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Peso das doações das empresas deve cair, diz consultor dos EUA
Estrategista de Obama diz que internet favorece a participação de pessoa física nas campanhas e que modelo deverá chegar ao Brasil
"Só precisa da faísca", afirma Peter Giangreco; "é quase inevitável que alguém se apresente e diga que não vai aceitar doações de empresa"
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Responsável pela estratégia
de marketing direto na campanha de Barack Obama à Presidência dos EUA, o cientista político Peter Giangreco ajudou
na arrecadação de mais de US$
400 milhões via internet, principalmente de pessoas físicas.
Em visita ao Brasil, onde participou do seminário "O Efeito
Obama", ele disse à Folha que
o país precisa mudar o financiamento de campanha.
Para ele, "é quase inevitável"
que algum candidato proponha
depender menos de empresas.
FOLHA - Qual foi a maior mudança
que a eleição de Obama trouxe?
PETER GIANGRECO - Não teríamos
tido sucesso se não tivéssemos
arrecadado pela internet. Essa
foi a mudança fundamental. A
cada acontecimento, como debates, a vitória em Estados nas
primárias [processo interno
nos partidos de escolha do candidato], até ataques feitos por
adversários, conseguimos aumentar nossa arrecadação.
FOLHA - O que o sr. acha do sistema de financiamento no Brasil?
GIANGRECO - Há uma oportunidade no Brasil esperando para
alguém aproveitá-la. Só precisa
da faísca. Acho que será uma
questão geracional, dos jovens.
Acho que é quase inevitável
que alguém se apresente e diga
que não vai aceitar doações de
empresas. Há oito anos ninguém doava pela internet nos
EUA. A primeira campanha foi
a de John McCain, em 2000,
quando concorreu com George
W. Bush [pela nomeação como
candidato do Partido Republicano]. Obama teve um crescimento exponencial.
FOLHA - No Brasil ainda existe doação oculta (para o partido, que repassa aos candidatos).
GIANGRECO - Acredito que deveria haver mudança na lei. Mas
acho mais fácil o eleitor acreditar no candidato que consegue
US$ 25 de 1 milhão de pessoas
do que no que recebeu apenas
um cheque de US$ 25 milhões.
Brasileiros me contaram que
mesmo quem faz campanha
nos bairros só o faz pelo dinheiro. Talvez seja uma oportunidade de as pessoas participarem porque querem fazer isso.
FOLHA - Ter candidato carismático
como Obama ou Lula não ajuda?
GIANGRECO - Cada campanha é
diferente. De repente, as pessoas estão procurando por uma
pessoa com uma mão mais firme. As campanhas que ganham
são, geralmente, sobre o futuro.
FOLHA - Com a tecnologia, os candidatos não são mais vigiados?
GIANGRECO - É um grande desafio. Todo candidato comete erros e eles são capturados. O desafio é ser real, "acreditável".
Pelo pouco que sei da política
brasileira, as pessoas acham
que os políticos não são sinceros. As tecnologias dão oportunidade para os políticos serem
um pouco vulneráveis. Não é
mais: "Vote em mim, que vou
resolver todos os problemas".
FOLHA - Como assim?
GIANGRECO - Nos EUA, não há
obrigatoriedade do voto, mas
os estudos mostram que as pessoas não votam porque não sabem o suficiente sobre os candidatos. Ao fornecer informações, você pode fazer com que
eles votem. No Brasil, é a questão de voluntariado. Quem sabe
com mais informação elas levantem centenas de reais.
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