sábado, na televisão e no rádio, um comercial de Marta Suplicy com o seguinte texto, em locução:
- Gilberto Kassab era o braço direito de Pitta, o poderoso secretário de Planejamento. Que agora é o vice de Serra.
E está no ar, num comercial em forma de videoclipe da campanha de José Serra:
- O padrinho do Pitta tá com a Marta. Quem fez o Fura-Fila do Pitta, também. Um assessor do Pitta é secretário da Marta.
De outro comercial tucano, que estreou ontem, "Marta gastou R$ 200 milhões com assessores de confiança. Contratados sem concurso".
E por aí vai. Egberto Batista, de Manaus, deve estar rindo.

nytimes.com/Reprodução
GUERRA Comercial pró-Bush (à esq.) pergunta se o eleitor "confiaria em Kerry" contra "esses fanáticos"; inserção pró-Kerry traz soldado que perdeu a mão

Globo/Reprodução
CELSO PITTA Os comerciais de Marta Suplicy (à dir.) e José Serra se acusam mutuamente por vínculos com integrantes da equipe do ex-prefeito

Metida etc.
Larry Rohter, do "New York Times", escreveu ontem sobre as eleições paulistanas.
Sob um título distanciado, "Partido de líder brasileiro mostra ganhos em toda parte, exceto onde mais conta", relata as acusações de intervenção de Lula, a denúncia de FHC de "risco" para a democracia -e encerra com uma série de adjetivos para Marta, tirados da "imprensa":
- Metida, vaidosa, arrogante, dominadora, fria, distante e dada a explosões de raiva.

Surra
O "NYT" apoiou o democrata John Kerry para presidente, ontem. Mas a revista on-line Slate notou que três quartos do editorial foram dedicados a "surrar" George W. Bush -e só o restante a elogiar o democrata.

Messiânico
De outro lado, a "New Yorker" e a revista dominical do "NYT" deram perfis de Bush com o mesmo viés, o de um político "messiânico", até fanático.


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