São Paulo, quinta-feira, 18 de novembro de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Laudo do perito diz que a voz que pede R$ 4 mi a emissários de Carlinhos Cachoeira é do deputado do PMDB

Câmara prepara cassação de André Luiz

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado federal André Luiz (RJ), afastado anteontem do PMDB, sofrerá na semana que vem abertura de processo de cassação de seu mandato.
A decisão foi anunciada pela relatora da comissão da Câmara que o investiga, Iriny Lopes (PT-ES), após receber resultado da perícia nas gravações que mostrariam o deputado tentando extorquir R$ 4 milhões do empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
O laudo do perito Ricardo Molina afirma que é de André Luiz a voz na gravação. Em troca do dinheiro, o deputado prometia trabalhar para amenizar as acusações contra o empresário no relatório final de uma CPI da Assembléia Legislativa do Rio que investigou irregularidades na Loterj.
"A conclusão é que, acima de qualquer dúvida razoável, essa é a voz do deputado André Luiz", disse Molina, que comparou as gravações -transcritas em parte pela revista "Veja"- com discursos do deputado.
Segundo Molina, apesar do som alto de uma TV, o trabalho de comparação foi facilitado pelas características da voz do deputado, "que se diferenciam da média", e pelos supostos erros de português cometidos por ele, que "confunde certas palavras e inverte algumas letras", segundo o perito, que foi ontem à Câmara.
O advogado do deputado, Michel Saliba, afirmou que André Luiz mais uma vez não falará com a imprensa.
Saliba disse que até ontem a renúncia não era cogitada, mas que a defesa vai trabalhar com todas as hipóteses do Regimento da Câmara. O advogado afirmou ainda que só se pronunciará sobre o caso após ter conhecimento oficial.
Segundo a relatora da comissão de sindicância, não há dúvida de que o deputado quebrou o decoro parlamentar, o que motivaria a cassação. "O laudo confirma as gravíssimas denúncias e facilita a apresentação do meu parecer. Todos os indícios apontam para a quebra do decoro", disse Iriny.
A Câmara não analisa, por enquanto, as gravações em que uma pessoa que seria o deputado se vangloria de tiroteios e assassinatos dos quais teria participado. Essa nova parte das gravações será requisitada à revista "Veja".
A deputada apresentará seu parecer na próxima terça. Na quarta, será enviado à presidência da Câmara, que deve determinar a abertura do processo de cassação no Conselho de Ética da Casa. Se o conselho concluir pela cassação, ela só ocorre com o apoio de pelo menos 257 dos 513 deputados, em votação secreta no plenário.
Há, porém, um cenário alternativo que tem se revelado mais comum em casos semelhantes. O deputado pode renunciar antes da instalação do processo no Conselho de Ética. Isso tem o objetivo de evitar a inelegibilidade resultante da cassação, que impediria André Luiz de se candidatar novamente até janeiro de 2015.

Comissões
Ontem, o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), assinou ato criando duas comissões de sindicância para investigar acusações contra deputados federais.
A primeira vai apurar suspeitas de que parlamentares praticaram extorsão contra empresários investigados pela CPI dos Combustíveis. A segunda vai averiguar acusações que constam de reportagem do "Estado de S.Paulo" de 14 de agosto, que diz que deputados e senadores teriam usado dados da CPI do Banestado para chantagear empresas que fizeram remessas para o exterior.


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