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ENTREVISTA DA 2ª
Preocupação do banco é com possível instabilidade econômica
HSBC afirma que manterá os investimentos no Brasil
Luciana Cavalcanti/Folha Imagem
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Keith Whitson, principal executivo do HSBC, para quem banco mantém aposta na América Latina |
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Parte do sucesso mundial do
HSBC é explicada pela capacidade
do banco de resistir a dificuldades, segundo sir Keith Whitson,
principal executivo (CEO) da instituição no mundo.
Isso explicaria, por exemplo, a
atitude do banco que, ao contrário de outras instituições, continua apostando na América Latina
em plena crise.
Em entrevista exclusiva à Folha,
feita em um jatinho fretado durante um vôo entre São Paulo e
Brasília, Whitson, 59, provou que,
assim como o banco que lidera e
onde trabalha desde os 18 anos,
ele também não se abate facilmente. Na metade do trajeto, uma
forte turbulência, seguida de uma
descompressão da cabine, que
exigiu o uso de máscaras de oxigênio, assustou bastante.
Superado o susto, Michael Geoghegan, presidente do HSBC no
Brasil, chegou a sugerir que a entrevista fosse suspensa. Whitson
fez questão de prosseguir.
Bem-humorado, Whitson
-que foi nomeado sir, título de
nobreza britânico, em junho passado- afirmou que o que mais
preocupa o HSBC em relação ao
Brasil é a possibilidade de instabilidade econômica. Mas afirmou
que, apesar da crise recente, "o
Brasil é um caso completamente
diferente da Argentina".
Whitson e Geoghegan, que
acompanhava a entrevista, demonstraram grande curiosidade
em relação aos possíveis nomes
dos ocupantes dos cargos de ministro da Fazenda e de presidente
do Banco Central no governo Lula.
Os dois e Hélio Duarte, diretor-executivo de relações institucionais do HSBC, seguiam para Brasília, onde teriam audiência com o
ministro Pedro Malan (Fazenda).
Antes da rápida visita -um dia
e meio- ao Brasil, Whitson havia
passado pela Argentina e depois
seguiria para o México, onde o
HSBC está comprando o grupo financeiro Bital.
A seguir os principais trechos da
entrevista.
Folha - Os mercados estão em crise, os lucros são menores e os preços das ações vêm caindo. Quais
são as perspectivas para o setor
bancário nesse contexto?
Keith Whitson - Nós vínhamos
dizendo ao longo dos últimos
dois anos que víamos pela frente
tempos de desafio e que isso afetaria o sistema bancário. Nós começamos a falar sobre isso quando
anunciamos os resultados do
banco em 2000. Naquela época, as
pessoas se surpreenderam com
nossas preocupações, mas, no fim
das contas, ficou provado que estávamos certos. Nós adotamos,
então, uma posição mais conservadora. Embora o preço das nossas ações tenha se depreciado, sofremos menos que nossos concorrentes. E nossos resultados
têm sido relativamente bons se
considerarmos o contexto de circunstâncias difíceis.
Folha - Muitas instituições internacionais têm saído ou diminuído
sua exposição na América Latina,
recentemente, devido à crise que
afeta a região. A estratégia do
HSBC parece ser diferente. Vocês
continuam na Argentina e estão inclusive comprando um banco no
México...
Whitson - Certo. Nós só começamos a olhar para a América Latina
seriamente há sete anos. Acabamos comprando o Bamerindus,
no Brasil. Fizemos aquisições na
Argentina. Olhamos para o México durante anos. Algumas negociações não progrediram lá e agora, finalmente, temos outra oportunidade com o banco Bital. Essa
negociação ainda não terminou,
mas esperamos que esteja concluída até o fim deste ano. Com isso, teremos uma das maiores, se
não a maior, posição nas Américas. É claro que enfrentamos dificuldades na Argentina, que foram
bastante decepcionantes para
nós. Tivemos de provisionar uma
grande quantidade de dinheiro
para manter nossas operações lá.
Folha - No Brasil, apesar da abertura do mercado financeiro, os
bancos nacionais continuam sendo
os mais fortes. Vocês pensam em
aumentar a participação no mercado brasileiro?
Whitson - Acho honestamente
que não podemos olhar apenas
para a quantidade de ativos de
uma instituição. Realmente nos
importamos é com a qualidade do
nosso banco em um país e com a
forma como ele complementa o
nosso grupo. Procuramos comprar bancos que nos permitam
oferecer aos clientes uma qualidade de serviços superior à dos nossos concorrentes, que sejam financeiramente fortes, que tenham liquidez. Portanto nós preferimos ser menores, mas muito
bons em termos de qualidade. Isso é melhor do que ser uma instituição grande e não muito boa.
Por isso estamos bastante contentes em ver como o HSBC está
crescendo no Brasil, estamos começando a ver um crescimento
na nossa base de clientes.
Folha - Mesmo sem fazer mais nenhuma aquisição importante?
Whitson - Nós certamente olhamos para oportunidades de compra o tempo todo, não só no Brasil
mas em todos os países. Acabamos de comprar um grande banco na Turquia, estamos comprando o Bital, no México, investimos
bastante na China. Compramos
uma pequena participação no
Banco de Shangai e também uma
empresa de seguros lá.
Folha - A América Latina, como
um todo, parece estar vivendo uma
mudança de rumo político. Como o
HSBC vê isso?
Whitson - Nós nos sentimos bastante encorajados pelo que vimos,
particularmente no México, onde
a transição foi muito boa. O que
temos visto no Brasil do ponto de
vista político tem sido, até agora,
bastante positivo também. Não
somos políticos, somos banqueiros. Mas é verdade que a política
afeta nosso negócio. Temos visto
o presidente Cardoso [Fernando
Henrique" e seus ministros
apoiando e colaborando com o
futuro governo. Isso nos parece
muito bom. Um lugar onde a
transição política teve resultados
bastante decepcionantes foi a Argentina. Mas há sinais de que o
país está começando a "dobrar a
esquina". Alguns indicadores
econômicos começam a ficar
mais positivos. Mas é um processo difícil.
Folha - O senhor acaba de vir da
Argentina. Como avalia as chances
de um acordo do país com o Fundo
Monetário Internacional?
Whitson - É difícil para mim comentar as negociações da Argentina com o FMI, que estão acontecendo a portas fechadas. Mas espero que, até o fim deste ano, tenhamos algum tipo de anúncio,
seja o de uma prorrogação do
acordo com o Fundo ou, alternativamente, que eles tomem outras
iniciativas na Argentina.
Folha - A crise no Brasil assusta?
Whitson - Sempre disse que considero o Brasil um caso completamente diferente do da Argentina.
Acho que o governo aqui, principalmente o time financeiro, é extremamente competente. Isso
certamente nos traz muita confiança. O país adotou o câmbio
flutuante, a inflação tem sido
mantida sob controle. Infelizmente, alguns observadores costumam ver a América Latina como uma coisa só. Há também especuladores que montam posições de curto prazo e apostam
contra o país.
Folha - Algo preocupa vocês em
relação ao Brasil?
Whitson - Nossa principal preocupação é com uma possível instabilidade econômica. Se você vai
fazer um investimento para o futuro, você vai investir se souber
que as condições para produção,
inflação e taxa de câmbio vão estar estáveis. Se você está confiante
em relação à estabilidade, vai querer investir pensando no longo
prazo. Portanto nosso maior desejo é que o novo governo continue seguindo as políticas conservadoras e sustentáveis que têm sido praticadas.
Folha - Por que a oferta de crédito
na América Latina não aumentou
muito depois da chegada dos bancos estrangeiros?
Whitson - De forma geral, a influência dos bancos estrangeiros
acaba produzindo uma competição muito maior. Geralmente, os
preços caem, os serviços melhoram. E acho que, se você olhar para o Brasil nos últimos anos, todos
os bancos domésticos melhoraram suas operações de forma significativa.
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