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TODA MÍDIA
Selvagem
NELSON DE SÁ
Egberto Batista, o "pai"
da propaganda negativa no
Brasil, continua em ação. Segundo o jornal "A Crítica" de ontem, o marqueteiro atua no segundo turno em seu exílio interno, na Amazônia.
Mas a propaganda negativa
está viva como nunca por aqui,
agora com novos e famosos
marqueteiros. Se não chega aos
extremos de 15 anos atrás, na
histórica campanha collorida,
está disseminada.
Antes, aos Estados Unidos,
onde tudo começou.
"The New York Times" e "Los
Angeles Times" destacaram ontem reportagens sobre a publicidade "de ataque", que na atual
campanha entrou num "novo e
amargo território".
Os dois jornais lembram que,
em sua versão moderna, a propaganda negativa tem o seu
marco na campanha de 1964,
com um comercial democrata
que mostrava uma menina brincando com uma margarida
-ao fundo, um cogumelo de
explosão atômica.
Entrou para a história como o
"comercial margarida".
Não chegam a tanto as inserções deste ano, mas, na avaliação de um especialista no
"NYT", "o nível de discurso nessa coisa é selvagem". Essa coisa é
a campanha de 2004.
Parte do problema, segundo o
"Los Angeles Times", foi a liberação da propaganda política
para grupos não diretamente ligados aos candidatos.
Foi um deles que atacou, semanas atrás, o histórico militar
de John Kerry. E é um deles, só
que agora em favor do democrata, que lançou comercial com
um veterano da invasão do Iraque -sem a mão direita.
Na inserção, o soldado conta
que foi para a guerra por acreditar em George W. Bush, que dizia que Saddam tinha armas de
destruição em massa.
Da parte do presidente republicano, não faltam exemplos de
jogo igualmente pesado. Um comercial recém-lançado traz
imagens de Osama bin Laden e
dos terroristas da Rússia, para
perguntar no fim:
- Essa gente quer nos matar.
Você confiaria em Kerry contra
esses assassinos fanáticos?
Em São Paulo, neste princípio
de campanha para o segundo
turno, o equivalente de Osama
bin Laden, para a propaganda
negativa de petistas e tucanos, é
o ex-prefeito Celso Pitta.
Está no ar desde o sábado, na
televisão e no rádio, um comercial de Marta Suplicy com o seguinte texto, em locução:
- Gilberto Kassab era o braço
direito de Pitta, o poderoso secretário de Planejamento. Que
agora é o vice de Serra.
E está no ar, num comercial
em forma de videoclipe da campanha de José Serra:
- O padrinho do Pitta tá com
a Marta. Quem fez o Fura-Fila
do Pitta, também. Um assessor
do Pitta é secretário da Marta.
De outro comercial tucano,
que estreou ontem, "Marta gastou R$ 200 milhões com assessores de confiança. Contratados
sem concurso".
E por aí vai. Egberto Batista, de
Manaus, deve estar rindo.
nytimes.com/Reprodução
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GUERRA Comercial pró-Bush (à esq.) pergunta se
o eleitor "confiaria em Kerry" contra "esses fanáticos"; inserção pró-Kerry traz soldado que perdeu a mão
Globo/Reprodução
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CELSO PITTA Os comerciais de Marta Suplicy (à dir.) e José Serra se acusam mutuamente por vínculos com integrantes da equipe do ex-prefeito
Metida etc.
Larry Rohter, do "New York
Times", escreveu ontem sobre
as eleições paulistanas.
Sob um título distanciado,
"Partido de líder brasileiro mostra ganhos em toda parte, exceto
onde mais conta", relata as acusações de intervenção de Lula, a
denúncia de FHC de "risco" para a democracia -e encerra
com uma série de adjetivos para
Marta, tirados da "imprensa":
- Metida, vaidosa, arrogante,
dominadora, fria, distante e dada a explosões de raiva.
Surra
O "NYT" apoiou o democrata
John Kerry para presidente, ontem. Mas a revista on-line Slate
notou que três quartos do editorial foram dedicados a "surrar"
George W. Bush -e só o restante a elogiar o democrata.
Messiânico
De outro lado, a "New Yorker"
e a revista dominical do "NYT"
deram perfis de Bush com o
mesmo viés, o de um político
"messiânico", até fanático.
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