São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2007

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Brasil, Índia e África do Sul assinam acordo nuclear

Presidente Lula diz que "países responsáveis" podem fazer tratado sem causar pânico

Apesar da presença da Índia, que possui bomba atômica, líderes prometem trabalhar pelo desarmamento e usar a tecnologia só para fins civis

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A PRETÓRIA (ÁFRICA DO SUL)

Brasil, África do Sul e Índia anunciaram ontem um acordo de cooperação nuclear com fins pacíficos e sob o monitoramento da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). A Índia é uma das mais novas potências nucleares, tendo explodido sua primeira bomba em 1998.
O país asiático tem uma disputa territorial pela região da Caxemira com o vizinho Paquistão, que também tem sua própria bomba. Brasil e África do Sul abdicaram de seus programas nucleares para fins militares nos anos 90.
O anúncio do acordo, sem dar detalhes do que significará na prática, foi feito ontem na segunda reunião de cúpula do fórum Ibsa, em Pretória, capital administrativa sul-africana.
Participaram do fórum, cuja sigla vem das iniciais de Índia, Brasil e África do Sul, os três líderes dos países: Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Thabo Mbeki (África do Sul) e Manmohan Singh (Índia).
"Os líderes concordaram em explorar abordagens de cooperação no uso pacífico de energia nuclear sob as salvaguardas apropriadas da AIEA", disse o comunicado conjunto.
No que pode ser interpretado como uma defesa do programa nuclear do Irã, o texto continua: "Os líderes também reiteraram que quaisquer decisões multilaterais relacionadas ao ciclo nuclear não devem retirar o direito inalienável de Estados perseguirem energia nuclear para propósitos pacíficos". O Irã diz que busca energia nuclear para fins pacíficos, mas há a suspeita de que esteja desenvolvendo uma bomba.
Apesar da presença da Índia, os três líderes prometem trabalhar pelo desarmamento nuclear e pelo uso da tecnologia apenas para fins civis. "Os líderes enfatizaram o comprometimento com o objetivo da completa eliminação das armas nucleares e expressaram preocupação com a falta de progresso na realização desta meta."
O presidente Lula, questionado posteriormente sobre a aparente contradição, defendeu o uso nuclear exclusivamente para fins pacíficos.
"Trabalhamos a questão nuclear com interesse de cumprir todos os protocolos que existem no Conselho de Segurança das Nações Unidas, com um forte apelo para utilização com finalidade científica. Ao mesmo tempo, vamos mostrar ao mundo que países responsáveis, sérios, podem fazer acordos nucleares sem causar pânico a quem quer que seja", afirmou o presidente brasileiro.
A seu lado estava Mbeki e, ao lado dele, o primeiro-ministro da Índia -que apenas disse que não há condições para eliminar suas ogivas hoje.
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, não disse quando o acordo entrará em prática, nem como isso ocorrerá. Ele afirmou que já há acordos semelhantes com outras potências nucleares, como a França.
O ministro disse que a Índia está disposta a se desarmar dentro de um contexto de desarmamento global. "Outros países explodiram mais bombas há mais tempo e têm um arsenal tremendo. Eu não vou justificar a política da Índia, mas o melhor remédio é o desarmamento. E tem que começar pelos mais armados."


Por falta de opções de vôos comerciais entre o Congo e a África do Sul, os jornalistas Fábio Zanini e Eduardo Knapp viajaram em avião da Força Aérea Brasileira.


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