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Presidente do TCE girou US$ 2 mi, dizem EUA
Informação foi passada pelo Departamento de Justiça ao Ministério Público de SP; Eduardo Bittencourt nega acusação
Desde janeiro deste ano,
conselheiro do Tribunal de
Contas é investigado por
suposto enriquecimento
ilícito e evasão de divisas
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Departamento de Justiça
dos Estados Unidos informou
ao Ministério Público do Estado de São Paulo que o presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP),
Eduardo Bittencourt Carvalho,
movimentou pelo menos US$ 2
milhões naquele país. A saída
desses valores não foi declarada à Receita Federal.
Segundo o governo norte-americano, Bittencourt movimentou esses recursos no
Lloyds TSB Bank, em Miami, e
no Citibank, de Nova York. A
Folha apurou que essas contas
já foram esvaziadas e os valores
remetidos para outros países,
ainda não identificados.
O salário de conselheiro do
TCE paulista é, em média, de
R$ 21 mil líquidos por mês.
Em sua primeira e única manifestação sobre o assunto, em
janeiro, Bittencourt informou
em nota que as acusações contra ele "são suposições totalmente absurdas e até mesmo
ofensivas", que nasceram de
uma contenda judicial travada
com a ex-mulher. Ontem, advogados dele afirmaram que,
ao final das investigações, ficará provada a inocência do conselheiro vitalício do TCE.
Desde janeiro deste ano,
após reportagem da Folha, Bittencourt é investigado por suposto enriquecimento ilícito,
lavagem e evasão de divisas.
Hoje Bittencourt é alvo de
dois inquéritos. Um civil, que
apura suposto enriquecimento
ilícito e improbidade administrativa (má gestão pública),
presidida pelo procurador-geral de Justiça do Estado de São
Paulo, Fernando Grella. Outro,
criminal, que corre no Superior
Tribunal de Justiça, sob a relatoria da ministra Laurita Vaz.
Os documentos dos EUA foram juntados ao inquérito civil.
Cópias deverão ser remetidas
ao procedimento criminal.
Os advogados de Bittencourt
recorreram à Justiça para tentar impedir o uso dos documentos dos EUA na investigação do procurador-geral.
A defesa alegou que o tratado
Brasil-EUA só prevê cooperação no âmbito penal (não cível). Criticou ainda o fato de a
ajuda internacional ter ocorrido após um pedido de auxílio
direto feito pelo promotor Silvio Marques, o primeiro a investigar o caso, sem passar pela
Justiça brasileira.
Grella foi ao STJ e argumentou que o uso é válido, pois o
Brasil e os EUA ratificaram a
convenção da ONU contra corrupção, de 2003, conhecida como "Convenção de Mérida",
que permite o intercâmbio de
papéis em inquéritos civis e administrativos, desde que ligados a apuração de corrupção.
Na semana passada, foi quebrado o sigilo bancário e fiscal
de Bittencourt.
Responsável pela fiscalização e transparência de contas
públicas, Bittencourt manteve
sociedade com uma empresa
"offshore" sediada num paraíso fiscal do Caribe. Segundo
documentos da Junta Comercial paulista, em 2002, a "offshore" Justinian Investment
Holdings Limited foi sócia do
conselheiro na Agropecuária
Pedra do Sol, fundada por Bittencourt em 1994.
O nome do verdadeiro proprietário da Justinian, aberta
nas Ilhas Virgens Britânicas, é
desconhecido -o sigilo é assegurado pelo paraíso fiscal. A
Justinian e o conselheiro foram sócios de uma fazenda em
Corumbá (MS), adquirida por
R$ 1 milhão. A Procuradoria
apura se a sociedade serviu para eventuais atividades ilícitas.
O representante da Justinian era o hoje ministro do Supremo Tribunal Federal Eros
Grau, que advogou até 2004.
Não constitui ilegalidade ser
representante de offshore.
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