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GOVERNO
Projeto vai agora à sanção de FHC; procuradores questionarão medida no STF
Senadores ampliam foro
privilegiado para políticos
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado aprovou ontem projeto de lei que garante ao presidente
e a ministros de Estado, governadores, secretários de Estado e prefeitos, mesmo após deixarem os
cargos, o foro privilegiado de julgamento por crimes que tenham
eventualmente cometido no exercício da função pública.
A votação da proposta foi apressada no Senado pela liderança do
governo, com o objetivo de proteger o presidente Fernando Henrique Cardoso de eventuais processos depois que sair do governo.
O projeto, que agora vai à sanção presidencial nos últimos dias
de trabalho de FHC, inclui as
ações de improbidade administrativa -hoje a cargo da Justiça
de primeira instância- entre os
casos que têm de ser julgados em
foro privilegiado. O projeto poderá afetar 4.753 ações judiciais contra autoridades públicas acusadas
de improbidade administrativa
ou investigações preparatórias de
processos desse tipo.
Pela legislação atual, o foro especial se restringe a crimes comuns e de responsabilidade e beneficia apenas as autoridades enquanto estiverem nos cargos.
O presidente da Conamp (Associação Nacional dos Membros do
Ministério Público), Marfan Martins Vieira, disse que a entidade
vai questionar a constitucionalidade do projeto no STF (Supremo
Tribunal Federal). "A proposta é
inconstitucional. Só uma emenda
à Constituição pode criar ou ampliar o foro especial de julgamento. Vamos aguardar a sanção e, no
dia seguinte, entrar com uma
Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade)", afirmou.
Pelo projeto, todas as pessoas
que hoje têm direito a foro criminal especial mantêm esse privilégio após deixar os cargos, se acusadas de praticar crime em decorrência da função.
A competência de julgar presidente e ministros, hoje, é do STF;
de governadores, do STJ (Superior Tribunal de Justiça); de secretários de Estado, dos Tribunais
Federais Regionais; e de prefeitos,
dos Tribunais de Justiça dos Estados. Após a sanção presidencial,
os ex-ocupantes desses cargos
manterão o foro especial.
Em tese, também são beneficiados parlamentares federais e estaduais, magistrados e membros do
Ministério Público.
A senadora Heloísa Helena (PT-AL) apresentou emenda para restringir a presidente e a ministros a
proteção do foro especial após a
cessação da função. A emenda foi
derrotada por 27 votos contra, 15
sim e 1 abstenção. "O foro privilegiado tem de ser exceção. No caso
do presidente, ele se justifica porque a jurisdição do cargo é o país
todo. Ele correria o risco de ficar
respondendo ações da Justiça de
Norte a Sul do país", disse o senador José Eduardo Dutra (PT-SE).
Jefferson Péres (PDT-AM) defendeu a restrição do benefício ao
presidente, que "não pode ficar
exposto à busca de notoriedade"
de promotores e juízes ao deixar o
cargo. Péres estranhou o fato de o
PT "não ter sido mais combativo"
contra o projeto. "Do ponto de
vista ético, deixa a desejar. Estamos votando em causa própria.
Tenho sérias dúvidas sobre a
constitucionalidade dele", disse.
Defesa
Em defesa do projeto, o vice-líder do governo, Romero Jucá
(PSDB-RR), disse que ser julgado
por tribunais superiores é direito
de todo cidadão, já que qualquer
processo iniciado na primeira instância pode chegar até o STF ou o
STJ, por meio de recursos.
"Estamos encurtando o caminho. O julgamento de autoridade
será mais rápido", afirmou.
Jucá retirou o pedido de urgência para votação do projeto da
chamada "Lei da Mordaça"
-que torna crime a divulgação
de informações de processos por
juízes, membros do Ministério
Público e policiais.
Apesar das manifestações contrárias ao projeto, o PT ajudou a
apressar a sua tramitação na Câmara. O texto fora aprovado em
caráter terminativo em comissões
da Câmara, mas um requerimento determinava que ele fosse apreciado pelo plenário. Deputados
petistas retiraram suas assinaturas, derrubando o requerimento.
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