São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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JANIO DE FREITAS

Eles contra eles


Turnê pelo São Francisco serviu para dar indícios mais fortes de um jogo obscuro que reúne Lula, Dilma e Ciro

NA FALTA do que a justificasse de qualquer ponto de vista governamental, a turnê de candidatos, ministros e governadores comandada por Lula no decorrer da semana, pelas redondezas do rio São Francisco, serviu para dar indícios mais fortes de um jogo obscuro que reúne o próprio Lula, Dilma Rousseff e Ciro Gomes na sucessão presidencial.
Nada do que Lula disse até agora sobre Ciro nas eleições faz sentido. Suas referências a tê-lo como candidato ao governo de São Paulo -uma aventura eleitoral pouco promissora e desnecessária para efeitos colaterais como o terceiro turno- estão sustadas em favor de uma simpática tolerância à declarada intenção de Ciro: sair candidato à Presidência. Intenção afirmada também pelo seu PSB, fiel escudeiro de Lula.
Para quem já pratica a decisão firme de fazer Dilma Rousseff sua sucessora, as atenções privilegiantes que Lula concede a Ciro Gomes seriam uma incoerência que, por certo, não ocorre. A hipótese de que na disputa para presidente, sim, Ciro possa ser o útil causador de terceiro turno, à primeira vista oferece uma explicação para a atitude de Lula. Mas, em tal caso, será necessário aceitar que Lula duvida da sua capacidade de levar Dilma a bater José Serra. O que não combina nem minimamente com o Lula atual, e não só a respeito de uma candidatura buscada no zero, como se para mostrar, ao final, uma força incomparável.
Contra a hipótese de provocação antecipada do terceiro turno há, ainda, um fator incomprovado, mas que se pode pressentir nas pesquisas de até agora: ainda que tire votos de Serra, Ciro os tiraria muito mais de Dilma. Inclusive por ser também um candidato representativo das teses (exagero demais na palavra?) lulistas.
A esses precedentes junte-se o recente. Lula, para jornalistas, durante a turnê: "Temos seis meses pela frente para definição do quadro eleitoral de 2010. Se a gente não se entender nacionalmente [corta a frase, como se fosse dizer algo a ser calado] tanto que Dilma e Ciro estão sempre juntinhos, olha aí". Ainda vai definir o que já deu tantas vezes como definido, e até fatalmente como vencedor?
Com dois pré-candidatos juntinhos, um de cada lado, ambos como centro político da turnê, Lula fala do seu desejo de ter uma disputa eleitoral plebiscitária para a Presidência. Governo versus oposição: "Seremos nós contra eles. É pão, pão, queijo, queijo".
"Nós", é evidente, realçava Dilma e Ciro. Como? Em que condição? Eles sabem. Não há como crer que nas tantas aparentes incoerências haja sequer uma incoerência de fato. A oposição, porém, não dá sinal de desconfiança alguma. Ela é a incoerência. Já a partir do nome de oposição.


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