São Paulo, quarta, 18 de novembro de 1998

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INVESTIGAÇÃO
Ministro dará explicações sobre suas conversas grampeadas
Mendonça de Barros deve depor amanhã no Congresso

RAQUEL ULHÔA
da Sucursal de Brasília


O ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, deverá dar amanhã explicações ao Congresso sobre suas conversas telefônicas grampeadas. O depoimento está marcado para as 10h, no plenário do Senado. Trechos das conversas grampeadas sugerem influência no processo de privatização de empresas do Sistema Telebrás.
Estimulada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, a ida do ministro ao Congresso foi solicitada pelo próprio Mendonça de Barros ao presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
"Em face das recentes notícias veiculadas pela imprensa sobre o processo de privatização do Sistema Telebrás, e tendo em vista a gravidade de que se reveste a matéria, venho solicitar a vossa excelência ser convocado por essa Casa Legislativa, para prestar os esclarecimentos que se fizerem necessários", disse Mendonça de Barros em ofício enviado a ACM.
Segundo líderes governistas, o pedido do ministro foi feito com base no parágrafo 1º do artigo 50 da Constituição. Segundo esse dispositivo, ministros de Estado podem tomar a iniciativa de comparecer a qualquer uma das Casas do Congresso "para expor assunto de relevância de seu ministério".
ACM voltou ontem a rejeitar a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o grampo ou o processo de privatização do governo, mas disse que "o Congresso pode tomar outras providências, se o ministro não for convincente".
O presidente do Senado negou que as acusações contra Mendonça de Barros prejudiquem a indicação dele para ocupar o futuro Ministério da Produção, que Fernando Henrique pretende criar no próximo mandato.
"Em princípio, não vejo nada que comprometa a indicação do ministro para qualquer cargo. Mas o juiz disso é o presidente Fernando Henrique", afirmou ACM. Segundo o senador, a nomeação de Mendonça de Barros para o futuro ministério será comprometida "se surgir outra coisa, que seja grave".
ACM afirmou que não vê necessidade de uma CPI, por acreditar que o Ministério Público vai apurar o caso. Mas disse que aceitará a instalação da CPI, se os parlamentares decidirem por esse caminho.
Os líderes dos partidos governistas no Senado esperam que o ministro convença a própria base aliada de que estava desempenhando o seu papel ao estimular o maior número de concorrentes aos leilões de privatização.
"O presidente Fernando Henrique mostrou empenho na vinda dele (do ministro das Comunicações) ao Congresso para acabar com a boataria. O ministro está se colocando à disposição para dar a versão do governo. Estamos preocupados em esclarecer os fatos de forma cabal", disse o líder do governo no Senado, Elcio Alvares (PFL-ES).
ACM disse que o momento não é de crise, apesar das denúncias de grampo telefônico e de chantagem contra o governo com base em um "dossiê Caribe", papéis sem autenticidade. "A papelada de que falavam já está totalmente desmoralizada, e ninguém mais fala nisso. Como também devem deixar de falar no grampo", afirmou.



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