São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 2005

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VIAGEM AO EXTERIOR

Lula lança "Fome Zero latino-americano"

Ética é necessária para combater a fome, afirma presidente em Roma

KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Na presença de sete chefes de Estado e de representantes de dezenas de países na comemoração dos 60 anos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os governantes têm de "dar um exemplo de severidade, de honestidade e de ética" ao tentar arrecadar recursos para programas de combate à fome.
Lula disse que deveriam agir assim para que pudessem "merecer os olhares de solidariedade de milhões de seres humanos que muitas vezes gostariam de contribuir, mas têm medo de que o seu dinheiro não cumpra o fim para o qual foi doado".
O presidente e o PT enfrentam crise política devido a acusações de corrupção.
Lula falou isso de improviso, ao final do discurso no qual lançou a idéia de uma espécie de Fome Zero latino-americano.

Medalha
"Assumi o compromisso [na recente Conferência Latino-Americana sobre a Fome Crônica, na Guatemala] de anunciar aqui em Roma o lançamento da iniciativa "América Latina Sem Fome'". Seu discurso foi feito em agradecimento à "Medalha Agrícola", a mais alta condecoração da FAO, sediada na capital italiana.
O presidente repetiu o discurso freqüente em foros internacionais de que é preciso transformar a fome num "problema político" e de que ela "é a maior arma de destruição em massa".
Foi muito aplaudido ao encerrar o discurso, quando disse que a fome "mata inocentes que não aprenderam nem ainda a gritar que estão com fome", referindo-se a "crianças" e até "fetos".
No discurso, Lula citou o Fome Zero como "o principal programa de política pública" do seu governo. Não mencionou que o projeto original, desde janeiro de 2004, virou uma marca de fantasia para o seu conjunto de políticas sociais, cuja maior medida é o Bolsa-Família.
"Até o final de 2006, queremos atingir as 11 milhões de famílias que vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil", disse, em referência ao Bolsa-Família sem citar o nome do programa.
Lula repetiu que nenhum outro governo "investiu tanto para combater os males da fome" e falou de suas tratativas com outros países para que o planeta tente atingir uma das chamadas "Metas do Milênio": "a diminuição da pobreza no mundo pela metade até o ano de 2015".
Num momento de reestruturação da FAO, no qual a entidade cria um departamento de combate à fome, disse que o problema não era mais de produção de alimentos ou de avanço tecnológico.
Voltou, então, a criticar os gastos dos países ricos com subsídios agrícolas, que prejudicariam o desenvolvimento de nações pobres. "Não haverá paz e segurança em um mundo em que um bilhão de pessoas não têm o que comer", afirmou o presidente.

Esquerda italiana
No Palácio Quirinale, Lula almoçou com o presidente da Itália, Carlo Ciampi. O país tem regime parlamentarista -Lula não se encontrou com o chefe do governo, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Lula se reuniu anteontem com a esquerda italiana, adversária de Berlusconi que deve ganhar as eleições do primeiro semestre do ano que vem.
Em declaração à imprensa, Lula e Ciampi destacaram a imigração de italianos para o Brasil. Dos atuais 186 milhões de habitantes do Brasil, 25 milhões são italianos ou seus descendentes. "Temos uma pequena Itália no coração do Brasil", disse Lula, que seguiu depois para um evento com a maior entidade empresarial do país (Confindustria).
No fim da tarde, o presidente viajou para Moscou, destino final de sua viagem à Europa, na qual visitou ainda Portugal e Espanha.


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