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HERANÇA MILITAR
Vice diz que tema não preocupa Exército e que está no cargo para resolver os problemas e não para criá-los
Arquivo será aberto na hora certa, diz Alencar
DA ENVIADA ESPECIAL A QUITO
O vice-presidente da República
e ministro da Defesa, José Alencar, disse ontem que, "no momento certo", o governo federal
vai dar condições aos familiares
das vítimas da ditadura militar
(1964-1985) para que conheçam
os arquivos e registros sobre os
acontecimentos da época.
"As famílias têm o direito de conhecer que fim tiveram seus descendentes ou ancestrais, num
momento de um regime de exceção", disse Alencar, rapidamente,
antes da abertura da 6ª Conferência de ministros da Defesa das três
Américas, em Quito (Equador).
Na opinião de Alencar, que assumiu o cargo há apenas dez dias,
"o Exército não tem nenhuma
preocupação com isso [a abertura
de documentos], porque se trata
de um período da história que todo mundo conhece". Ele, porém,
ressalvou que a questão não é
"necessariamente um assunto do
Ministério da Defesa, é uma questão nacional, de governo".
Acrescentou: "Não estamos
aqui para criar crises, estamos
aqui para resolver problemas, especialmente problemas sociais".
Alencar não quis se manifestar
sobre a revisão do valor das indenizações concedidas às vítimas e
às suas famílias por perdas do
passado: "Não conheço os números e, portanto, não posso ficar
contra nem a favor".
O vice tinha encontro marcado
ontem com o presidente do Equador, Lucio Gutierrez. Sua volta ao
Brasil está prevista para hoje, com
saída de Quito às 17h (20h de Brasília), em avião da FAB (Força Aérea Brasileira).
Em entrevista à Folha, publicada no domingo passado, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge
Armando Félix, havia se manifestado contra a divulgação de dados
sob o argumento de que exporiam principalmente os presos e
os perseguidos da ditadura: "Não
tem nada bonito ali". Segundo Félix, "há dossiês que nos preocupam, porque tratam de pessoas
em situações extremamente constrangedoras... Isso não é história,
não vai fazer bem a ninguém. Se
aparecer, só vai fazer mal à reputação das pessoas... Tem gente
que naquela época estava na clandestinidade, tinha outra mulher e
hoje não tem, está com a antiga.
Se isso aparecer, você pode destruir uma família. Tem os companheiros que entregaram, está escrito ali", declarou o general.
Comissão
Anteontem, o advogado Augustino Pedro Veit, 48, que vai assumir a presidência da Comissão
Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos na vaga deixada por
João Luiz Duboc Pinaud, 74, afirmou que o fato de as vidas privadas de perseguidos e torturados
virem a ser expostas não justifica
a tese da não abertura dos documentos da ditadura militar. Esse
tipo de papel, segundo ele, deve
ser incinerado assim que aberto.
"Eu acho, sim, que as vidas deles
[perseguidos e torturados] estão
documentadas. Isso, porém, não
significa que os arquivos devam
permanecer fechados", afirma
Veit, que deve ter a sua designação para o cargo publicada ainda
nesta semana no "Diário Oficial"
da União.
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