São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CASO CELSO DANIEL

Suspeito de mandar matar o ex-prefeito de Santo André se declara "vítima" no caso e diz que "Sombra" nunca foi seu apelido

Gomes da Silva é questionado por depósitos

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O empresário Sérgio Gomes da Silva, considerado pelo Ministério Público como mandante da morte do prefeito Celso Daniel (Santo André), não conseguiu explicar à CPI dos Bingos sua movimentação bancária entre 97 e 99, em que aparecem depósitos e saques para várias pessoas envolvidas com a prefeitura e empresas de lixo e transporte.
Aos senadores, Gomes da Silva também se disse "vítima" no caso e considerou que a morte do prefeito ocorreu porque eles estavam "na hora errada, no lugar errado". O empresário estava com Celso Daniel, em um carro blindado, quando ele foi seqüestrado, antes de ser morto, em janeiro de 2002.
"Acho que nós fomos atropelados por aquela quadrilha. Estávamos passando na hora errada, no lugar errado", disse Gomes da Silva. O empresário, conhecido no caso como "Sombra", é acusado de envolvimento em suposto esquema de propina na prefeitura para contribuição de campanhas políticas do PT. Quebra do sigilo bancário dele em poder da CPI mostrou vários cheques pagos por ele -num valor total de R$ 182,2 mil- a funcionários da prefeitura e pessoas ligadas a empresas de lixo e transporte.
Ontem, ele alegou que podem ser "empréstimos". "Posso ter emprestado [esse dinheiro]. Acho normal em relação de amizade. Se as pessoas precisam, pedem", disse. "Pois eu estou atrás de uma pessoa assim", ironizou o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), relator da CPI.
Também há, em 1997, quatro depósitos na conta de Gomes da Silva feitos por Luiz Alberto Gabrilli, dono de empresa de ônibus em Santo André. A família Gabrilli denunciou a suposta existência de um esquema de propina, dizendo que cada empresa contribuía com cerca de R$ 550 por veículo. Para os senadores, o empresário disse que se tratava de pagamento por serviço de segurança prestado por ele a empresas de Ronan Maria Pinto, também acusado de participar do esquema e ex-sócio de Gomes da Silva.
"Eu recebi por serviços prestados ao Ronan, com quem combinei de emitir nota fiscal por grupo de depósitos que eu recebia", afirmou ele, negando que soubesse do esquema de propina ou que tivesse algum tipo de relação comercial com os Gabrilli.
Depois de os senadores insistirem para que ele explicasse as movimentações, o senador Magno Malta (PL-ES) ameaçou: "O senhor já mentiu tanto que poderia até ser preso aqui".
Gomes da Silva disse que trabalhou na prefeitura apenas entre 1989 e 1992 e atualmente não consegue nem dar aulas -afirmou ser pedagogo.

Apelido
Logo no início do depoimento, Gomes da Silva fez questão de explicar que é conhecido pelo apelido de "Chefe", inclusive usado por Celso Daniel para se referir a ele. Segundo o empresário, o apelido "Sombra" só surgiu após a morte do prefeito. "Passo a ser chamado de "Sombra" a partir dos depoimentos do Ministério Público de Santo André. Esse nome é sugestivo. É quase uma encomenda", afirmou. Depois, criticou o Ministério Público, afirmando que não teve oportunidade de se defender.
Gomes da Silva entrou no STF (Supremo Tribunal Federal) com habeas corpus pedindo liminar para não prestar depoimento ontem, mas o ministro Marco Aurélio de Mello negou.
O depoimento, o terceiro do dia na CPI, começou por volta das 20h e até o fechamento desta edição não havia terminado.


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