São Paulo, quinta-feira, 18 de novembro de 2004

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HERANÇA MILITAR

Vice diz que tema não preocupa Exército e que está no cargo para resolver os problemas e não para criá-los

Arquivo será aberto na hora certa, diz Alencar

DA ENVIADA ESPECIAL A QUITO

O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, disse ontem que, "no momento certo", o governo federal vai dar condições aos familiares das vítimas da ditadura militar (1964-1985) para que conheçam os arquivos e registros sobre os acontecimentos da época.
"As famílias têm o direito de conhecer que fim tiveram seus descendentes ou ancestrais, num momento de um regime de exceção", disse Alencar, rapidamente, antes da abertura da 6ª Conferência de ministros da Defesa das três Américas, em Quito (Equador).
Na opinião de Alencar, que assumiu o cargo há apenas dez dias, "o Exército não tem nenhuma preocupação com isso [a abertura de documentos], porque se trata de um período da história que todo mundo conhece". Ele, porém, ressalvou que a questão não é "necessariamente um assunto do Ministério da Defesa, é uma questão nacional, de governo".
Acrescentou: "Não estamos aqui para criar crises, estamos aqui para resolver problemas, especialmente problemas sociais".
Alencar não quis se manifestar sobre a revisão do valor das indenizações concedidas às vítimas e às suas famílias por perdas do passado: "Não conheço os números e, portanto, não posso ficar contra nem a favor".
O vice tinha encontro marcado ontem com o presidente do Equador, Lucio Gutierrez. Sua volta ao Brasil está prevista para hoje, com saída de Quito às 17h (20h de Brasília), em avião da FAB (Força Aérea Brasileira).
Em entrevista à Folha, publicada no domingo passado, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, havia se manifestado contra a divulgação de dados sob o argumento de que exporiam principalmente os presos e os perseguidos da ditadura: "Não tem nada bonito ali". Segundo Félix, "há dossiês que nos preocupam, porque tratam de pessoas em situações extremamente constrangedoras... Isso não é história, não vai fazer bem a ninguém. Se aparecer, só vai fazer mal à reputação das pessoas... Tem gente que naquela época estava na clandestinidade, tinha outra mulher e hoje não tem, está com a antiga. Se isso aparecer, você pode destruir uma família. Tem os companheiros que entregaram, está escrito ali", declarou o general.

Comissão
Anteontem, o advogado Augustino Pedro Veit, 48, que vai assumir a presidência da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos na vaga deixada por João Luiz Duboc Pinaud, 74, afirmou que o fato de as vidas privadas de perseguidos e torturados virem a ser expostas não justifica a tese da não abertura dos documentos da ditadura militar. Esse tipo de papel, segundo ele, deve ser incinerado assim que aberto.
"Eu acho, sim, que as vidas deles [perseguidos e torturados] estão documentadas. Isso, porém, não significa que os arquivos devam permanecer fechados", afirma Veit, que deve ter a sua designação para o cargo publicada ainda nesta semana no "Diário Oficial" da União.


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