São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 2008

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Crítica à PF é "reação do crime organizado", afirma delegado

Carlos Eduardo Pellegrini diz que instituição é alvo de criminosos infiltrados no Estado

Presidente do sindicato dos delegados da PF paulista, Amaury Portugal diz que o crime organizado conseguiu desestabilizar os trabalhos


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado da Polícia Federal Carlos Eduardo Pellegrini Magro, 32, que participou da Operação Satiagraha, considerou ontem as críticas à investigação "uma reação do crime organizado". O delegado atuou por um mês na fase final da Satiagraha, que levou à prisão o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito paulistano Celso Pitta.
"Estamos sofrendo uma reação do crime organizado. A PF começou a se estruturar, a se capacitar. E aí começa a ser atacada. [A PF] verifica a infiltração do crime organizado em determinados Poderes. Por causa disso, estamos sofrendo uma reação. Mas nós estamos unidos", disse Pellegrini.
Cerca de 40 delegados federais abriram ontem o congresso nacional da categoria em São Paulo. Convidados para a abertura, o ministro Tarso Genro (Justiça) e o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, não compareceram. As ausências irritaram o presidente do sindicato dos delegados da PF paulista, Amaury Portugal.
Ele concorda com Pellegrini. "A crise foi fomentada pelo crime organizado, que tem conseguido desestabilizar os trabalhos. Eles conseguem, esses processos estão todos a passos de tartaruga", disse Portugal.
"O crime organizado se infiltrou em todos os lugares. A PF é um dos alvos disso. Nós, que conhecemos a instituição, sabemos que o que está colocado na imprensa não procede", disse Portugal sobre as suspeitas de que houve grampo ilegal sobre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.
O delegado Joaquim Mesquita, responsável pela área de logística da direção geral da PF, representou Corrêa. Ele disse que "todas as operações" da PF recebem apoio financeiro: "Dinheiro não é problema na PF". Um procedimento do Ministério Público Federal de São Paulo apura se houve obstrução à Satiagraha, conforme narrou o delegado Protógenes Queiroz.
Segundo Mesquita, as críticas à Satiagraha eram "esperadas" pela cúpula da PF e "a instituição sairá fortalecida e melhor do que era no passado".
O delegado Pellegrini participou de um debate com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que, segundo a revista "Veja", teve grampeada uma conversa com Gilmar Mendes. A reportagem levou à queda do diretor da Abin, Paulo Lacerda.
Virando-se para o senador, Pellegrini afirmou: "A segurança pública hoje é órfã de pai e mãe. Vivemos numa época de crise, acadêmica, onde se ensinam aos estudantes de direito que mentir é direito. Causa até arrepio. Do direito ao silêncio caminhou para a mentira. Crise de papéis, crise de identidade, procurador querendo investigar, tribunais querendo legislar, inversão de papéis. Crise de pessoas que fazem sua vida verdadeiro exercício de combate ao crime organizado". Pellegrini é lotado na delegacia de combate a crimes fazendários de São Paulo. "E o direito do cidadão à segurança?", indagou.
Pellegrini foi um dos participantes da reunião ocorrida em 14 de julho na sede da PF paulistana que selou o afastamento de Protógenes da Satiagraha. À imprensa, ele negou que a operação tenha enfrentado falta de apoio: "Não é verdade que não tivemos apoio. Agora, briga por vaidades, pode ser. Eu e a doutora Karina [Souza, delegada que também atua no caso] trouxemos os presos num avião que custou R$ 40 mil a hora. Como poderíamos trazer as pessoas sem esse apoio?", declarou o delegado.


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