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Berzoini negou na PF saber da negociação para a compra do dossiê
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento ontem na
sede da Polícia Federal, em
Brasília, o ex-ministro e ex-coordenador da campanha à
reeleição do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, deputado
Ricardo Berzoini (PT), negou
conhecer a negociação feita por
petistas para comprar e tornar
público o conteúdo do dossiê
contra tucanos. Ele disse que só
soube do dossiê após da divulgação do caso na imprensa.
Berzoini também, indiretamente, contradisse versão sustentada por Hamilton Lacerda
para negar que tivesse levado o
dinheiro que seria usado na
compra do dossiê para o ex-agente da PF contratado pelo
PT Gedimar Passos, detido no
hotel Ibis, em São Paulo, com
R$ 1,75 milhão. Lacerda foi flagrado pelas câmeras do hotel
com uma mesma bolsa depois
carregada por Gedimar.
À PF, Lacerda disse que não
havia dinheiro na bolsa, mas
sim panfletos e boletos de doação da campanha nacional. Ao
ser questionado sobre o assunto, Berzoini disse desconhecer
que Lacerda portasse tal material, afirmando que boletos de
contribuição não estavam dentro da atribuição do ex-coordenador da campanha de Aloizio
Mercadante (PT) ao governo de
São Paulo. Berzoini também
afirmou que não sabia da participação de Lacerda no episódio.
O petista Valdebran Padilha,
também detido, disse à PF que
a mesma mala carregada por
Lacerda foi mostrada a ele por
Gedimar repleta de dinheiro.
Para os policias que acompanharam o depoimento, a versão
de Berzoini não convenceu. A
PF não pode falar em contradições em relação a declarações
anteriores do presidente licenciado do PT, pois é a primeira
vez que depõe sobre o caso.
Para a PF, Lacerda trabalha
para proteger Mercadante.
Berzoini atuaria na defesa de
Lula. Ambos negam qualquer
tipo de pagamento, pois, se isso
fosse admitido, seria o sinal para se sentirem obrigados a revelar a origem do dinheiro.
Ainda conforme o depoimento, Berzoini afirmou ter
contratado o petista Jorge Lorenzetti para fazer o trabalho
de análise de risco da campanha de Lula. Disse também que,
em dado momento, Lorenzetti
pediu a ele a indicação de um
jornalista com o qual pudesse
trocar informações.
Consta do depoimento que
Berzoini, então, sugeriu a Lorenzetti que procurasse a assessoria de imprensa da campanha. A troca de informações
seria a busca de uma alternativa para tornar público o dossiê
que envolveria políticos tucanos, principalmente José Serra, então adversário de Mercadante em São Paulo, no escândalo dos sanguessugas.
Berzoini disse aos policiais
que, quando o escândalo se tornou público, Lorenzetti o procurou. Desculpou-se por ter
"extrapolado" a confiança que
lhe fora depositada. Por fim,
negou que a negociação com os
Vedoin envolvesse dinheiro.
"Nem um fato novo foi apresentado que já não fosse de conhecimento da imprensa. Ele
foi transparente e prestou todas as informações à polícia",
disse ontem o advogado de Berzoini, Fernando Tibúrcio Peña.
Por conta do episódio do dossiê, Berzoini foi afastado da
coordenação-geral da campanha de reeleição de Lula e da
presidência do PT.
A aérea de inteligência da PF
recebeu ontem informações
que considera fundamentais
para desvendar o papel dos petistas envolvidos com o caso. O
diretório nacional do PT enviou à PF a identificação dos celulares usados cedidos pelo
partido para Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Gedimar, Freud Godoy e Expedito Veloso.
Apesar de já dispor dos dados
das ligações feitas e recebidas
pelos aparelhos cedidos pelo
partido, a PF não sabia quem
usava os números alvos da quebra do sigilo telefônico.
Anteontem, no programa
Roda Viva, o presidente Lula
assumiu que o destino de Berzoini foi selado pelo dossiê.
"Chamei o presidente do partido lá em casa e falei: Olha, quero saber quem fez essa burrice.
(...) Porque isso é de uma sandice inominável. Ele me disse que
não sabia. Falei: Ricardo, você,
como presidente do partido,
tem obrigação de apresentar
para a sociedade uma resposta.
E ele não fez. Eu o afastei da
coordenação da campanha. (...)
A ordem à PF é que não deixe
pedra sobre pedra."
A PF encontra dificuldades
na busca do responsável -ou
responsáveis- pelo financiamento do dossiê. A maior suspeita para a origem do R 1,1 milhão destinado ao negócio são
bancas de jogo do bicho, que estão sob investigação.
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