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Lina acha agenda que teria data de reunião com Dilma
Registro à mão de encontro no Planalto aparece na página de 9 de outubro de 2008
Ex-secretária da Receita diz
que ministra convidou-a para reunião e pediu para agilizar apuração sobre Sarney; Dilma rechaça pedido e encontro
LEONARDO SOUZA
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ex-secretária da Receita
Federal Lina Vieira afirma ter
encontrado a agenda pessoal
em que está registrada a reunião a sós com Dilma Rousseff,
na qual a ministra da Casa Civil
teria pedido para "agilizar" a investigação contra empresas da
família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Na primeira linha da página
do dia 9 de outubro de 2008,
existe uma anotação à mão sobre o tal compromisso. Segundo Lina, o encontro ocorreu na
parte da manhã, por volta das
11h, no Palácio do Planalto.
O Gabinete de Segurança
Institucional confirma que há
registros da ida de Lina ao edifício naquele dia. Dilma, no entanto, diz que nunca teve uma
audiência reservada com a então secretária da Receita.
O documento reforça o relato
que Lina fez à Folha no começo de agosto deste ano. Na ocasião, a ex-secretária afirmou
que Dilma havia solicitado o
encontro reservado no Planalto para encaminhar o que Lina
interpretou como uma ordem
para encerrar logo a auditoria
sobre os negócios de Sarney,
aliado histórico do governo Lula e hoje presidente do Senado
-ordem que a ex-secretária
afirma não ter acatado.
Dilma negou não só o pedido
como o encontro. A Folha procurou a assessoria de imprensa
da ministra, mas não obteve
resposta.Tanto ela quanto Lula
desafiaram Lina a apresentar a
agenda. "Qual a razão que essa
secretária tinha para dizer que
conversou com a Dilma e não
mostrar a agenda?", disse o
presidente, em agosto.
Na entrevista à Folha, em
que detalhou a reunião, descrevendo até a roupa da ministra,
Lina ressaltara que tinha feito
registro do encontro em sua
agenda pessoal. No entanto, o
documento estava entre seus
pertences embalados para a
mudança de volta a Natal (RN).
Lina havia sido demitida em
meados de julho do principal
cargo do fisco, depois de apenas 11 meses no posto.
Entre as razões para sua exoneração, estava o incômodo no
Palácio do Planalto causado
por pressões de grandes empresas que haviam sido fiscalizadas pela Receita, num projeto adotado por Lina de priorizar os maiores contribuintes.
Em meados de agosto, Lina
prestou depoimento no Senado. Confirmou o relato feito à
Folha e deu mais detalhes da
reunião com Dilma. Mencionou, por exemplo, o nome do
motorista que havia lhe levado
ao Planalto. Disse que considerava o pedido da ministra "descabido" -a Casa Civil não tem
nenhuma ingerência formal
sobre a Receita, subordinada
ao Ministério da Fazenda.
Mais uma vez, porém, a ex-secretária não apresentou a
agenda com o compromisso,
fato comemorado por Lula,
Dilma e pela base de apoio à
candidatura da ministra à Presidência da República em 2010.
Numa tentativa de desmentir a ex-secretária da Receita,
senadores governistas divulgaram datas em que Lina esteve
no Palácio do Planalto. Um dos
registros é justamente o da manhã do dia 9 de outubro.
Em nenhum momento, a ex-secretária havia dito em público o dia exato do encontro. Ela
sempre contou somente que a
reunião havia sido no final do
ano. Como não havia nenhum
registro de visita da ex-secretária em novembro e dezembro,
o governo acreditou ter desmascarado Lina.
A oposição no Congresso
chegou a solicitar as imagens
do circuito interno de TV do
palácio, mas o Planalto informou que só guardava essas
imagens por 30 dias. Depois
disso, as fitas seriam apagadas.
Dias após o depoimento no
Senado, segundo a Folha apurou, Lina encontrou a agenda.
Mas ficou com receio do que
fazer com o documento. Afirma ter recebido recados de
pessoas ligadas ao governo para deixar "o assunto morrer".
Em meados de setembro, a
ex-secretária fez uma viagem
de três semanas para a Europa.
Voltou no dia 7, disposta a dar
um "desfecho formal" ao caso.
Não quer mais exposição na
imprensa. Prefere entregar o
documento ao Ministério Público Federal, se convocada.
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