São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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Peso das doações das empresas deve cair, diz consultor dos EUA

Estrategista de Obama diz que internet favorece a participação de pessoa física nas campanhas e que modelo deverá chegar ao Brasil

"Só precisa da faísca", afirma Peter Giangreco; "é quase inevitável que alguém se apresente e diga que não vai aceitar doações de empresa"

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Responsável pela estratégia de marketing direto na campanha de Barack Obama à Presidência dos EUA, o cientista político Peter Giangreco ajudou na arrecadação de mais de US$ 400 milhões via internet, principalmente de pessoas físicas.
Em visita ao Brasil, onde participou do seminário "O Efeito Obama", ele disse à Folha que o país precisa mudar o financiamento de campanha.
Para ele, "é quase inevitável" que algum candidato proponha depender menos de empresas.

 

FOLHA - Qual foi a maior mudança que a eleição de Obama trouxe?
PETER GIANGRECO
- Não teríamos tido sucesso se não tivéssemos arrecadado pela internet. Essa foi a mudança fundamental. A cada acontecimento, como debates, a vitória em Estados nas primárias [processo interno nos partidos de escolha do candidato], até ataques feitos por adversários, conseguimos aumentar nossa arrecadação.

FOLHA - O que o sr. acha do sistema de financiamento no Brasil?
GIANGRECO
- Há uma oportunidade no Brasil esperando para alguém aproveitá-la. Só precisa da faísca. Acho que será uma questão geracional, dos jovens.
Acho que é quase inevitável que alguém se apresente e diga que não vai aceitar doações de empresas. Há oito anos ninguém doava pela internet nos EUA. A primeira campanha foi a de John McCain, em 2000, quando concorreu com George W. Bush [pela nomeação como candidato do Partido Republicano]. Obama teve um crescimento exponencial.

FOLHA - No Brasil ainda existe doação oculta (para o partido, que repassa aos candidatos).
GIANGRECO
- Acredito que deveria haver mudança na lei. Mas acho mais fácil o eleitor acreditar no candidato que consegue US$ 25 de 1 milhão de pessoas do que no que recebeu apenas um cheque de US$ 25 milhões.
Brasileiros me contaram que mesmo quem faz campanha nos bairros só o faz pelo dinheiro. Talvez seja uma oportunidade de as pessoas participarem porque querem fazer isso.

FOLHA - Ter candidato carismático como Obama ou Lula não ajuda?
GIANGRECO
- Cada campanha é diferente. De repente, as pessoas estão procurando por uma pessoa com uma mão mais firme. As campanhas que ganham são, geralmente, sobre o futuro.

FOLHA - Com a tecnologia, os candidatos não são mais vigiados?
GIANGRECO
- É um grande desafio. Todo candidato comete erros e eles são capturados. O desafio é ser real, "acreditável". Pelo pouco que sei da política brasileira, as pessoas acham que os políticos não são sinceros. As tecnologias dão oportunidade para os políticos serem um pouco vulneráveis. Não é mais: "Vote em mim, que vou resolver todos os problemas".

FOLHA - Como assim?
GIANGRECO
- Nos EUA, não há obrigatoriedade do voto, mas os estudos mostram que as pessoas não votam porque não sabem o suficiente sobre os candidatos. Ao fornecer informações, você pode fazer com que eles votem. No Brasil, é a questão de voluntariado. Quem sabe com mais informação elas levantem centenas de reais.


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