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JUDICIÁRIO
Senador citado por CPI diz que tribunais e Congresso poderiam ter evitado irregularidade em fórum de SP
Estevão culpa fiscais por desvio de verba
DANIEL BRAMATTI
da Sucursal de Brasília
O senador Luiz Estevão
(PMDB-DF), investigado por suposta participação no desvio de
recursos da obra do fórum do Tribunal Regional de Trabalho de
São Paulo, afirma que, "se há responsáveis", eles devem ser encontrados no Executivo, no Judiciário
e no Legislativo, que não interromperam a liberação de verbas
mesmo depois das primeiras suspeitas de superfaturamento.
Desde 1992, a obra consumiu
R$ 231,9 milhões, dos quais R$
169 milhões foram desviados, segundo constatou o TCU (Tribunal de Contas da União).
No período da construção do
fórum, as empresas de Estevão receberam US$ 35 milhões do grupo de Fábio Monteiro de Barros,
dono da construtora Ikal, contratada para a obra. O senador diz
que os recursos "não são necessariamente oriundos do tribunal".
A CPI do Judiciário pediu ao
Ministério Público a abertura de
um inquérito contra o senador
por enriquecimento ilícito, atos
lesivos ao patrimônio público e
falsidade ideológica. Estevão também é alvo de um inquérito civil
em São Paulo. A seguir, os principais trechos de entrevista.
Folha - A CPI concluiu que
houve desvio de R$ 169 milhões
na obra do TRT e que uma parte
foi para suas empresas. O sr.
afirma que os repasses não têm
nada a ver com a obra. Quem é
o responsável pelo desvio?
Luiz Estevão - Os recursos pagos às nossas empresas pelo grupo Monteiro de Barros não são
necessariamente oriundos do tribunal. A CPI e o TCU falam em
desvios e superfaturamento. Se há
responsáveis por isso, é claro que
eles só podem ser encontrados,
em primeiro lugar, no Tribunal
Regional do Trabalho, que contratou a obra.
Em segundo lugar, no Tribunal
Superior do Trabalho, que, durante sete anos, repassou recursos
para que a obra continuasse. Outras instituições poderiam ter evitado esse eventual desvio, como o
TCU, a Comissão de Fiscalização
do Congresso e a Comissão de
Orçamento do Congresso, que há
muito tempo deveriam ter interrompido o fluxo de recursos se a
obra tinha irregularidade.
E o governo federal, que todos
os anos aprovava créditos suplementares para que a obra continuasse. Certamente não posso ser
o responsável por isso, já que durante esse período não era de nenhum desses órgãos envolvidos.
Folha - O sr. não cita entre os
responsáveis o empresário Fábio Monteiro de Barros, da Ikal?
Estevão - Veja bem, a responsabilidade pela condução da obra
não é da construtora. Se há alguma responsabilidade, é sempre
dos contratantes e dos responsáveis pela alocação de recursos.
Do outro lado, se tiver havido
algum conluio para esse desvio de
recursos, a construtora seria
eventualmente envolvida.
Folha - Se há superfaturamento, não é óbvio que a empresa
beneficiada está envolvida?
Estevão - Sim, mas há duas
questões. Uma é olhar a questão
do lado da execução da obra e do
contratante. Do lado do contratante estão TRT, TST, Comissão
de Orçamento e TCU. Do lado do
contratado, se houve um conluio
para haver superfaturamento daquela obra, é claro que só se faz
com a presença de duas partes.
Folha - Quando o sr. ouviu pela primeira vez denúncias sobre
o superfaturamento da obra?
Estevão - Devo ter tomado conhecimento pela imprensa de
questionamentos sobre a regularidade da obra em 1995 ou 1996.
Folha - O sr. chegou a conversar com Monteiro de Barros?
Estevão -Não, até porque, na
época, eu já estava até certo ponto
afastado do dia-a-dia das empresas, já era deputado distrital e não
tinha condições de fazer um
acompanhamento permanente
das nossas atividades empresariais, que geravam alguma relação
de negócios com o grupo Monteiro de Barros. O assunto não me
dizia respeito.
Folha - Ao saber de denúncias
envolvendo uma pessoa com
quem fazia negócios, o sr. chegou a cogitar a possibilidade de
romper esses negócios?
Estevão - Não que eu chegasse a
aventar a possibilidade de romper
negócios com essa pessoa, até
porque eu teria de aguardar a
apuração para saber se havia ou
não o superfaturamento.
A denúncia existia na Comissão
de Orçamento, mas a comissão
aprovava verbas. Existia no TCU,
que permitiu a continuidade da
obra. Os órgãos responsáveis pela
fiscalização nunca consideraram
as denúncias suficientes para interromper as obras. Não seria eu,
que não dispunha de nenhum
meio de fiscalização, que decidiria
pela procedência ou improcedência das obras.
Folha - Para o sr., uma pessoa
do ramo da construção, não era
evidente que aquela obra estava superfaturada?
Estevão - Eu nunca me interessei, nem me cabe, não sou fiscal
de obras públicas ou de construtoras. Não é minha missão. Nunca tive dados, nunca fui lá. Passei
na porta dessa obra uma semana
atrás.
Folha - O sr. afirma que os recursos repassados para suas
empresas não são necessariamente da obra. Segundo a CPI,
os repasses coincidiram com as
liberações feitas pelo Tesouro.
Estevão - Se uma pessoa ou
uma empresa tem uma dívida comigo, ela só pode me pagar no
momento em que recebe dinheiro
de algum lugar. Não nos cabia
perguntar de onde a empresa estava recebendo dinheiro para fazer os pagamentos.
Se você fizer uma analogia entre
os recursos pagos pelo TRT (ao
grupo Monteiro de Barros) e os
recursos pagos por ele a nós, vai
ver que não há nenhuma constância. Houve ano, por exemplo, em
que nós recebemos um valor
equivalente a 3% do que ele teria
recebido do tribunal e houve ano
em que a gente recebeu 65%.
Folha - O sr. confia no empresário Monteiro de Barros?
Estevão - Empresarialmente,
quem tem de confiar não sou eu, é
a minha empresa. E os negócios
que ele fez conosco tiveram uma
conduta regular até que ele teve
aquele problema de bloqueio de
contas, que acabou ensejando
uma inadimplência.
Folha - O sr. acha que ele é responsável pelo desvio?
Estevão - Não faço juízo, não
me cabe. Eu não posso analisar
coisas que não conheço com profundidade e não me cabe conhecer com profundidade.
Folha - Como o sr. avalia sua
situação política hoje?
Estevão - A CPI começou a falar
no meu nome em abril. A primeira visão que os meus adversários
tiveram é que as investigações encontrariam alguma evidência de
ligação minha com a obra do tribunal ou com a figura do juiz (Nicolau dos Santos Neto), que foi o
grande gestor da obra do tribunal.
Após oito meses de investigação, ficou mais que comprovado
que eu não tenho nenhuma relação com a obra nem com o juiz.
Por outro lado, quebraram o sigilo bancário do grupo Monteiro de
Barros e ficou demonstrado que
todos os pagamentos que eles fizeram a nós foram em cheques
nominativos, todos lançados na
nossa contabilidade e todos declarados à Receita. A insinuação
que se fazia é que o grupo Monteiro de Barros poderia ser testa-de-ferro do Grupo OK, o que é totalmente improcedente.
Folha - O que o sr. tem a dizer
sobre a acusação de que mentiu
à CPI ao afirmar que estava desligado do Grupo OK desde 94?
Estevão - Quando prestei depoimento, perguntaram por que
eu me dizia licenciado das empresas se tinha assinado uma escritura de 97 como diretor da empresa.
Eu disse que não só tinha assinado essa escritura como assinava e continuava assinando documentos, intimações, procurações
e contratos em nome da empresa.
Eu estava licenciado do dia-a-dia
administrativo da empresa, não
estava licenciado da posição de
dono da empresa.
Folha - Seu nome apareceu, na
época da CPI do caso PC, como
avalista da "Operação Uruguai",
supostamente armada para beneficiar o ex-presidente Fernando Collor. Como foi a operação?
Estevão - Foi um empréstimo
tomado por intermédio do Cláudio Vieira (assessor de Collor) pelo presidente Collor para financiar os gastos iniciais da campanha dele, do qual eu fui o terceiro
avalista. Na campanha passada,
meus adversários vieram com a
acusação de que o aval seria uma
fraude. Fui ao Ministério Público,
que disse que não havia nenhuma
investigação sobre a questão do
empréstimo. Se achasse que havia
fraude, o Ministério Público teria
aberto uma investigação.
O sr. ainda tem relações com o
ex-presidente Collor?
Estevão - Eu sou amigo do presidente Collor desde 1966. Não fiquei mais amigo dele quando ele
era presidente nem fiquei menos
amigo depois que ele saiu.
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