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INVESTIGAÇÃO
Laudo do perito diz que a voz que pede R$ 4 mi a emissários de Carlinhos Cachoeira é do deputado do PMDB
Câmara prepara cassação de André Luiz
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado federal André Luiz
(RJ), afastado anteontem do
PMDB, sofrerá na semana que
vem abertura de processo de cassação de seu mandato.
A decisão foi anunciada pela relatora da comissão da Câmara
que o investiga, Iriny Lopes (PT-ES), após receber resultado da perícia nas gravações que mostrariam o deputado tentando extorquir R$ 4 milhões do empresário
de jogos Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira.
O laudo do perito Ricardo Molina afirma que é de André Luiz a
voz na gravação. Em troca do dinheiro, o deputado prometia trabalhar para amenizar as acusações contra o empresário no relatório final de uma CPI da Assembléia Legislativa do Rio que investigou irregularidades na Loterj.
"A conclusão é que, acima de
qualquer dúvida razoável, essa é a
voz do deputado André Luiz",
disse Molina, que comparou as
gravações -transcritas em parte
pela revista "Veja"- com discursos do deputado.
Segundo Molina, apesar do som
alto de uma TV, o trabalho de
comparação foi facilitado pelas
características da voz do deputado, "que se diferenciam da média", e pelos supostos erros de
português cometidos por ele, que
"confunde certas palavras e inverte algumas letras", segundo o perito, que foi ontem à Câmara.
O advogado do deputado, Michel Saliba, afirmou que André
Luiz mais uma vez não falará com
a imprensa.
Saliba disse que até ontem a renúncia não era cogitada, mas que
a defesa vai trabalhar com todas
as hipóteses do Regimento da Câmara. O advogado afirmou ainda
que só se pronunciará sobre o caso após ter conhecimento oficial.
Segundo a relatora da comissão
de sindicância, não há dúvida de
que o deputado quebrou o decoro
parlamentar, o que motivaria a
cassação. "O laudo confirma as
gravíssimas denúncias e facilita a
apresentação do meu parecer. Todos os indícios apontam para a
quebra do decoro", disse Iriny.
A Câmara não analisa, por enquanto, as gravações em que uma
pessoa que seria o deputado se
vangloria de tiroteios e assassinatos dos quais teria participado.
Essa nova parte das gravações será requisitada à revista "Veja".
A deputada apresentará seu parecer na próxima terça. Na quarta,
será enviado à presidência da Câmara, que deve determinar a
abertura do processo de cassação
no Conselho de Ética da Casa. Se o
conselho concluir pela cassação,
ela só ocorre com o apoio de pelo
menos 257 dos 513 deputados, em
votação secreta no plenário.
Há, porém, um cenário alternativo que tem se revelado mais comum em casos semelhantes. O
deputado pode renunciar antes
da instalação do processo no
Conselho de Ética. Isso tem o objetivo de evitar a inelegibilidade
resultante da cassação, que impediria André Luiz de se candidatar
novamente até janeiro de 2015.
Comissões
Ontem, o presidente da Câmara
dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), assinou ato criando
duas comissões de sindicância
para investigar acusações contra
deputados federais.
A primeira vai apurar suspeitas
de que parlamentares praticaram
extorsão contra empresários investigados pela CPI dos Combustíveis. A segunda vai averiguar
acusações que constam de reportagem do "Estado de S.Paulo" de
14 de agosto, que diz que deputados e senadores teriam usado dados da CPI do Banestado para
chantagear empresas que fizeram
remessas para o exterior.
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