São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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Dinheiro pago pela construtora teria sido enviado para os EUA

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público do Estado de São Paulo afirma que tem provas de que uma parte do dinheiro pago pela construtora Mendes Júnior às empresas subcontratadas foi enviada aos Estados Unidos.
A Promotoria identificou uma remessa de US$ 843.233,56 feita em 20 de janeiro de 1998 para a conta de uma empresa chamada Lespan S.A., no Citibank de Nova York (EUA), cujo beneficiário é identificado como "Chanani", correntista do Safra National Bank, para onde o dinheiro foi encaminhado no mesmo dia (veja a reprodução do comprovante da remessa no quadro acima).
A operação também está relacionada em papéis que supostamente fazem a contabilidade do "caixa dois" da construtora Mendes Júnior, segundo Simeão Damasceno de Oliveira confirmou em depoimento.
Na época, ele era coordenador econômico-financeiro da construtora em São Paulo e teria sido o autor da papelada, segundo seu depoimento ao Ministério Público do Estado de São Paulo.
Nas investigações do Ministério Público, Oliveira é a principal testemunha nas investigações sobre os supostos desvios do dinheiro destinado à construção da avenida Água Espraiada e dos supostos pagamentos de propina a autoridades municipais.
A Lespan S.A. é uma casa de câmbio estabelecida no Uruguai, que tem atividades na Argentina e foi investigada pelo Congresso norte-americano sob a acusação de estar envolvida em operações de lavagem de dinheiro.
A Folha depositou US$ 10 na conta de "Chanani" no Safra National Bank e verificou que ela realmente existe e continua ativa. O banco não quis dar detalhes sobre o titular da conta.
Para o promotor Silvio Marques, a operação comprovaria que, do dinheiro supostamente desviado da obra da avenida Água Espraiada, uma parte foi remetida ao exterior por meio de "cabo" -operação em que o dinheiro não é transportado fisicamente, mas por transações virtuais.
Ele pediu à Justiça a expedição de carta rogatória aos Estados Unidos, para que a Justiça norte-americana faça o rastreamento do dinheiro e verifique quem são seus destinatários finais.
De acordo com o depoimento de Oliveira, a remessa referente ao documento da Lespan S.A. seria destinada a Maluf. O ex-prefeito também seria o destinatário de remessas feitas ao exterior por meio de contas CC-5 (de não-residentes) e de pagamentos feitos no Brasil em papel-moeda.
A Promotoria tenta estabelecer um vínculo entre o dinheiro supostamente desviado no orçamento da construção da avenida Água Espraiada e as contas que Maluf e seus familiares mantêm em Jersey, paraíso fiscal no canal da Mancha, com US$ 200 milhões, conforme a Folha revelou em 2001. Maluf sempre negou que ele ou qualquer um de seus familiares tenham tido contas em Jersey, na Suíça ou quem qualquer outro lugar no exterior: "Já desmenti mil vezes. Vou desmentir 2.000 vezes, 10 mil vezes, porque não tenho contas. Não tenho nenhuma conta fora do Brasil", declarou Maluf em 22 de agosto.


Colaborou SÉRGIO DÁVILA, de Nova York


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