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VIAGEM AO EXTERIOR
Lula lança "Fome Zero latino-americano"
Ética é necessária para combater a fome, afirma presidente em Roma
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Na presença de sete chefes de
Estado e de representantes de dezenas de países na comemoração
dos 60 anos da FAO (Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
disse que os governantes têm de
"dar um exemplo de severidade,
de honestidade e de ética" ao tentar arrecadar recursos para programas de combate à fome.
Lula disse que deveriam agir assim para que pudessem "merecer
os olhares de solidariedade de milhões de seres humanos que muitas vezes gostariam de contribuir,
mas têm medo de que o seu dinheiro não cumpra o fim para o
qual foi doado".
O presidente e o PT enfrentam
crise política devido a acusações
de corrupção.
Lula falou isso de improviso, ao
final do discurso no qual lançou a
idéia de uma espécie de Fome Zero latino-americano.
Medalha
"Assumi o compromisso [na recente Conferência Latino-Americana sobre a Fome Crônica, na
Guatemala] de anunciar aqui em
Roma o lançamento da iniciativa
"América Latina Sem Fome'". Seu
discurso foi feito em agradecimento à "Medalha Agrícola", a
mais alta condecoração da FAO,
sediada na capital italiana.
O presidente repetiu o discurso
freqüente em foros internacionais
de que é preciso transformar a fome num "problema político" e de
que ela "é a maior arma de destruição em massa".
Foi muito aplaudido ao encerrar o discurso, quando disse que a
fome "mata inocentes que não
aprenderam nem ainda a gritar
que estão com fome", referindo-se a "crianças" e até "fetos".
No discurso, Lula citou o Fome
Zero como "o principal programa
de política pública" do seu governo. Não mencionou que o projeto
original, desde janeiro de 2004, virou uma marca de fantasia para o
seu conjunto de políticas sociais,
cuja maior medida é o Bolsa-Família.
"Até o final de 2006, queremos
atingir as 11 milhões de famílias
que vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil", disse, em referência ao Bolsa-Família sem citar
o nome do programa.
Lula repetiu que nenhum outro
governo "investiu tanto para
combater os males da fome" e falou de suas tratativas com outros
países para que o planeta tente
atingir uma das chamadas "Metas
do Milênio": "a diminuição da
pobreza no mundo pela metade
até o ano de 2015".
Num momento de reestruturação da FAO, no qual a entidade
cria um departamento de combate à fome, disse que o problema
não era mais de produção de alimentos ou de avanço tecnológico.
Voltou, então, a criticar os gastos dos países ricos com subsídios
agrícolas, que prejudicariam o desenvolvimento de nações pobres.
"Não haverá paz e segurança em
um mundo em que um bilhão de
pessoas não têm o que comer",
afirmou o presidente.
Esquerda italiana
No Palácio Quirinale, Lula almoçou com o presidente da Itália,
Carlo Ciampi. O país tem regime
parlamentarista -Lula não se encontrou com o chefe do governo,
o primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Lula se reuniu anteontem com a
esquerda italiana, adversária de
Berlusconi que deve ganhar as
eleições do primeiro semestre do
ano que vem.
Em declaração à imprensa, Lula
e Ciampi destacaram a imigração
de italianos para o Brasil. Dos
atuais 186 milhões de habitantes
do Brasil, 25 milhões são italianos
ou seus descendentes. "Temos
uma pequena Itália no coração do
Brasil", disse Lula, que seguiu depois para um evento com a maior
entidade empresarial do país
(Confindustria).
No fim da tarde, o presidente
viajou para Moscou, destino final
de sua viagem à Europa, na qual
visitou ainda Portugal e Espanha.
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